Por Elson de Melo* – A Zona Franca de Manaus mais uma vez na berlinda. A crise econômica e politica que conturba a governabilidade do governo Dilma, acerta em cheio os empregos no Parque Industrial que já ultrapassa vinte mil demissões em 2015.
Para nós que sobrevivemos às inúmeras crises do século passado e no atual, essa gritaria não é mais novidade, no entanto, nos preocupa em muito devido as consequências sociais tanto caracterizado pelos estudiosos da sociologia amazônica.
A Professora Irecê Barbosa em seu livro Chão de Fábrica – Ser Mulher Operária no Polo Industrial de Manaus (editora Valer) – afirma que a solução para a questão do desemprego no Brasil é muito complexa em razão da baixa escolaridade da mão-de-obra e aponta que, a solução está na melhoria da educação básica, além da ampliação e adequação dos cursos profissionalizantes e redirecionamento das instituições publicas e privadas para atender as demandas do mercado.
Por outro lado, a politica continua sobre o domínio das oligarquias conformistas que ocupam o aparelho de Estado como meio de barganha para beneficio próprio em detrimento das politicas publicas relevantes para o fortalecimento da economia local e a melhoria da qualidade de vida do povo interiorano, que desprovidos dessas politicas, continuam a migrar para a capital Manaus e agora para a Região Metropolitana, fato que concentra mais de 60% (sessenta por cento) do eleitorado amazonense no entorno de Manaus.
Desde a década de oitenta, o PIM – Parque Industrial de Manaus, o índice de emprego oscila em torno de setenta a cento e vinte mil empregos, a cota mais baixa foi no inicio da década de noventa períodos do governo Collor, quando o PIM amargou pouco mais de 35 mil empregos ofertados e mais de 70 mil desempregados.
A década de noventa foi o inicio da corrida tecnológica no PIM devido os efeitos da terceira Revolução Industrial no Brasil, quem não se lembra da celebre frase do Collor “Os carros brasileiros são verdadeiras carroças...”, pois é Collor promoveu a famosa abertura da economia brasileira ao mercado internacional, o resultado no PIM foi desemprego em massa, há época esse escrevente era Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus e testemunhamos as demissões de mais de cinquenta mil metalúrgicos cuja maioria eram mulheres.
Dos mais de oitenta mil empregados do setor, restaram vinte e cinco mil, o resto ‘desceram a Buriti’, a Jutaí e outras avenidas do Distrito Industrial (linguagem operária para quem é demitido no PIM). As rações do Sindicato foram muitas, passeatas pela cidade, vigília em frente ao Palácio Rio Negra (sede do governo estadual), fechamento dos acessos ao Distrito Industrial por um dia e Atos Públicos nas praças de Manaus. Essas ações eram parte de uma campanha contra o desemprego que tinha como chamada o verso de Gonzaguinha “E sem o seu trabalho/O homem não tem honra/E sem a sua honra/ Se morre/ Se mata...”.
O resultado dessas mobilizações foi a mudança de visão que o governo Federal tinha a respeito Da Zona Franca de Manaus, a partir desse período, o PIM passou a ser visto como um pouco mais de respeito pelas autoridadeS central, principalmente as fazendárias, o Amazonas ganhou um espaço mais destacado na politica nacional o que propiciou a retomada de implantação de novas empresas, destaque para os investimentos em TI – Tecnologia da Informação e o Polo de Duas Rodas, mesmo com a Lei de informática ampliando incentivos para outros Estados da Federação, as empresas aqui instaladas passaram a investir em conhecimento e desenvolvimento de novos produtos, organizaram seus Institutos de Pesquisas e desenvolvimento Tecnológicos, outras passaram a incentivar as Instituições locais que desenvolvem Tecnologia da Informação, a empresa Nokia investiu no ensino médio com a escola da Fundação Nokia que hoje está ameaçada de fechar as portas, o que será uma grande perda para a nossa juventude.
O governo do Estado criou a UEA – Universidade do Estado do Amazonas e depois a FAPEAM – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas e mais tarde a SECTI – Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, porém, as politicas adotadas no campo da ciência e tecnologia continuam em segundo plano, a provas disso, é a extinção pelo Governador José Melo (PROS) da Secretaria de Ciência e Tecnologia e o abandono pelas autoridades Federais, Estadual e Municipal de Manaus, do CBA - Centro de Biotecnologia da Amazônia.
A ‘Pátria Educadora’ da Presidente Dilma, não passou de uma frase sem efeito, antes mesmo de assumir o segundo e conturbado mandato, a Presidente anunciou cortes no orçamento para educação e até agora já estamos experimentando o quarto Ministro, sendo que o ultimo que assumiu [Aloizio Mercadante], é um conhecido arrogante tecnocrata que vê a educação como um gasto e nunca como investimento ou mesmo esperança de um povo. A gestão passada desse senhor, foi um desastre, marcada pela intransigência e prepotência sua nomeação é na verdade um grande retrocesso para educação brasileira. O Plano Nacional de Educação será mais uma vez atropelado pela burocracia.
O que esperar para o futuro da nossa classe operária amazonense? Se considerarmos que há cada dia as empresas investem mais em tecnologia, tornado seu processo produtivo cada vez mais automatizado, se observarmos que a educação seja ela no ensino básico como acadêmico obedecerem uma pedagogia alienadora, sem nexo com a realidade objetiva que vive o nosso povo, não restam duvidas que na politica o resultado será a manutenção dessa oligarquia subserviente ditando os destinos da nossa gente.
A consequência para nossa classe operária continua desoladora, primeiro é importante entender que essa automatização não só elimina postos de trabalho, como é a maior responsáveis pelo alto índice de doenças profissionais que já está virando uma pandemia para quem trabalha nas linhas de montagem das fábricas do PIM, são jovens mutilados por L.E.R. (Lesões por Esforço Repetitivo), também chamada de D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo), A.M.E.R.T. (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho) e outras patologias decorrente do excesso do esforço físico dos operária/as para alcançar a produção programada dentro das possibilidades das maquinas e nunca dos seres humanos!
Que fazer? No inicio da industrialização os operários preferiam apedrejar as maquinas por entenderem que as mesmas seriam uma concorrência desleal com seus ofícios, hoje a reação precisa de um esforço um pouco mais inteligente, nesse particular é preciso admitir que é humanamente impossível competir com as maquinas, mas podemos conviver com elas, para tanto, o Movimento Sindical precisa sair dessa letargia e assumir de fato a defesa da classe operária, as pautas sindicais precisam radicalizar na defesa da Redução da Jornada de Trabalho, ou os Sindicatos assumem essa demanda como prioritária, ou serão responsabilizados pelas mutilações da classe trabalhadora.
Por outro lado, a classe trabalhadora precisa assumir de fato suas instituições, não dá mais para tolerar dirigentes sindicais se preocupando apenas com as questões politicas defendendo governos que só ferram a classe trabalhadora sem se importarem diretamente com as condições de trabalhos da sua categoria.
Nesse sentido, é importante combater diuturnamente a estrutura sindical vigente, que anexa os Sindicatos aos prazeres do Estado, a Classe Trabalhadora precisa com urgência de organizações independente e autônomas, que sejam capazes de orientar sua união em torno dos seus objetivos imediatos e educa-los para conquistar um sistema politico que os proteja diante das injustiças. Jogar pedras na Gení não basta é preciso Barrar do Movimento Sindical essa imensa maioria de dirigentes Pelegos a serviço dos governos e empresários.
*Elson de Melo é Presidente Estadual do PSOL Amazonas