sábado, 26 de maio de 2018

Da Vila Euclides á Greve dos Caminhoneiros

José Luiz Fevereiro
Em: 26 de maio de 2018
A greve dos caminhoneiros, hoje no seu sexto dia, abriu forte debate na esquerda. Greve ou Lockout? afinal autônomos, pequenos e grandes empresários tinham uma mesma pauta , resultado de uma politica de preços insana da administração da Petrobrás.
O ajuste quase que diário dos preços nas refinarias de um insumo estratégico para a economia, resultou em 12 aumentos só no mês de maio. Pressionados pela redução da demanda por fretes em função da devastadora recessão, uma categoria já em crise e com acentuada queda de renda, sofre os reajustes quase diários porque o cambio subiu, porque o petróleo subiu, porque afinal os acionistas da Petrobras precisam maximizar seus lucros.
A justeza da pauta que se choca frontalmente com a agenda neo liberal já é razão bastante para que a esquerda não titubeasse no seu apoio á greve. Mesmo que fosse o caso, que não é, dos empresários do setor serem os grandes beneficiados de uma eventual derrota do governo. Se empresários se contrapõem á gestão privatista da Petrobras e sua politica de preços, ótimo.
Acontece que a categoria dos caminhoneiros historicamente é hegemonizada ideologicamente pelo conservadorismo. A própria natureza da atividade, descentralizada, individual, onde a renda de cada um depende de seu desempenho pessoal, não estimula lutas coletivas nem a formação de espaços coletivos de debate, o que torna o terreno mais difícil para a esquerda. Por outro lado a crise precarizou enormemente a categoria e a levou á confrontação com a agenda liberal do governo.
A extrema direita percebeu o potencial politico do movimento e trabalhou organizadamente para colar a sua agenda nesta luta. Faixas produzidas de forma industrial com as palavras de ordem do fascismo não caíram do céu nem apareceram espontaneamente nos bloqueios. A esquerda demorou a reagir mas acertadamente acabou por tomar o lado certo no apoio á greve. Se não disputarmos deixaremos o terreno livre para a extrema direita que como todo o movimento de características fascistas se tornou no Brasil um movimento de massas, muito organizado, e com real capacidade de mobilização.
A crescente desindustrialização do Brasil e o processo de reestruturação produtiva reduziram enormemente o peso do operariado e de categorias organizadas onde tradicionalmente a esquerda tem força. Significativo notar que as 3 principais mobilizações grevistas ocorridas nesta década no Rio de Janeiro, que tiveram forte impacto na sociedade e que ganharam adesão popular tenham sido a dos bombeiros em 2011, as dos garis em 2014 e agora a dos caminhoneiros. Luta social do precariado. As intermináveis greves de professores não logram nem repercussão nem maior solidariedade. Esses, por duros que sejam, são os fatos.
Não teremos mais Vila Euclides e a histórica greve dos metalúrgicos do ABC. Hoje quem move a historia é o bloqueio no trevo de Manilha. E lá a disputa é com a extrema direita também anti liberal. Esse cenário chegou para ficar. Quem na esquerda não estiver preparado para disputar politica de massas com o Bolsonarismo nas ruas, sugiro preparar passaporte e emigrar talvez para a Groenlândia. Ou assumir seu papel de comentarista da luta de classes.
Em 2011 os bombeiros mobilizaram todo o estado na sua luta contra Cabral. Eles fazem parte de uma corporação militarizada, são na sua maioria evangélicos e ideologicamente hegemonizados pela extrema direita e suas pautas. Mas foi importante a esquerda ter apoiado a sua luta em 2011. Hoje há uma liderança de esquerda na corporação, a ABMERJ, sempre presente e solidaria nas lutas sindicais de outras categorias e que cumpre um importante papel. Toda a liderança do movimento dos garis de 2014 está na esquerda.
E agora? vamos deixar o fascismo representar os caminhoneiros sem disputa?"

Fonte: José Luiz Fevereiro Facebook 

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