sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz 2013, Tataitá!


José Ribamar Bessa Freire
30/12/2012 - Diário do Amazonas

Os fogos que vão iluminar o céu à meia-noite, anunciando a passagem de ano, darão o sinal para criar uma situação embaraçosa numa mansão do Tarumã, em Manaus. Naquele exato momento, o doutor Messias Pimentel, 68 anos, amazonense, careca, flamenguista doente, executivo de uma multinacional, vai encarar seu cunhado, já meio bêbado, que lhe dará um abraço hipócrita, como faz todos os anos e, diante de uma plateia seleta lhe desejará, aos berros, com a voz carregada de ironia:

- Feliz 2013, Tataitá-rrrrrrrrrrr! 

Em cada réveillon se repete a mesma xaropada. O cunhado, que além de chato e inconveniente é vascaíno, teima em chamá-lo por aquele maldito apelido, carregando no "r" final, enquanto os amigos presentes ouvem calados e se fecham num silêncio eloquente, fingidamente respeitoso, mas igualmente ofensivo. Alguns ensaiam até um risinho sardônico.

Já passaram mais de 60 anos desde que Messias, o Tataitá, foi alfabetizado no Grupo Escolar Cônego Azevedo, no bairro de Aparecida. Mas o apelido que ali nasceu e que ele tanto odeia, ficou impresso em sua pele como um carimbo e gravado para sempre em sua alma, como uma tatuagem indelével. Por causa dele, já lhe passou pela cabeça, ainda que fugazmente, a ideia de dar um tiro nos cornos do cunhado. "Eu ia em cana, mas haveria no mundo um torcedor a menos do Vasco" - pensou com alegria.  

Capaz de causar homicídio, o incômodo apelido saiu de dentro de uma cartilha na qual Messias Pimentel estudou, um dos tantos livros que começaram a proliferar nessa época, graças à Comissão Nacional do Livro Didático criada em 1938. Anos antes, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova havia sugerido diretrizes inovadoras para a educação nacional e priorizava o ensino público, gratuito e laico. Um dos signatários do Manifesto foi Lourenço Filho, autor deUpa, Cavalinho!, livro adotado pelo Instituto Christus do Amazonas, dirigido pelo professor Orígenes Martins.

Na década de 1950, esses livros se espalharam por todos os recantos do Brasil, mas não sabemos qual deles publicou a história do Tataitá. Mais de meio século depois, ainda traumatizado, Messias se recusa a falar e não dá o endereço da morada do Tataitá. Pode ser um daqueles livros da sériePedrinho, de autoria de Lourenço Filho, que tinham capa dura e ilustrações coloridas, ou o Infância Brasileira de Ariosto Espinheira, com o título em letras douradas.

Não importa o santo, mas o milagre. Qualquer um deles trazia textos sugestivos e incorporava narrativas indígenas, que pretendiam despertar o prazer da leitura, com ilustrações, exercícios de compreensão, estudo do vocabulário e explicações gramaticais. É dentro deste contexto que surge a história do Tataitá, origem do apelido. Quem era, afinal, esse personagem?

Sísifo tupi

Guerreiro destemido, Tataitá enfrentou Tupã, o dono do fogo, roubando-lhe as duas pedras com as quais, depois de atritadas, fez uma fogueira. Com isso, sua tribo aprendeu uma nova técnica até então desconhecida, mas Tataitá foi punido com um castigo cruel: ele tinha que transportar as águas do rio para o topo de uma montanha, usando apenas um paneiro. Porém, cada vez que erguia o paneiro mergulhado no rio, a água saía pelos buracos. Estava condenado a repetir eternamente um trabalho inútil, como o Sísifo da mitologia grega. Foi, então, que Mãe D'água, com pena, aconselhou:

- Tataitá, vai até aquela árvore alta, dá pequenos cortes no seu tronco e recolhe o sumo leitoso que dele brotará. Com este líquido, reveste o interior do cesto.

O guerreiro seguiu o conselho ao pé da letra e constatou, maravilhado, que o líquido, coagulado, havia milagrosamente impermeabilizado o paneiro. Dessa forma, conseguiu carregar a água, se livrou do castigo e descobriu que a seringueira fornecia borracha. Enquanto na narrativa tupi Tataitá não deu azar, na mitologia grega Sísifo deu e ficou carregando pedra por toda a eternidade.

Diante de narrativa tão poética, surge a questão: por que Messias sente vergonha do apelido? Tataitá não é do bem? É aqui que entra a professora Adelaide Wanderley, a tia Dedé, cuja fama de alfabetizadora havia se espalhado por Manaus e adjacências. Ela só permitia que tomasse tacacá na banca da dona Alvina aquele aluno que fosse capaz de soletrar a palavra: ta-ca-cá. Dessa forma, até os paralelepípedos da Rua Xavier de Mendonça aprendiam a ler com muita facilidade só para sentirem o jambu tremelicando nos lábios.

