sábado, 1 de maio de 2010

O IDD DO BRASIL É MAIS EMBAIXO


O IDD DO BRASIL É MAIS EMBAIXO
José Ribamar Bessa Freire
02/05/2010 - Diário do Amazonas
http://www.taquiprati.com.br


Ninguém duvide – declamou o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso – que todos aqui têm profunda aversão por atos de torturas ou sequestros”. Numa pirueta retórica, ele afirmou com palavras aquilo que acabara de negar com o voto. Parece aquela brincadeirinha infantil quando, contra todas as evidências, uma criança impõe sua “verdade” às demais, ameaçando: “Não duvida hein! Quem duvida, perde a vida, come casca de ferida”.

Corro o risco de abrir a ferida, mas duvido. Data vênia, eu du-vi-do. De-u-du-vê-i-vi-dê-o-dó macaxeira mocotó! Eu, os Gaviões da Fiel e toda a torcida do Flamengo. Caso essa aversão existisse, o STF não teria proibido, nessa quinta-feira, por sete votos a dois, que se investigue e se puna os criminosos que torturaram presos políticos no período da ditadura militar. Se a aversão existe, ou ela não é assim tão “profunda”, ou então foi maior o medo de manifestá-la através do voto.

O STF foi acionado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que questiona a amplitude da Lei da Anistia por entender que ela não pode beneficiar quem é pago pelo Estado e, no exercício de suas funções, comete crimes hediondos como tortura, estupro, assassinato, ocultação de cadáver. Isso não é delito político, é bandidagem cometida à sombra do poder.

Esse foi também o entendimento dos ministros Ayres Brito e Ricardo Lewandowski. Os dois sim, com o voto, mostraram “profunda aversão” à tortura, mas foram vencidos. “Certos crimes são, pela sua natureza, absolutamente incompatíveis com a ideia de criminalidade política por convicção. Um crime político pressupõe um combate ilegal à estrutura jurídica do Estado. O torturador não é um ideólogo. Ele não comete nenhum crime político. É um monstro, um desnaturado, um tarado” – declarou Ayres Brito.

Na mesma linha de raciocínio, Lewandowski lembrou que a tortura é crime imprescritível segundo a Constituição de 1988 e de conformidade aos acordos internacionais assinados pelo Brasil que obrigam a punir violações aos direitos humanos. Portanto, agentes do Estado que tenham cometido atrocidades devem ser processados. “A análise sobre a motivação política ou não do crime caberia ao juiz ou ao tribunal encarregado do caso” – argumentou o ministro.

Casca de ferida

Dois ministros não votaram: Dias Toffoli, que se julgou impedido e Joaquim Barbosa, que está de licença médica. Do primeiro, nada esperemos. Quer mostrar serviço, já disse a que veio, rimaria e votaria com a maioria. O segundo, certamente, seria o terceiro voto contra a tortura. É por isso que muita gente no Brasil está rezando pela saúde do negão, reverenciado por todos nós por sua sensibilidade e senso de justiça.

Por que ministros íntegros, que manifestam retoricamente “profunda aversão” à tortura, votam contra o julgamento dos torturadores? Hic culum cotiae sibilare como nos ensina o direito romano. É aqui que o fiofó da cotia assovia, porque eles justificaram seu voto de forma estranha para leigos como eu e tu, leitor (a). Parece até um voto envergonhado. É melhor ouvi-los um pouco, através de trechos de suas declarações publicadas nos jornais:

Eros Gueiros, o relator, ele mesmo vítima das arbitrariedades: “A anistia não foi ampla, pois beneficiou torturadores, mas excluiu militantes que haviam sido condenados pelos tribunais militares. No entanto, esse foi o acordo possível à época. A lei da anistia não é uma regra para o futuro, dotada de abstração e generalidade. Há de ser interpretada a partir da realidade no momento em que foi conquistada”.

Carmen Lúcia: “A lei (da anistia) não é tão justa como poderia ter sido, pois beneficia torturadores. Nem sempre as leis são justas, embora elas sejam criadas para ser”.

Peluso: “Os crimes cometidos na ditadura já estão prescritos e, portanto, imunes a qualquer punição”.

Celso de Mello: “A Constituição de 1988 estabelece que tortura é crime imprescritível, mas a lei da anistia é anterior a esta data e, portanto, não poderia ser examinada sob essa ótica”.

Ellen Gracie: “Anistia significa esquecimento, desconsideração intencional e perdão a ofensas passadas. E, como instrumento de pacificação a anistia deve ser necessariamente mútua”.

Por fim, a pérola do ministro Marco Aurélio de Mello, o primo do Collor de Mello: “Anistia é ato abrangente de amor, sempre calcado na busca do convívio pacífico entre os cidadãos”. Sem comentários sobre esse sólido argumento jurídico, porque seu autor tem legitimidade para fazê-lo. De qualquer forma, foi assim que o STF determinou o arquivamento da tortura.

