ESCRITO
POR TELMA MONTEIRO
SEGUNDA,
19 DE TEMBRO DE 2016
"Belo Monte é um
projeto de 30 anos, não é um projeto de agora. Belo Monte levou muito tempo
sendo discutida, foi muita gente que discutiu, se fazia projeto, se não fazia
projeto, e nós conseguimos dar a Belo Monte um tratamento, diria, qualificado,
envolvendo todo o segmento da sociedade num debate", afirmou. De acordo
com Lula, abandonar um potencial hídrico de, aproximadamente, 260 mil megawatts
para começar a usar termoelétrica a óleo diesel será um "movimento
insano", contra toda a ação que se faz no planeta. (Extraído: Estadão 26 de abril de 2010 - Lula defende a construção da usina de Belo Monte)
Em 2010, Lula esteve em
Altamira para “lançar” Belo Monte. Estava acompanhado de autoridades e
políticos em campanha. Políticos adoram grandes obras. Principalmente
superfaturadas. Campanhas eleitorais no Brasil costumavam receber apoio
financeiro de empreiteiras e de concessionárias de serviços públicos. Em
especial do setor energético (veja-se a Petrobras e o que se descobriu com a
Lava Jato), onde se desvendou o funcionamento do esquema de grupos de poder
nacionais e transnacionais unidos aos partidos políticos e autoridades do
executivo e legislativo para dilapidar o nosso patrimônio.
Para Lula, nós nunca
passamos de medíocres e desinformados porque não conhecíamos o projeto da
hidrelétrica de Belo Monte. Naquela ocasião, em Altamira, Lula resolveu compartilhar
suas “experiências”. Disse que quando era jovem protestou contra a usina de
Itaipu. Que acreditou nas fantasias de que Itaipu iria alterar o clima da
região, causar terremoto, que o peso da água do reservatório mudaria o eixo da
Terra e a Argentina seria inundada. Tirando a história idiota da mudança do
eixo da Terra, os demais impactos aconteceram e acontecem no caso de grandes
hidrelétricas. Se ele considerou fantasias é por pura falta de conhecimento dos
estudos de cientistas e pesquisadores. Ignorou solenemente todas as informações
disponíveis.
Chamou-nos, os
declarados contrários à construção de Belo Monte, de mal informados. Ignorou
que entre os desinformados estavam a equipe técnica do Ibama que analisou o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte; os técnicos e procuradores do
Ministério Público Federal (MPF) que se debruçaram por meses sobre o calhamaço
de informações do processo; dos especialistas e pesquisadores que emitiram seus
pareceres; do juiz da Vara de Altamira, Antonio Carlos Campelo, que acompanhava
o caso desde a primeira ação ajuizada; das organizações da sociedade civil que
contam com pessoal habilitado em questões ambientais; dos movimentos sociais da
região do Xingu que sempre viveram o dia a dia do rio; e principalmente, dos
indígenas que conhecem profundamente o comportamento do ecossistema do qual
suas vidas dependem.
Nem é preciso dizer que
a infinita falta de conhecimento de Lula sempre atrapalhou o seu já parco
discernimento. Basta fazer um retrospecto da baboseira que pautou seus
discursos e até recentemente o “pronunciamento” descabido e distorcido sobre as
provas apresentadas pela força tarefa da Lava Jato. Portanto, quem não conhecia
e jamais procurou conhecer o projeto de Belo Monte e nunca teve a humildade
para ouvir a sociedade foi ele, Lula. E é por isso que Belo Monte está lá. O
monstro engoliu o rio Xingu e cospe, agora, a podridão da insensatez de um
presidente medíocre e perdulário.
Em Altamira, ao exaltar
Belo Monte, Lula se jactou de histórias, falsas experiências e afirmações que
empolgaram uma plateia de cabos eleitorais e bajuladores de plantão, dele e da
então governadora do Pará. A retórica farsesca continuou sendo o seu velho e
hoje gasto artifício para enfrentar a realidade do fracasso do seu projeto
político.
Nunca deixou de
mencionar e se vangloriar de ter chegado aonde chegou sem que fosse preciso ter
estudado. Não surpreende que tenha desprezado as conclusões de pesquisadores e
especialistas. Ele não as leu. Pensando bem, quando Lula nos chamou de
desinformados poderia estar se referindo à falta de outras informações sobre
Belo Monte, aquelas que não estiveram disponíveis. Nesse caso estávamos mesmo
desinformados.
Entre as informações que
Lula disse ter e afirmou que, nós pobres mortais, não tínhamos, bem poderia
estar a estratégia de utilização dos recursos de energia para aumentar sua
influência na política regional. Ou a pretensão de ser lembrado no futuro como
um estadista que encontrou o ideal da política energética na exploração da
Amazônia com a remoção compulsória de populações ribeirinhas e indígenas de
suas terras imemoriais. Objetivo: transformar o Brasil na quinta economia
global.
O setor privado
brasileiro nunca quis investir em obras com viabilidade econômica duvidosa, idealizadas
por estatais hipertróficas, como se viu no imbróglio do leilão de Belo Monte.
Não sendo possível obter taxas de retorno compatíveis com os altos custos
sociais e ambientais, deixaram o investimento, o financiamento e os riscos para
o Estado, que era rico o suficiente. Lula garantia. Como garantiu a sangria da
Petrobras.
Claramente, esse
megalomaníaco esteve incentivando falsas parcerias público-privadas, como no
caso de Belo Monte, onde quem bancou e correu (ainda corre) riscos é o Estado e
os fundos de pensão. Lula planejara voltar em 2015 para continuar sua obra. Mas
a bomba da decadência da economia, com o pus emergindo das feridas do quase
cadáver putrefato da sua base política no Congresso, atacada pelo cancro da
corrupção, ameaçava explodir no seu colo. Então ele deixou para Dilma o gran
finale e achou que voltaria para “salvar” a pátria em 2018.
A Lava Jato que está
extirpando o câncer que assolou a Petrobras está quase acabando. Espero que
comece logo a Lava Jato 2 para desvendar a podridão na Eletrobrás.
Obs:
Este texto foi originalmente escrito em 2010 e reescrito agora com alterações e
atualizações.
Telma
Monteiro é ativista socioambiental, pesquisadora, editora do blog
http://www.telmadmonteiro.blogspot.com.br, especializado em projetos
infra-estruturais na Amazônia. É também pedagoga e publica há anos artigos
críticos ao modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil.
FONTE:
Correio da Cidadania
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