No entanto, tal motivação não funcionou com Messias Pimentel, aluno da tia Dedé no 2° ano A, que ficou tempos sem sentir o cheiro do tucupi, porque na hora de soletrar, lia sempre ta-ca-cá-rrr. Naquela época, o exercício diário que se fazia para avaliar as habilidades dos alunos recém-alfabetizados era justamente fazê-los ler em voz alta, na sala de aula, diante de todos os colegas. Cada aluno lia e relia diariamente o mesmo texto até adquirir total fluência na leitura, quando então passava para um novo texto.

Normalmente, esse processo durava um par de dias, no máximo uma semana com alunos mais lerdos. Com Messias durou uma eternidade, ele ficou anos lendo sempre a mesma história do Tataitá. Os colegas passaram por toda a série de quatro livros: PedrinhoPedrinho e seus amigos, Aventuras de PedrinhoLeituras de Pedrinho e Maria Clara, enquanto Messias permanecia carregando água no paneiro. Os colegas entraram no Infância Brasileira I, II, III e IV e Messias continuava atolado no Tataitá, mais precisamente no Tataitá-rrrrr. Reprovado várias vezes, foi colega de três irmãs minhas, de idades diferentes.

Tucupir no tacacar

O problema não era de compreensão, Messias entendia bem o que lia. É que ele começava soletrando em silêncio, bem devagar: tê-a-tá = tá, tê-a-ta = tá, i, tê-a-tá = tá, Ta-ta-i-tá. Ficava gaguejando, meio tatibitati, um ta-ta-ta sem fim, tateando aqui, titubeando ali, até dona Adelaide exigir:

- Leia em voz alta, seu Messias.  

Ele continuava gaguejando, tudo por causa do seu fascínio pelo "r". Estava absolutamente deslumbrado com a letra sem a qual não existia nem rei, nem rainha, nem presidente, nem ditador. Vivia colocando um "r" inexistente no final de palavras como Tataitá e tacacá, acreditando talvez que, dessa forma, criava um efeito sonoro capaz de impressionar os colegas. Acionado pela professora, começava a ler, berrando e carregando nos erres:

- Tataitá-rrrrrr!

Todas as demais salas ouviam o berro. A professora corrigia uma, dez, cem vezes, mas no dia seguinte recomeçava tudo de novo. Quando ela ia avaliar a compreensão do texto e perguntava quem era o personagem principal da história, a irresistível força do "r" sobrepujava as correções da professora e Messias sapecava pela milésima vez:

- Tataitá-rrrrrr!

Sua leitura era como o trabalho de Sísifo e do próprio Tataitá antes de encontrar a Iara, porque todo o esforço feito num dia, era desfeito à noite, e no dia seguinte recomeçava do zero. Era impossível que Messias não ficasse carimbado com o apelido de Tataitá-rrrrr. Numa época em que ninguém falava em bullying, mas havia muita molecagem, ele foi vítima de todo tipo de gozação. No recreio, no pátio, na sala de aula e na saída da escola, os colegas, com as duas mãos em concha na boca, gritavam:

- Tataita-rrrrrrr, vai tomarrr tacacá-rrrrrr!

Ele se defendia bem, respondendo com raiva:

- Vai tu-rrr, tomarrrrrr nukuurrr!

Embora Messias tenha superado as dificuldades e se formado em Direito, tornando-se um profissional correto e bem remunerado, o processo de alfabetização permaneceu guardado, rancorosamente, em sua memória. Ele ficou tão traumatizado que, já grande, decidiu abolir definitivamente o "r" no final das palavras. Para ele, o novo prefeito de Manaus é o Artú, e o governador do Amazonas é o Omá.

Por isso, no dia 31 de dezembro, quando der meia-noite, ele odiará o cunhado que lhe dirá:

- Feliz 2013, Tataitá-rrrrrr!

É o que, já adiantando, também desejo ao leitor-rrrr.

P.S. Pretendia escrever sobre o lixo de Manaus, de Duque de Caxias e de outros municípios abandonados pelos prefeitos que terminam seus mandatos. Ou sobre o lixo do Senado, que troca Sarney por Renan, seis por meia dúzia. Mas acordei com o grito do Tataitá-rrrr na minha cabeça. Já conhecia a história, telefonei para minhas irmãs Gina, Helena e Dile, que foram colegas do Messias em diferentes séries e testemunharam a agonia do Tataitárrrr. Elas me deram os detalhes, eu só fiz dar uma ligeira enfeitada.

O que dizer das lideranças políticas do Amazonas


Ademir Ramos (*)

O Amazonas foi celeiro de lideranças com reconhecido valor no cenário nacional, políticos do porte de Álvaro Maia, Arthur Virgílio Filho, José Esteves, Bernardo Cabral, Plínio Coelho, Chico Queiroz, Homero de Miranda Leão, Jefferson Peres, Fábio Lucena, Gilberto Mestrinho, entre outros, que se destacaram não só por sua oratória, mas pelas habilidades no trata da coisa pública, manifestando compromisso e respeito ao povo deste estado.

