sábado, 13 de julho de 2013

Dia Nacional de Lutas: o choque de realidade para o Movimento Sindical Brasileiro

A fraca participação dos trabalhadores no Dia Nacional de Lutas realizado na quinta feira (11/07/2013), onde apenas a cúpula do Movimento Sindical Brasileiro compareceu nas manifestações convocada pelas Centrais Sindicais, é o reflexo da inercia desse movimento diante das demandas reais da classe trabalhadora do nosso país.

O vexame só não foi maior, por que o Movimento Passe Livre-MPL aderiu as mobilizações, participando ativamente das articulações para viabilizar os atos, e graças ao empresariado do setor de transporte coletivo que resolveu dar uma mãozinha e atendeu a convocação do governo permitindo que a maioria de sua frota não saísse das garagens, foi uma espécie de locaute com recomendação oficial!!!

A greve geral anunciada pelas Centrais, não aconteceu de fato, apenas algumas categorias ligado ao Serviço Publico e ao setor de Serviços paralisaram suas atividades, já no setor da Indústria onde a CUT e a Força Sindical é homogênea, o índice de paralisação não chegou 0,01%. O que ocorreu na verdade foram bloqueios de estradas por Dirigentes Sindicais e de alguns outros Movimentos Sociais, por outro lado, como era de se esperar, a Presidente Dilma viajou sem dar a menor importância a Pauta das Centrais, pareceu que tudo não passou de mera encenação.

O Dia Nacional de Luta do dia 11 de julho de 2013 convocado pelas Centrais Sindicais, tendo a frente a CUT/PT e a CTB/PCdoB, teve a chancela do Palácio do Planalto e do governo Dilma/PT, a configuração está na Liminar obtida pela Advocacia Geral da União – AGU, que proibia o bloqueio de Estradas, onde figuravam como réus a Foça Sindical e UGT, Centrais sem ligação direta com o PT e PCdoB, uma constatação que confirma nossa desconfiança quando questionamos os objetivos desse evento na publicação anterior intitulada “11 de julho Dia Nacional de Lutas ou Operação salva Dilma?”.

Não é a primeira vez que fatos dessa natureza já ocorreram nessa relação Governo e Movimento Sindical Brasileiro, podemos destacar as Greves Gerais de 1961 organizadas pelo Comando Geral dos Trabalhadores – CGT para garantir a posse de João Goulart, que o mesmo sancionasse a lei do 13º Salario e pela marcação do Plebiscito para que o povo decidisse por Presidencialismo ou Parlamentarismo, qualquer semelhança não é mera coincidência!

Assistindo o balanço do Dia Nacional de Luta feito pelos Presidentes das principais Centrais na sede da Força Sindical em São Paulo na seta feira (12/07/2013), observamos que as declarações foram todas no sentido de atenuar o fracasso e até justificar suspeitas de contratação de pessoas para atuarem como ativista sindical nas diversas manifestações que ocorreram, nesse particular, não é a primeira vez que fatos dessa natureza são denunciados pela imprensa, verdade ou não, o certo, é que, o Sindicalismo Brasileiro precisa urgentemente de um “choque de realidade” e fazer uma autocritica no sentido de rever suas praticas.

O Movimento Sindical Brasileiro costuma avaliar suas ações observando apenas o momento em que realizou determinado evento, essa pratica reflete a natureza desse movimento, cujas ações são em grande maioria circunstanciais e visam apenas dar respostas imediatas e pontuais aos fatos que se apresentam.

Se observarmos a historia, vamos constatar que a luta operária no Brasil, só avança quando surgem novas lideranças dispostas a romper com a estrutura sindical que atrela os Sindicatos ao Estado e os transforma em instituições de colaboração com esse Estado autoritário, perdulário e excessivamente controlador. Foi com a bandeira da ruptura com estrutura sindical vigente mais a liberdade e autonomia sindical diante do Estado e dos patrões, que o PT e a CUT se firmaram e consagraram Lula como a grande esperança do povo brasileiro, grifo nosso.