Tortura arquivada

A decisão do STF, no entanto, foi reprovada pelo Comitê contra a Tortura da ONU, formado por juristas de renome internacional, vindos de todo o mundo. A alta comissária da ONU para direitos humanos, Navi Pillay criticou: “Essa decisão é muito ruim. Não queremos impunidade e sempre lutaremos contra leis que proíbem investigações e punições”. Ela entende do riscado, porque foi ela que julgou os crimes de guerra da Ruanda no Tribunal da ONU.

Os juristas da ONU deploram que o Brasil esteja seguindo uma direção diferente ao que ocorre na Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru e outros países latino-americanos, que decidiram investigar a tortura cometida durante as ditaduras militares. “Leis de anistia foram tradicionalmente formuladas por aqueles que cometeram crimes e se concederam um auto-perdão que o século XXI não pode mais aceitar” – afirmou o jurista Fernando Mariño, acrescentando: “O Brasil está ficando isolado”.

Dessa forma, o Brasil deixou de afirmar com clareza para si mesmo e para o mundo que é contra a tortura. Não é convincente afirmar que daqui pra frente somos contra a tortura, quando daqui pra trás deixamos os torturadores em paz. Não dá para aceitar a filosofia do quem-comeu-comeu: quem torturou, torturou, está perdoado, mas quem não torturou, não tortura mais.

O ministro da Defesa Nelson Jobim e o deputado Aldo Rebelo, que ultimamente têm se manifestado sempre contra os índios, os sem-terra, os fracos, elogiaram a decisão. “Mexer na anistia seria reabrir velhas feridas sem ganhar nada em troca”, declarou Jobim nesse sábado à Folha de São Paulo. Pois é, né, o que é que a gente ganha punindo os torturadores? Só incompreensão da extrema direita e da área militar. Não vale a pena.

A questão não é o que ganhamos, mas o que perdemos. A impunidade de ontem estimula os torturadores de hoje. Nos últimos quinze dias, só em São Paulo foram registrados quatro casos de tortura, um deles provocou a morte de um motoboy, um trabalhador, cuja bicicleta havia sido roubada. O torturado de outro caso está em estado grave: levou uma coronhada, que afundou seu crânio. Os três torturadores não foram identificados, porque “a PM não colabora”, segundo o delegado que investiga o crime.

A aversão à tortura como um crime hediondo não pode funcionar só após 1988. Ela tem que ser permanente. Isso exige uma condenação clara dos torturadores, justamente para impedir que ela continue sendo praticada no país. Foi o que aconteceu na Argentina, onde os torturadores estão em cana, inclusive Reynaldo Bignone, o último general-presidente, que está com 82 anos e na semana passada foi condenado a 25 anos de prisão. Os argentinos sabem, agora, que quem tortura é punido.

Ninguém quer que se fuzile ou se torture os torturadores. A gente só quer saber quem são eles, quer que sejam identificados e julgados, com amplo direito de defesa, evitando que os crimes que praticaram sejam sepultados no esquecimento. A gente quer que a sociedade brasileira combata a tortura, em vez de conviver pacificamente com ela, de relativizá-la ou de justificá-la.

Se a ONU inventasse um Índice de Desenvolvimento Desumano (IDD), da mesma forma que tem o Índice Desenvolvimento Humano (IDH) o Brasil certamente iria ocupar um dos últimos lugares, depois dessa decisão do STF. O IDD do Brasil está lá embaixo.

P.S. - ORA VEJA! QUEM AINDA ACREDITA NA VEJA? Reproduzo aqui a nota enviada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro

Ao Editores da revista Veja:



Na matéria "A farra da antropologia oportunista" (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: "Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original" . Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma. Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de "montado" ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante. Grato pela atenção,Eduardo Viveiros de Castro

Lucta Social homenageia os trabalhadores do mundo

“Os trabalhadores, construtores centrais da historicidade, atuando como força social concentrada, impulsionam a extensão da liberdade, dinamizam o processo civilizatório entendido como a capacidade de exercer a criatividade sem paternalismo ou injunções despóticas,”

Antonio David Cattani
Em – A ação coletiva dos Trabalhadores

Neste dia 1º de Maio – Dia do Trabalhador, os trabalhadores do mundo firmam sua força social transformadora. São muitas as formas de celebração do nosso dia, como são diferentes as reações do Estado – braço forte, repressor e manipulador a serviço dos capitalistas.

O Lucta Social reafirma neste dia seu compromisso com as lutas históricas dos trabalhadores do mundo e em particular da Amazônia. O balanço que fazemos das condições de vida da classe trabalhadora brasileira deixa perplexo até o mais cético patrão ou bajulador do capital. É o desemprego aumentando cada dia, mulheres violentadas, baixo salários, trabalho precário, jornada de trabalho estafante, trabalhadores e trabalhadoras lesionadas, segundo levantamento feito pela Associação dos Lesionados do Amazonas só no Distrito Industrial de Manaus é mais de quinze mil Operários e Operarias mutilados por doença ocupacional.