No passado esses vultos se destacaram, merecendo de nossa gente toda forma de reverência e respeito pelo trabalho prestado à nação e, particularmente, ao povo do nosso Amazonas. Hoje, a qualquer momento, quando se fala em política partidária reclama-se a ausência de liderança apta a representar os interesses da cidade e do estado, capaz de agregar em torno de suas propostas e do seu próprio nome, valor que garanta benefícios diretos para o Amazonas.

Se no passado era assim, no Brasil de hoje, a Bancada do Amazonas no Congresso Nacional pouco ou quase nada significa, considerando que no Senado Federal o líder do governo é o ex-governador Eduardo Braga (PMDB). Por aqui quando passam esses cartolas da política cantam e falam grosso, lá em Brasília ficam no “gargarejo”, de forma estática, negociando nas Comissões projetos de duvidoso valor republicano em favor de grupos corporativos empresarias.

Em disputa o privado e o público: Nesse cabo de guerra, o povo é muito pouco lembrado, quase sempre em épocas eleitorais, onde os concorrentes batem a porta dos eleitores com anedotários, fazendo-se de vítimas, para mais uma vez obter do povo o aceite popular consagrado nas urnas.

A questão que não quer calar é compreender quem são esses políticos e como eles foram empinados ao olimpo da política e por que não corresponde a vontade popular. Em suma, qual a trajetória desses políticos e o que os credenciou para merecer do povo o que é mais sagrada da Democracia: o voto popular.

No passado eram feitos nas lides do Direito ou abençoados pelos seus tutores políticos que os viam como seguidores dos seus projetos. No presente, os fatos não são tão diferentes, o que alterou esse quadro significativamente foi o peso dos meios de comunicação de massa, sobretudo, a televisão, com a inserção de determinados atores em programa justiceiros e messiânicos direcionados especificamente as camadas mais desassistidas de nossa população.

A cultura de massa despersonalizou a política, criando um campo de força em favor dos políticos de laboratórios, que não tem projeto nenhum de base passando a praticar o populismo como regra para garantir o voto de cabresto dos excluídos. Nesse cenário, o poderio econômico se manifesta por meio das doações partidárias daqueles que colocaram ou prometem disponibilizar os seus mandatos a serviços dos interesses privados e das Igrejas.                

O jogo tem sido cada vez mais pesado, exigindo dos candidatos programáticos participação mais seleta se assim quiser se afirmar nesse cenário eleitoral. A população aumentou, a desigualdade social tornou-se cada vez mais perversa, a educação do povo pouco nada contribui para um julgamento justo com avaliação de programas e conferência das propostas dos candidatos, os partidos viraram moeda de troca em favor de políticos que buscam se beneficiar do somatório dos horários eleitorais, a classe média sem outro meio sustentável depende unicamente do Erário público para garantir seu status social, os meios de comunicação com pouco ou nenhuma autonomia nada fazem para alterar o quadro, as opiniões em disputas são muito mais dogmáticas do que políticas, comentando muito mais as regras ortográficas do que o significado do texto, que é o modus operandi do governante no exercício do poder do Estado, da Prefeitura, do Parlamento e do Poder Judiciário.    

Se o presente é duvidoso imaginem o futuro do nosso Amazonas se depender do porte das lideranças que atuam no campo da política do estado. O futuro requer redimensionamento do Polo Industrial de Manaus, de investimento em logísticas em suas diversas frentes, capacitação, inovação e domínio de tecnologias da informação, qualidade de gestão pública e privada, destacando o processo de ordenamento político e jurídico da capital, dos municípios e do estado como um todo.

Com ressalvas, o povo do Amazonas ressente-se de lideranças políticas partidárias capazes de assumir compromisso com sua gente, visto que atualmente no Congresso Nacional e nos Parlamentos do estado e do município os atores eleitos vinculam-se mais aos interesses paroquiais do que a política como cimento capaz de consolidar a construção de um projeto republicano. Fato esse que passamos a exigir tanto do governador do estado, do prefeito eleito, das mesas diretivas da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa do Estado.

Para a consecução desses objetivos é importante que as comunidades e a sociedade civil participem efetivamente por meio do movimento social, das organizações populares, liderança estudantis, em parceria com o Ministério Público, dando visibilidade dos seus atos através dos meios formais de comunicação e/ou das mídias sociais. Se assim fizer estaremos não só exercendo a cidadania, como também o equilíbrio entre os poderes, fazendo valer a justiça distributiva para o bem-estar social e ambiental do povo do Amazonas.

(*) É professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Problemas do setor elétrico


Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Energia é tema central para a sustentabilidade, entendida sob a perspectiva da interdisciplinaridade. No caso da energia elétrica é quase impossível imaginar qualquer atividade sem a sua presença, pois se tornou a principal fonte de luz, calor e força motriz utilizada no mundo moderno. Atividades simples como a de assistir à televisão, acender a luz ou navegar na internet somente são possíveis porque a energia elétrica está disponível. Hospitais, lojas, fábricas, supermercados, e uma infinidade de outros lugares precisam dela para funcionar. Grande parte dos avanços tecnológicos alcançados se deve à energia elétrica.