A luta operária chegou ao Brasil atravessando o Atlântico nos porões dos navios que conduziam militantes anarquistas expulsos de suas pátrias por se rebelarem contra a exploração e os maltrato sofridos no chão de fabrica na Europa.

A industrialização brasileira foi alicerçada na exploração desses grandes camaradas, que reagiam organizando suas lutas em associações de ajuda mutua e depois em Sindicatos tendo como principio a Solidariedade a luta de classe e como objetivos de luta a redução da jornada de trabalho, melhores salários, melhorias nas condições de trabalho e liberdade de organização dos trabalhadores diante do Estado e dos Patrões..

Com a revolução Russa em 1917, muitos desses camaradas anarquistas, juntaram-se com outros operários e organizaram o Partido Comunista no Brasil, desde então, estabeleceu-se uma disputa pela hegemonia do movimento operário envolvendo anarquistas e comunistas, só a partir de 1946 o PCB assume a hegemonia do Sindicalismo no Brasil perdurando até 1964 quando houve o golpe militar que desarticulou o Sindicalismo em nosso país.

A disputa pela hegemonia do Sindicalismo no Brasil está desde a década de trinta (30) dividido em duas frentes e já sofreram diversas colorações: sindicalismo revolucionário versos sindicalismo amarelo, sindicalismo combativos versos sindicalismo pelegos..., hoje com a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT e a legalização das Centrais Sindicais num total de seis (06), predomina a hegemonia do sindicalismo de colaboração com o Estado (peleguismo), esse seguimento está representado pelas Centrais Sindicais, CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CGTB, que são subvencionados pelo Governo, já o sindicalismo combativo é muito minoritário e estão representados nos projetos de Centrais Sindicais CSP-Conlutas e ITERSINDICAL, porém, esse seguimento não tem uma proposta clara de rompimento com a estrutura sindical vigente e com o sindicalismo Colaborador com o Estado, e o que é pior, mantem certo atrelamento a Partidos Políticos, isso dificulta o entendimento dos trabalhadores quanto a liberdade e autonomia sindical e a relação com o Estado.

Se compararmos o Dia Nacional de Lutas com as outras manifestações promovidas por grupos juvenis ligados as redes sociais, podemos concluir que o monopólio dos velhos dirigentes sindicais a cada dia está ruindo, mostra um desgaste dessas Instituições, desnuda sua representatividade e os desqualificam como interlocutores legítimos dos anseios da classe trabalhadora.

"Sindicalismo tenta buscar espaço perdido em protestos"


Nas manifestações promovidas pela juventude, o entusiasmo era contagiante, o objetivo coletivo ou individual estava estampado nos cartazes, mas podíamos identificar em cada rosto, em cada olhar, em cada grito, no choro e até no caminhar das pessoas, o sentimento de indignação e o clamor por justiça e mais respeito pelas demandas populares, já nas manifestações do Dia Nacional de Luta das Centrais Sindicais, pairava sobre as pessoas a suspeita se o que estava sendo feito ali, era uma manifestação de protesto ou alguma coisa que faltava ser entendido, em Manaus, a resposta veio quando um dirigente da CUT, usou da palavra e bradou, “sou da GUT, sou do PT e apoio a Presidente Dilma!!!”, a ração dos presentes não foram de entusiasmo, mas de total apatia, numa demonstração clara que a partir daquele momento, não haviam mais duvidas que se tratava de uma manifestação ‘chapa branca’.  

O Movimento Sindical, tanto quanto os Partidos Políticos, precisam urgentemente de novas lideranças, de transparências, de atitude, de austeridade, de decência, de um choque de realidade! Os novos operários precisam assumir suas entidades de classe e construírem uma nova forma de fazer sindicalismo, o apelo popular que estamos vendo nas ruas cobrando dos governos mais compromisso com a educação, saúde, transporte, habitação, esporte, lazer, entretenimento, recreação, segurança..., precisa chegar aos Sindicatos e cobrar das Diretorias que as mesmas estejam realmente a serviço dos Trabalhadores.


Elson de Melo

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