No plano Nacional o governo Lula, em quem os trabalhadores depositaram toda sua confiança nos últimos oito anos, vem a cada dia frustrando as expectativas da nossa classe. Nega a redução da jornada de trabalho de 44horas, para 40horas semanais, aumenta a taxa de juro para satisfazer banqueiros, autoriza a inundação do Rio Xingu provocando o maior desastre ecológico do mundo e humilhando Índios, quilombolas e toda a população que habitam aquela região – um verdadeiro genocídio.

A história nos ensina que nada foi dado aos Trabalhadores, tudo que temos até agora foi conquistado com muita luta, com sangue, vidas foram ceifadas, muitos dos nossos companheiros foram punidos pelo capital e seu Estado repressor com prisões e morte.

A luta pela redução da jornada de trabalho acompanha a classe trabalhadora há séculos. O Lucta Social, presta neste dia uma homenagem aos mártires de Chicago e a todos que pagaram com a vida por lutarem por liberdade e qualidade de vida dos trabalhadores. É hora de aumentar nosso grito por mais liberdade, democracia, solidariedade, igualdade e felicidade. É hora de confirmar o Socialismo como a nova civilização onde homens e mulheres finalmente se encontrem num mundo livre e justo.

Os Editores

Amazonino não vai se envolver na greve dos motoristas

O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes não vai se envolver na greve deflagrada na tarde de ontem, pelos motoristas e cobradores.

Ele disse que a discussão salarial é problema entre patrão e empregado, acrescentando que o maior salarial do Brasil da categoria está sendo pago em Manaus. O prefeito também acusou alguns sindicalistas de estarem aproveitando o momento pré-eleitoral para fazer política e favorecer alguns candidatos apoiados pelo Sindicato da categoria.

Centrais realizaram manifestação







As Centrais Sindicais, CTB, NCST, CTB e UGT, realizaram no dia de ontem no centro de Manaus uma manifestação em defesa da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

Histórico do dia do Trabalhador

No dia 1º de Maio de 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho. A polícia reprimiu a manifestação, dispersando a concentração, depois de ferir e matar dezenas de operários.

Mas os trabalhadores não se deixaram abater, todos achavam que eram demais as horas diárias de trabalho, por isso, no dia 5 de Maio de 1886, quatro dias depois da reivindicação de Chicago, os operários voltaram às ruas e foram novamente reprimidos: 8 líderes presos, 4 trabalhadores executados e 3 condenados a prisão perpétua. Foi este o resultado desta segunda manifestação.

A luta não parou e a solidariedade internacional pressionou o governo americano a anular o falso julgamento e a elaborar novo júri, em 1888. Os membros que constituíam o júri reconheceram a inocência dos trabalhadores, culparam o Estado americano e ordenaram que soltassem os 3 presos.

Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, um dia de luto e de luta. E, em 1890, os trabalhadores americanos conquistaram a jornada de trabalho de oito horas.

Movimento político deixa usuários do transporte coletivo sem ônibus

A greve dos trabalhadores em transporte rodoviários deixou ontem 400 mil usuários sem ônibus, por três horas. O Sindicato dos Rodoviários promete retomar o movimento na manhã deste sábado e não tem hora nem dia para encerrar. Apesar do anúncio de que o movimento seria pacifico, sete ônibus foram depredados.

POPULAÇÃO ESTÁ PERDENDO A PACIÊNCIA COM OS EMPRESÁRIOS DE TRANSPORTE COLETIVO DE MANAUS.

Quem estava hoje à tarde nas ruas do centro de Manaus, ouviu em auto e bom som a população gritando coros de queima, queima, queima... Ou, vamos quebrar, quebra, quebra, quebra... Está ficando claro que à motivação política, aliado a ganância dos empresários em quererem aumentar o preço da passagem, já encheu o saco dos usuários. Não se surpreenda se acontecer coisas muito desastradas nessa greve. Os salários dos Motoristas e Cobradores não é o principal motivo desse movimento. Estão sendo usados como escudos para beneficiar políticos e patrões.

DEDO DE ALFREDO NA GREVE DOS RODOVIARIOS DE MANAUS

Comenta-se que questão política do Senador Alfredo Nascimento está por trás do movimento grevista que bagunçou a cidade e penalizou os usuários de ônibus nesta tarde. Fontes vindas daquelas bandas dão conta que a motivação do Senador é tentar forçar o apoio do Prefeito Amazonino a sua candidatura e eliminar possíveis resistências dentro da CUT. Para isso usou sua influencia de ex-Ministro dos Transportes e a vontade dos empresários em querer o aumento preço da passagem de ônibus para negar as reivindicações dos trabalhadores e provocar a greve.

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DESAFIOS ÀS FORÇAS PROGRESSISTAS EM 2025

Frei Betto*         Meu primeiro impulso foi intitular este texto de “desafios à esquerda”. Logo me dei conta de que, hoje em dia, resta pou...