Obtida a partir de várias fontes primárias de energia, a eletricidade é gerada em grandes usinas. Transportada por fios e cabos condutores chega aos consumidores por meio de sistemas elétricos complexos. Assim é o atual sistema elétrico composto de quatro etapas: geração, transmissão, distribuição e comercialização.

O Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) é muito peculiar. Dos 128.571 MW instalados até 26/12/2012, 83.844 MW são provenientes de hidroelétricas, ou seja, 65,21 % do total. A energia eólica contribui com 1,41% (1.815 MW). As termoelétricas existentes utilizam diferentes combustíveis. O gás representa 10,31% (13.261 MW), petróleo/derivados, 5,71% (7.347 MW); biomassa, 7,63% (9.812 MW, sendo que o bagaço de cana produz 8.081 MW); carvão mineral, 1,79% (2.304 MW); e o urânio, 1,56% (2.007 MW). E são importados (Paraguai, Argentina, Venezuela e Uruguai) 8.170 MW, correspondendo a 6,36% do total instalado nas 2.729 usinas de geração. Como se verifica a eletricidade, provém mais da metade de potenciais hidráulicos, sendo predominantemente renovável. Depende fortemente das chuvas, pois quando o nível dos reservatórios abaixa, diminui a produção elétrica. O que se pratica hoje é utilizar termoelétricas a combustíveis fósseis (18% do total instalado), altamente poluidoras, para evitar a falta de energia, e assim complementar a geração hidroelétrica.

Um marco no setor elétrico foi a Lei 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 que promoveu grande parte do processo de desestatização, mercantilizando o setor. A solução dada à sociedade para o setor elétrico foi a privatização dos serviços elétricos. O que acabou acarretando na privatização de 100% das distribuidoras, aproximadamente 30% das geradoras e 20% das transmissoras, que passaram assim para a iniciativa privada. E o que era prometido com a privatização, melhorar a qualidade dos serviços e baratear a tarifa elétrica virou pesadelo.

A partir daí o setor público perdeu a capacidade de planejamento deste setor estratégico, resultando no desabastecimento e racionamento em 2001/2002. O planejamento foi resgatado parcialmente com a criação da Empresa de Planejamento Energético (Lei 10.847, de 15 de março de 2004), subordinada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Mas mesmo assim uma série de blecautes, com a interrupção no fornecimento de energia têm ocorrido no país, acentuando a freqüência destes eventos desde 2010.

A EPE trabalha com premissas de que o país para crescer 7% ao ano nos próximos 12 anos, irá dobrar seu consumo per capita de energia, e para isso deve acrescentar 5.100 MW anualmente ao seu potencial elétrico, até 2022. Não se podem levar a sério estes números, pois provavelmente este planejamento é comandado pelo oligopólio das grandes construtoras de usinas, dos construtores de equipamentos elétricos, das geradoras e distribuidoras de energia, levando em conta seus interesses específicos, e não os do país. Não por acaso, o governo insiste em leilões de hidroelétricas na região Amazônica, nas bacias dos rios Madeira (Jirau e Santo Antonio), Xingu (Belo Monte), Alto Tapajós (Teles Pires e Juruena) e Baixo Tapajós (Complexo São Luiz); na construção de mais usinas nucleares e nas termoelétricas a combustíveis fósseis. Todas estas financiadas com recursos do BNDES, que na verdade são recursos do Tesouro Nacional.

Aliado a insanidade “ofertista”, o governo federal não prioriza o uso racional de energia com políticas agressivas de eficientização energética e o uso de outras fontes renováveis de energia como a energia solar e a energia eólica, para a diversificação e a complementaridade da matriz elétrica nacional.

Diante dos fatos descritos, identificamos os seguintes problemas no cenário elétrico (e mesmo energético): dúvidas sobre a capacidade do governo para formular e executar, uma política energética que vise os interesses do povo brasileiro; falta de democracia, sendo as decisões tomadas por um número restrito de pessoas que tem assento no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE); ausência de um modelo participativo e regionalizado do planejamento elétrico; falta de transparência e equilíbrio dos dirigentes do setor; corporativismo dos técnicos das empresas do setor elétrico; desprezo a energia solar fotovoltaica e heliotérmica; e a interferência de grupos políticos que tornaram o MME verdadeiro feudo destes grupos, acarretando principalmente na incompetência de muito dos seus quadros dirigentes indicados por seus padrinhos políticos.

