Por: Egydio Schwade
O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória que o
construiu, as pessoas e a causa que o construíram e até a história de pessoas
que compõe o governo no poder.
A briga com as lideranças indígenas de Belo Monte ao Tapajós, dos
Guarany aos Yanomami e as mais recentes declarações da Ministra Greicy Hoffmann
são exemplos incontestes. Os indígenas defendem com unhas e dentes aquilo que
nós socialistas do PT, desde o início dos anos 80, e mesmo antes, defendíamos
como um direito, contra a ditadura militar: o direito de possuir direitos, de
trabalhar para a vida, de celebrar a vida e viver comunitariamente com
liberdade sobre um pedaço de chão.
Lembro-me que ainda em 1989 durante a campanha Lula Presidente,
campanha do “Brasil Criança”, acompanhei o nosso candidato a Presidência da
República em uma visita à Hidrelétrica de Balbina no Amazonas para ver o
absurdo de um grande projeto hidrelétrico na Amazônia. Depois, em 1994, noutra
viagem importante, na “Caravana das Águas”, visitamos juntos o projeto de mudas
de guaraná da Embrapa, em Maués. Com o nariz sobre 23.000 mudas de Guaraná
destinadas pela Embrapa a uma só empresa, a Antártica, esquecendo os milhares
de pequenos agricultores e produtores de guaraná daquele município, vimos
juntos a óbvia necessidade de uma mudança radical de política agrícola da
Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias.
Hoje, como naquele tempo e como bem antes durante a Ditadura
Militar, o nosso governo, traindo o seu passado, está aí emaranhado, como aqueles
governos ou até de forma ainda mais sofisticada praticando as mesmas atitudes
ditatoriais. Investimento no Agronegócio é uma burrice, pois essencialmente
depreda a biodiversidade e como tal é um exterminador das fontes de sustento do
Brasil das gerações futuras.
Investimento em grandes projetos hidrelétricos na Amazônia é
igualmente exterminador de fontes de sustento das gerações futuras. Por que não
investir em trilhos contra o desperdício de energia do ineficiente transporte.
Sozinha, a economia de energia gasta nos congestionamentos urbanos, se fosse
poupada, seria capaz de evitar várias Belo Montes. Abrir
o caminho às mineradoras para a pesquisa e lavra em áreas indígenas, projeto do
ex-lider do Governo no Senado, Sen. Romero Jucá, é mais uma burrice para
favorecer interesses multinacionais que se enriquecem roubando os recursos não
renováveis dos povos indígenas e do Brasil como um todo.
Como anteontem durante o Governo Militar e como ontem, durante o Governo
Sarney, os índios resistem sem necessidade de armas de fogo, assim resistirão também
a este Governo e contra ele sairão ainda mais fortalecidos e com novas
alianças, anunciando sempre mais vigorosamente a necessidade de uma Reforma Agrária
para os seus irmãos humilhados da sociedade nacional, primeiro e principal
objetivo da existência do Partido dos Trabalhadores. E principalmente, a
demarcação de territórios comunais.
É muito doloroso que a sociedade, à frente os povos indígenas,
tenha que partir para o confronto contra o PT-Governo, para evitar que este se
afunde de vez no Agronegócio dilapidador da biodiversidade e ainda para impedir
a exploração predatória e a exportação como commodities
dos recursos minerais não renováveis, por empresas multinacionais. A
biodiversidade é o principal esteio para pesquisa das futuras gerações do povo
brasileiro e a sociodiversidade é fonte de alegria e riqueza cultural, por isso
devem ser defendidas.
A hora é de confronto e toda a sociedade brasileira terá que se posicionar.
De um lado estão os índios e os trabalhadores familiares com ou sem terra,
cujas armas e munição são mudas e sementes variadas. Do lado de lá, os agronegociantes,
mineradores, donos das empresas de construção e, ao que tudo indica, o Governo
com as tradicionais armas de fogo letais.
Companheira Dilma, é hora de acordar, antes que seja tarde! Não se
iluda, os seus aliados ruralistas, que não são agricultores, não irão sossegar
enquanto não tiverem depredado toda a nação, inclusive, as áreas indígenas.
É humilhante ver uma ministra do nosso governo, propor a revisão
das demarcações de terras indígenas dos últimos 25 anos. Seria para ampliar
esses territórios já livres do capitalismo? Infelizmente não! Será para anexá-los
ao agronegócio, abri-los para a exploração capitalista da mineração, ou cobri-los
com as águas de lagos hidrelétricos. Não será para questionar estes milhares de
latifúndios muitos deles grilados ou conquistados a base da pistolagem, ou até
instalados à custa de trabalho escravo, de 1500 até 2013, de Roraima ao Rio
Grande do Sul. E nem será para, finalmente, iniciar a reforma agrária,
atendendo a um clamor da sociedade que já vem desde a colonização portuguesa e que
foi apresentado e aclamado no Primeiro Encontro Nacional do PT no dia 31 de
maio de 1980, como prioridade do Programa Partidário.
Casa daCultura do Urubuí, 15 de maio de 2013.
Egydio
Schwade
Nenhum comentário:
Postar um comentário