Manaus: 15/04/2018
Heitor Scalambrini Costa
Professor aposentado da
Universidade Federal de Pernambuco
Entra
ano, sai ano, e os aumentos nas contas de luz dos consumidores brasileiros
aumentam escancaradamente acima da inflação. E é justificado, no jargão
tecnocrata, como “necessário para manter o equilíbrio econômico financeiro dos
contratos das distribuidoras”. O que significa no bom português “garantir
lucros exorbitantes, extorsivos para as distribuidoras a custa do consumidor”.
Um
exemplo para ilustrar, dos muitos existentes pelo Brasil afora sobre este
descalabro, aceito ainda passivamente pela sociedade brasileira, é o caso da
Companhia Energética de Pernambuco – CELPE.
Segundo
ação recentemente ajuizada contra estes aumentos abusivos na tarifa elétrica,
desde sua privatização no ano 2000, há 17 anos, a tarifa teve um reajuste de
195,46%, para uma inflação correspondente neste período de 115,21%. Ou seja, as
tarifas aumentaram 80,25% acima da inflação.
O
exemplo da CELPE não é muito diferente do que ocorre com outras distribuidoras
que foram privatizadas. Lembrando que o discurso oficial justificando a
privatização, era de que os consumidores com a privatização, teriam redução nas
tarifas, e melhoria na qualidade dos serviços prestados. Mas nada disso
aconteceu. Foi uma grande engodo. Afinal, o setor privado não é sinônimo de
eficiência.
Agora
o (des)governo golpista, sem credibilidade junto a população brasileira, usa o mesmo argumento para justificar a
privatização, a preço de banana (20 bilhões de reais), da maior empresa de
energia elétrica da América Latina, a Eletrobrás. São 233 usinas de geração de energia, incluindo FURNAS
(operando 12 hidrelétricas e 2 termoelétricas), a Companhia Hidrelétrica do São
Francisco-CHESF, além de 6 distribuidoras, todas da região Norte e Nordeste, e
61 mil km de linhas de transmissão, metade do total do país.
Em dezembro de 2017 a medida provisória MP
814/17 retirou a proibição de privatizar a Eletrobras e suas
subsidiárias da Lei 10848/2004. Ficou então excluído a Eletrobras e suas
controladas do Programa Nacional de Desestatização. Com esta medida foi “aberta
as portas” para que este crime de lesa-pátria se concretize.
Sem dúvida alguma a privatização da Eletrobras,
caso aconteça, irá elevar mais ainda as tarifas. Conforme simulações realizadas
por técnicos da própria Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL. Fala-se em
percentuais acima de 10%. Todavia são valores subdimensionados. E para reduzir
os gastos de custeio da empresa, como medida de contenção de despesas, incentiva
programas de desligamento voluntário, que geralmente ocorrem nestes casos.
Pode-se afirmar então, que ocorrerão “fugas de cérebros” de um setor altamente
estratégico para o país.
É necessário que cesse este “desvio” de recursos
do bolso dos brasileiros, em prol dos grupos econômicos privados, que detém as
distribuidoras (e agora querem abocanhar as geradoras). A raiz desta usurpação
é a metodologia empregada pela ANEEL, para definir os reajustes e as reposições
das tarifas de energia elétrica. Tal metodologia foi definida nos contratos de
privatização, alegando na época, que para atrair os grupos econômicos a
participarem dos leilões, seria necessário apontar ganhos e benesses de toda ordem para os adquirentes.
Claro, tudo a custa do consumidor.
Modificar tais contratos, alterando a metodologia
de reajustes, é mudar a lógica que só favorece as empresas concessionárias, em
detrimento dos interesses da população. Lutar contra a “entrega” da Eletrobras
é outro ponto que está na pauta do dia. Obviamente, só daremos uma basta a
estes vendilhões, modificando os contratos de privatização das distribuidoras,
e dando uma basta a “venda” da Eletrobras; com mobilização e pressão popular. É
o que esperamos que aconteça.
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