Portanto, é urgente e necessária, a modificação da atual política elétrica (e energética) para que a população brasileira não venha sofrer os graves prejuízos que recairão sobre as futuras gerações.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Allegro natalino


Ademir Ramos (*)

Recorro à música para expressar a minha alegria neste natal. O andamento musical bate no ritmo de nossos corações, comungando sonhos e projetos, na perspectiva de agregar força contra a corrupção, impunidade e a desigualdade social. Ainda mais, que a esperança seja semeada e brote na pátria brasileira em formato de movimento solidário, justo e sustentável, despertando nos filhos desta terra, o sentimento de pertença e que acreditem, sobretudo, na força de sua vontade capaz de promover mudanças nas estruturas sociais e políticas em favor do bem e da justiça social.

A liturgia do Natal soma-se com a expectativa do Ano Novo e a irreverência do Carnaval, onde as pessoas brincam de rei e rainha, de deuses, sem perder de vista, a certeza que são mortais e por isso reclamam de seus governantes e dos agentes públicas acesso às políticas públicas de qualidade que satisfaçam as necessidades básicas de nossa população tanto nas cidades como nos campos. A alegria natalina se expressa em múltiplas linguagens e gestos regidos pelo amor, em forma das relações fraternas cultivando a amizade, respeito e a confiança no outro pactuado pelas relações afins mediado pelos debates, discussões, encontros e diálogos que focam luzes para compreensão dos fatos, fazendo-nos crer que estamos aptos a participar desse mutirão da cidadania em defesa da felicidade como direito garantido a todos (as).

É Natal, momento de profunda reflexão em torno do nascimento do Deus-menino, “aquele que se fez homem para redimir os pecados do mundo.” Palavra de ordem que faz a pessoa acordar para a justiça, para salvação, nada mais do que a garantia do trabalho, terra e pão para todos, vivendo assim do “suor do seu trabalho” na dignidade e decência capaz de alimentar os seus e, de forma gratuita, partilhar o pão e os sonhos na eucaristia da esperança regada pelas lutas sociais como evento capaz de mobilizar, agregar e transformar o mundo em equilíbrio com as demais criaturas que constituem o meio ambiente.

A “redenção do mundo” faz-se pela sustentabilidade de suas comunidades se assim quiser viver na justiça e na paz. A ganância, a miséria e a mentira, embrutecem a todos reduzindo as pessoas em coisas. O reparo da justiça dá-se pela inteligência da recomposição da ordem tal como a unidade de uma sinfônica, que por natureza reuni variados instrumentos, mas sob-regência se faz uníssona tocando nos corações e mentes em direção à luz que lumia novos caminhos para realização dos nossos sonhos e projetos com sede de justiça e sabor de muito esperança.

Este ágape fraterno vivenciamos quando compartilhamos com os professores, estudantes e pais de alunos, o calor das lutas pela melhoria de nossa educação. Da mesma forma, compartilhamos com a Comuna Jaraqui, movimento de rua, que fazemos todos os sábados na República Livre do Pina, no Centro Histórico de Manaus, na Praça Helidoro Balbi. A Comuna é uma tribuna livre, onde o cidadão participa expondo problemas, debatendo e encaminhando questões sociais fazendo valer os interesses coletivos, contrapondo-se a corrupção, a impunidade e a injustiça. Pelo momento, a Comuna Jaraqui encerrou os seus trabalhos no sábado (22), devendo voltar no próximo ano com a mesma determinação e coragem.

Allegro, alegríssimo, saúdo a todos (as) amigos e colaboradores que fortalecem a nossa luta pela justiça na academia, nas fronteiras do movimento social e ambiental, nas tribunas populares, nas mídias presentes e virtuais, botando a boca no trombone contra os malfeitores e oportunistas que pretendem se apropriar dos direitos dos cidadãos em benefício próprio. Natal é luz a clarear caminhos para novas conquistas. Por isso, desejo a todos (as) Feliz Natal e um Próspero Ano com pão, terra e trabalho.                                

(*) É professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Casa Mamãe Margarida-26 anos: Natal Luz e Trevas


Recebemos esse maravilhoso Cartão de Natal, enviado pelo amigo Valter Calheiros, o cartão traz mais que uma mensagem natalina, ele nos convoca a tomarmos uma atitude mais contundente na luta contra o trafico de pessoas e a prostituição seja ela infantil ou adulta.

A produção da campanha Natal. Luz e Trevas é da Instituição Mamãe Margarida que há 26 anos luta para dignificar vidas, resgatando pessoas para o convívio social dos cidadãos de bem em nossa cidade.

História da Casa Mamãe Margarida 

"Com a crise sempre crescente da Zona Franca, o surgimento de novas tecnologias e as novas formas de trabalho, cresceu o numero de desempregados, assim como a economia formal e o subemprego, o número de mendicância, criminalidade, alcoolismo, violência, exploração e conflitos familiares. Foi neste contexto que a Casa Mamãe Margarida no dia 02 de abril de 1986 foi fundada para atender a população infanto-juvenil em dois sistemas: sócio-educativo em maio aberto e abrigo para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social."

