ESCRITO POR HEITOR
SCALAMBRINI COSTA
DOMINGO, 25 DE
SETEMBRO DE 2016
Com o título “Em defesa da energia nuclear” o
jornal do Commercio de Pernambuco divulgou em 6 de setembro último, uma entrevista
com o filho do senador Fernando Bezerra Coelho, que tem o nome do pai, atual
ministro de minas e energia, por força das circunstâncias.
Sua entrevista é de uma clareza cristalina
sobre o que o “menino” pretende fazer como ministro de um dos ministérios mais
estratégicos para o país. Obviamente como resposta a primeira pergunta “de
quais as principais iniciativas que vai adotar?”, tratou logo de asseverar sua
total ignorância para o posto que foi guindado. Confessou que seu ministério
foi montado com uma equipe de pessoas ligadas ao mercado, as empresas privadas;
com o intuito de gerar um ambiente favorável para o mercado. Ou seja, será
somente um titere nas mãos dos grupos empresariais, das corporações, cujos
interesses são somente mercantis.
Com relação a pergunta feita pelo repórter
sobre sua posição quanto a energia nuclear tratou logo de desqualificar aqueles
que pensam o contrário, que afirmam que o Brasil não precisa de usinas
nucleares. Disse que não tem preconceito sobre esta fonte energética.
Sua resposta demonstra sua completa ignorância,
à falta de conhecimento, sabedoria e instrução sobre este tema. Sua crença em
elementos amplamente divulgados como falsos. E a sua ignorância é tanta que
nem sequer está em condições de saber aquilo que lhe falta.
O ministro conhece bem é como manipular seu
curral eleitoral, afirmando em recente visita ao lado do seu pai, aos
correligionários do sertão pernambucano, que a usina nuclear será construida em
Itacuruba, e trará “desenvolvimento”, empregos e geração de renda aos moradores
dos municípios do seu entorno. Isto o ministro e seu pai sabem fazer. Manipular
a informação, iludir as pessoas, vender uma falsa imagem de poderoso, daquele
que decide.
A energia nuclear para fins energéticos é
totalmente desnecessária ao país para sua segurança energética. Esta
justificativa de que ela é a salvação contra o “apagão” é trazido a tona, de
tempos em tempos, por aqueles que defendem esta fonte de energia por interesses
outros, muitas vezes nada republicanos.
O custo de uma usina de 1.000 MW está em
torno de 15 bilhões de reais (se não houver atrasos nas obras). Pense numa obra
desta magnitude no Brasil que tenha sido entregue em dia, sem novos aditivos? Sem
propinas das empreiteiras. O custo da energia para o consumidor é tão caro que
se não fosse os subsídios do governo (de todos nós) seria proibitivo comparado
com outras tecnologias de geração de energia elétrica. Os custos são
camuflados, não se leva em conta nos custos os danos ambientais do ciclo do
combustível, e nem o descomissionamento da usina depois de cumprido sua vida
útil.
Caso haja vazamento de material radioativo,
ai sim que a coisa complica. Material
radioativo disperso na natureza contamina o ar, a água, o solo e subsolo por
tempo indeterminado. No desastre de Fukushima fala-se em 40 anos para a
descontaminação, e várias dezenas de bilhões de dólares. Nenhuma seguradora do
mundo aceita assegurar uma usina nuclear. É o próprio Estado que tem que
assegurar a usina para caso de acidentes.
Quanto ao material radioativo produzido nas
reações nucleares, aqueles de maior radioatividade, ainda não se sabe o que
fazer com eles. Como armazená-los definitivamente. O popular “lixo” fica como
presente para as gerações futuras. Belo presente, não senhor ministro.
E assim vai os aspectos negativos de uma
usina nuclear, hoje repudiada por vários países do mundo.
Portanto, aqueles que defendem que o país não
precisa de energia nuclear não tem nenhum preconceito. Suas posições são
determinadas pelo conhecimento dos impactos causados por tal tecnologia.
Diferente do senhor ministro que nada sabe sobre este assunto, e de outros do
ministério que ocupa. Que seja rápido sua passagem para o bem do país.
Para um desenvolvimento sustentável, voltado
para o bem de todos, da pessoa humana e da natureza, em um país como o Brasil
com tantas opções de produção de energias renováveis, a energia nuclear não
passará.
Heitor Scalambrini Costa, é Professor
aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
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