Os lutadores sociais celebram hoje (03
de janeiro) o aniversário de nascimento de Luiz Carlos Prestes, líder revolucionário
que marcou época lutando por um Brasil livre das garras do capital e melhor
para seu povo. Nasceu em 3 de janeiro de 1898 em Porto Alegre, Rio Grande do
Sul e faleceu no dia 7 de março de 1990 aos 92 anos de idade no Rio de Janeiro,
filho de Maria Leocádia Felizardo Prestes e Antônio Pereira Prestes.
Comunista convicto, Prestes tornou-se o
primeiro grande líder revolucionário a combater o capital no Brasil. Prestes dedicou 70 anos de sua vida à luta por
um futuro de justiça social e liberdade para o povo brasileiro.
Na data em que Luiz Carlos Prestes completa
119 anos de nascimento, compartilhamos com os camaradas o poema de Pablo Neruda
“Dito no Pacaembu” declamado pelo próprio Neruda no comício dos 100 mil realizado
no dia 15 de julho de 1945 no estádio Pacaembu em São Paulo.
DITO NO PACAEMBU*
Por Pablo Neruda
Quantas coisas
quisera hoje dizer, brasileiros,
quantas
histórias, lutas, desenganos, vitórias,
que levei anos e
anos no coração para dizer-vos, pensamentos
e saudações.
Saudações das neves andinas,
saudações do
Oceano Pacífico, palavras que me disseram
ao passar os
operários, os mineiros, os pedreiros, todos
os povoadores de
minha pátria longínqua.
Que me disse a
neve, a nuvem, a bandeira?
Que segredo me
disse o marinheiro?
Que me disse a
menina pequenina dando-me espigas?
Uma mensagem
tinham. Era: Cumprimenta Prestes.
Procura-o, me
diziam, na selva ou no rio.
Aparta suas
prisões, procura sua cela, chama.
E se não te
deixam falar-lhe, olha-o até cansar-te
e nos conta
amanhã o que viste.
Hoje estou
orgulhoso de vê-lo rodeado
por um mar de
corações vitoriosos.
Vou dizer ao
Chile: Eu o saudei na viração
das bandeiras
livres de seu povo.
Me lembro em
Paris, há alguns anos, uma noite
falei à
multidão, fui pedir auxílio
para a Espanha
Republicana, para o povo em sua luta.
A Espanha estava
cheia de ruínas e de glória.
Os franceses
ouviam o meu apelo em silêncio.
Pedi-lhes ajuda
em nome de tudo o que existe
e lhes disse: Os
novos heróis, os que na Espanha lutam, morrem,
Modesto, Líster,
Pasionaria, Lorca,
são filhos dos
heróis da América, são irmãos
de Bolívar, de
O' Higgins, de San Martín, de Prestes.
E quando disse o
nome de Prestes foi como um rumor imenso.
no ar da França:
Paris o saudava.
Velhos operários
de olhos úmidos
olhavam para o
futuro do Brasil e para a Espanha.
Vou contar-vos
outra pequena história.
Junto às grandes
minas de carvão, que avançam sob o mar,
no Chile, no
frio porto de Talcahuano,
chegou uma vez,
faz tempos, um cargueiro soviético.
Quando a noite
chegou
vieram aos
milhares os mineiros, das grandes minas,
homens,
mulheres, meninos, e das colinas,
com suas
pequenas lâmpadas mineiras,
a noite toda
fizeram sinais, acendendo e apagando,
para o navio que
vinha dos portos soviéticos.
Aquela noite
escura teve estrelas:
as estrelas
humanas, as lâmpadas do povo.
Também hoje, de
todos os rincões
da nossa
América, do México livre, do Peru sedento,
de Cuba, da
Argentina populosa,
do Uruguai,
refúgio de irmãos asilados,
o povo te saúda,
Prestes, com suas pequenas lâmpadas
em que brilham
as altas esperanças do homem.
Por isso me
mandaram, pelo vento da América,
para que te
olhasse e logo lhes contasse
como eras, que
dizia o seu capitão calado
por tantos anos
duros de solidão e sombra.
Vou dizer-lhe
que não guardas ódio.
Que só desejas
que a tua pátria viva.
E que a
liberdade cresça no fundo
do Brasil como
árvore eterna.
Eu quisera
contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,
carregadas por
estes anos entre a pele e a alma,
sangue, dores,
triunfos, o que devem se dizer
o poeta e o
povo: fica para outra vez, um dia.
Peço hoje um
grande silêncio de vulcões e rios.
Um grande
silêncio peço de terras e varões.
Peço silêncio à
América da neve ao pampa.
Silêncio: com a
palavra o Capitão do Povo.
Silêncio: que o
Brasil falará por sua boca.
* Esse poema está no livro Canto Geral de Pablo Neruda.