Agradecido pela lembrança e do amigo Valter que nos honrou com esse mimo de Natal, estou compartilhando com todos que navegam e curtem as ondas dos espaços que mantemos nas redes sociais como referencial do nosso compromisso social e politico. Valter, muito obrigado pela lembrança e Feliz Natal, que em 2013 nossa amizade continue muito mais forte para juntos continuarmos nossa luta por um mundo mais justo e humano.  

Elson de Melo
CASA MAMÃE MARGARIDA - 26 ANOS
Acolhendo, Promovendo e Defendendo a Vida.
Natal. Luz e Trevas

Aos Caríssimo amigo Elson Melo e Família.

Com carinho estamos enviando o nosso Cartão de Natal 2012.

O poema NATAL. LUZ E TREVAS é de autoria de Celdo Braga, amazonense que dedica sua poesia à vida do caboclo da Amazônia.

NATAL. LUZ E TREVAS é uma proposta de reflexão sobre um problema social e humano que se alastra silenciosamente em todo o Brasil: O Tráfico de Pessoas.

A escolha do tema TRÁFICO DE PESSOAS é fruto do trabalho pedagógico realizado com um grupo de meninas da Obra Social, onde surgiu a idéia do poema e a produção de um banner com: 

07 DICAS PARA VOCÊ NÃO SER VÍTIMA DO TRÁFICO DE PESSOAS

1) Não acredite em pessoas desconhecidas que você encontrou na internet e evite dar informações pessoais;
2) Não marque encontros com pessoas que você conhece somente através das redes sociais;
3) Não fique de conversa com estranhos, principalmente no Facebook e na sala de bate-papo da internet. Não entre nessa!
4) Evite sites que organizam encontros para baladas, namoro, “ficar”, noivado e até casamento;
5) Cuidado com convites para fazer cursos em agencias de modelo. Eles oferecem emprego em outras cidades e no estrangeiro! Isso é prostituição!
6) Evite usar roupas curtas e não fique mexendo com quem você não conhece.
7) Não aceite carona, dinheiro... não aceite nada de pessoas estranhas.

BOTE UM PONTO FINAL NISSO.
EU JÁ! E VOCÊ?

Que nosso compromisso com o Menino Jesus possa nos fazer operar nessa dura realidade vivida por muitas famílias!

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

Valter Calheiros

sábado, 22 de dezembro de 2012

Na cama, com Silvio Tendler


José Ribamar Bessa Freire
23/12/2012 - Diário do Amazonas

A velhice nos dá coragem. Por isso, depois de tanto tempo, ouso confessar, publicamente, sem qualquer pudor e até com certo orgulho, que o cineasta Silvio Tendler e eu, na juventude, dormimos na mesma cama. Sei que dessa forma escandalizo algumas mentes pudibundas, como a do general-de-exército Renato César Tibau da Costa. Mas fazer o quê? Não posso continuar ocultando o fato ocorrido há mais de 40 anos, porque tem testemunha: a doutora Giane Lessa. Portanto, às favas com os escrúpulos, como disse o coronel Jarbas Passarinho ao aprovar o AI-5.

Quem é, afinal, o general Renato César? Em 1964, era apenas um aspirante-a-oficial da arma de Cavalaria, recém saído da Academia das Agulhas Negras (AMAN). Paraquedista, comandou depois a 1a. Brigada de Infantaria de Selva, em Boa Vista (RR). Agora, presidente do Clube Militar, ele organizou, em março, uma festa de arromba para comemorar o aniversário do golpe de 1964. Ou seja, quase meio século depois, o general queria celebrar a deposição do presidente eleito por voto popular, assim como a prisão, tortura, morte ou exílio daqueles que se opuseram ao golpe.

A velhice deu coragem também a ele. Diz o ditado popular que quem não tem Rubicão caça com Guaxindiba. O César de igarapé, numa gesta épica, cruzou, pois, valentemente, o rio Guaxindiba, em São Gonçalo, atravessou, incólume, o conturbado trânsito da avenida Rio Branco, entrou sem nenhum ferimento no Clube Militar e, destemido, sem vergonha na cara, festejou com frase heroica para a posteridade:   

- Alea jacta est.  

Os dados lançados eram pura provocação do general. Essa foi, talvez, sua última grande batalha, se é que existiram outras. O "inimigo" decidiu zonear a festa do general, considerando-a como uma afronta à sociedade brasileira e à democracia. Manifestantes protestaram. Houve tumulto generalizado e enfrentamento com a polícia. Desacostumado com o exercício da discordância, o general ficou chateado porque cortaram o seu barato. Foi até a 5a. Delegacia de Polícia, no Centro do Rio, e exigiu abertura de queixa-crime contra Silvio Tendler por "constrangimento ilegal qualificado".

Batalha do Clube

O cineasta, efetivamente, em mensagem no you tube, havia apoiado o protesto, como qualquer cidadão sadio e sensível pode fazê-lo num regime democrático. Mas acontece que no dia da Batalha do Clube Militar, 29 de março de 2012, ele se recuperava de uma cirurgia de descompressão da medula.

-  Eu estava em casa, tetraplégico, e eles me acusaram de ter usado paus e pedras na manifestação - disse Tendler que, nesta última quinta-feira, depois de meses do ocorrido e ainda com sequelas da operação, foi depor atendendo intimação do delegado. 

A cadeira de rodas que o levou até a delegacia carregava nela 62 anos de vida bem vivida, 40 filmes que dirigiu e toda sua história: os cursos de cinema que fez na França, os prêmios de público e da crítica que ganhou em festivais, os troféus nacionais e internacionais, os milhões de espectadores que viram seus filmes entre os quais O Mundo Mágico dos TrapalhõesJango e Os Anos JK e até mesmo a medalha Tiradentes, condecoração que recebeu da Assembleia Legislativa do Rio pelos relevantes serviços prestados à cultura.

Ex-presidente da Associação Brasileira de Cineastas, Tendler atuou em diversas frentes culturais: dirigiu a Fundação Rio Arte e o Centro Cultural Oduvaldo Viana Filho, foi diretor da TV Brasília, secretário de Cultura e Esporte do governo Cristovão Buarque no Distrito Federal e Coordenador de Audiovisual para o Brasil e o Mercosul da Unesco. Professor de Comunicação Social da PUC-RJ, ele não entrou sozinho na delegacia. Lá estavam, solidários, algumas dezenas de manifestantes com cartazes e fotos de desaparecidos políticos.

No final, esse inquérito fajuto não vai dar em nada, mas não pode passar em branco o topete do presidente do Clube Militar, que não tomou conhecimento do fim da ditadura. Não sabemos se o general paraquedista Renato César participou das gloriosas batalhas que aconteceram no governo militar. Numa delas, narrada por Cony, um general com sua tropa cercou a Faculdade Nacional de Direito e, num arroubo de bravura, ocupou o território inimigo: a cantina do Centro Acadêmico Candido de Oliveira (CACO), depois de prender vários "combatentes do exército adversário": estudantes imberbes armados de pau e pedra.

Essa foi uma façanha heroica digna do outro César depois da campanha do Egito. César, não o Renato, mas o Júlio, comemorou a vitória arrasadora com a conhecida frase "Veni, vidi, vici" (Vim, vi e venci). Qual a frase do César de igarapé, o general Renato, depois da Batalha do Clube Militar, quando foi peitado pelo protesto dos manifestantes? Podia muito bem ser, num latim de missa capenga:

- Veni, vidi et no credo quod vidi (Vim, vi e não acredito no que vi).

Festim diabólico

A César o que é de Renato e a Silvio, o que é de Tendler. No domingo passado, Silvio Tendler publicou carta endereçada ao delegado responsável pelo inquérito, onde afirmou com todas as letras que era contra a comemoração do "aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime". Protestou contra sua criminalização: quem deve ser incriminado é quem estava comemorando, contrariando a determinação da presidenta da República - diz a carta.

O cineasta sugere ao delegado que "procure apurar se o canalha que prendeu, torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do 'festim diabólico'. Isso sim é constrangimento ilegal. E já que se trata de assunto de polícia, aproveite para pedir ao 'constrangedor ilegal' que ficou com o relógio da minha mãe - ela entrou com o relógio no Doi-Codi e saiu sem ele - que o devolva. É fácil encontrar o meliante. Comece pelo comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo".

A velhice também deu coragem ao cineasta, que não é lá tão velho assim. A ele expresso, aqui no Diário do Amazonas, minha solidariedade. Afinal, ninguém esquece uma cama compartilhada.

Foi assim. Faz alguns anos, uma doutoranda que eu desorientava, Giane Lessa, me convidou para almoçar num restaurante com Silvio Tendler, a quem eu não conhecia. Durante o almoço, descobrimos, surpresos, que nossos caminhos por pouco não se cruzaram: ambos fomos exilados no Chile e na França, mas ele chegou dias depois de minha saída desses países.

Tendler perguntou onde eu havia morado em Santiago. Falei que passei um período na casa do Thiago de Mello e depois fui para uma pensão. Já quase na sobremesa, ele quis saber o endereço da pousada:

- Calle Michimalongo - eu disse.

Era muita coincidência, ele havia se hospedado no mesmo endereço em Santiago, numa casa onde havia três quartos com um total de 12 camas. Dona Adriana, a proprietária, e Juanita, a empregada, foram lembradas durante o nosso almoço. Finalmente, depois do cafezinho e na hora de pagar a conta, quase se despedindo, ele perguntou:

- Por pura curiosidade, qual era teu quarto?

- Aquele que ficava em frente da sala de jantar.

Foi o mesmo quarto que o abrigou.

- Qual das quatro camas?

- A que estava encostada na janela.

Foi aí que descobrimos: no nosso exílio, havíamos dormido na mesma cama. Depois que eu sai, ele ocupou minha vaga. O general Renato César que me desculpe, mas eu não podia deixar passar em branco essa agressão ao meu colega de cama e de exílio. Afinal, como cantou Paulo Leminski:

En la lucha de classes / todas las armas son buenas: / piedras, / noches,/ poemas.
     
P.S. - Aos leitores, fiéis e infiéis, que me acompanharam em algumas dessas viagens textuais durante o ano, um Feliz Natal.

24 anos da morte de Chico Mendes: o percursor do Ecossocialismo

 Elson de Melo(*)

Chico Mendes foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988 quando saia para tomar banho no quintal de sua Casa em Xapuri(AC). Tomei conhecimento da sua morte pelo rádio na manhã seguinte. Foi um choque para mim que havia conhecido, por ocasião do Congresso de Fundação da CUT em 1983 na cidade de São Bernardo do Campo(SP) no pavilhão Vera Cruz, nos encontrávamos sempre em outros eventos pelo Brasil, como no seu julgamento na Auditoria Militar no Bairro de São Jorge em Manaus(AM), na época, embora sendo Presidente do PT em Manaus e credenciado para assistir o julgamento, não pode comparecer devido não ter conseguido ser liberado na empresa que trabalhava, mas mesmo assim nos vimos depois do evento.

Passado 24 anos, ainda guardo na memoria aquela fatídica notícia, que logo a seguir, fora confirmada na TV. Nessa hora, muitas interrogações passam na mente dos que compartilham da mesma ideia e de muitas lutas semelhantes, comigo não foi diferente, afinal eu ainda era apenas um jovem que iniciava a vida como operário na Zona Franca de Manaus e como Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, queria entender porque alguém conseguiu ter a coragem de assassinar uma pessoa tão dócil e humanista como era o grande Chico.

Que mal fez o Chico? Perguntava muito inquieto e apreensivo com tudo aquilo quem aconteceu com ele, e que certamente poderá acontecer comigo, e a qualquer pessoa que ousa desafiar a ordem estabelecida. Garanto a vocês que somente há pouco tempo consegui entender a dimensão da luta do Chico e dos seus camaradas seringueiros. No princípio achava que era apenas uma questão sindical, uma espécie de reivindicação como fazemos no sindicalismo urbano.

Não! Chico combatia a fúria do latifúndio predador e sanguinário, desafiava com os empates que organizava os senhores do poder instituído e a ordem estabelecida, Chico dava inicio a construção de uma nova ordem social, uma combinação de Ecologia e Socialismo. Chico é considerado hoje como o percursor do Ecossocialismo, como afirma Michael Löwy, em artigo: Razões e estratégias do Ecossocialismo :

Um exemplo de uma luta desse gênero, de um brasileiro que é para mim o precursor do ecossocialismo: Chico Mendes, um socialista confesso e convicto, e ecológico. Chico Mendes organizou a Aliança dos Povos da Floresta para defender a floresta como patrimônio comum dos povos indígenas e camponeses, patrimônio do povo brasileiro em seu conjunto, e também da humanidade. A defesa da floresta é uma causa do conjunto da humanidade porque, como se sabe, as florestas — em particular a Amazônia — são os chamados “poços de carbono” que absorvem os gases que estão na atmosfera. Se não houvesse essas florestas tropicais, o processo de aquecimento global já teria escapado de qualquer controle e já estaríamos no meio da catástrofe. O que ainda breca um pouco o processo são as florestas tropicais. Na Aliança dos Povos da Floresta, Chico Mendes fez um primeiro movimento em direção ao ecossocialismo, com a ideia de propriedade comum, bem comum dos povos, bem comum da humanidade.”.

Chico Mendes está vivo em cada um de nós...

História de Chico Mendes  

Chico Mendes, ainda criança, começou seu aprendizado do ofício de seringueiro, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a ler aos 19 e 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em suas propriedades.[2]

Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.

Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local.

Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com suas lutas.

Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.

Representantes dos povos da floresta (seringueirosíndiosquilombolas) apresentam reivindicações durante 2º Encontro Nacional, emBrasília

Chico Mendes foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado decomícios com Lula na região.

Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de BrasiléiaWilson Sousa Pinheiro.

Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue se eleger após isso ele começa a sofrer ameaças de mortes.

Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.

Liderou o 1º. Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazônica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam asáreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.

Em 1986 participa das eleições daquele ano pelo PT-AC candidato a Deputado estadual ao lado de outros candidatos entre eles Marina Silva para Deputada federal, José Marques de Sousa o Matias para Senado, e Hélio Pimenta para Governador, não sendo nenhum deles eleito.[3]

Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID. Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião, Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prêmios internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente.

Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação daUDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.

Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de perder a vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.

Morte de Chico Mendes

Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa,[4] quando saía de casa para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia, e buscou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção. Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou dois filhos, Sandino e Elenira, na época com dois e quatro anos de idade, respectivamente. Em 1992, foi reconhecida, através de exames de DNA, uma terceira filha.

Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas se juntaram para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiam providencias e através de articulação nacional e internacional pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido.

Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e 8 meses de prisão (Fonte: Wikipédia).

(*) Elson de Melo é Sindicalista

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