Heitor Scalambrini Costa
05/05/2017
Um amigo sulista, ao conhecer mais detalhes
das violações socioambientais ocorridas no território do Complexo Industrial
Portuário de Suape (CIPS), cunhou a frase utilizada como título deste artigo.
Sem dúvida a comparação entre as duas
realidades destes mega empreendimentos tem tudo a ver. Refletem a crueldade,
perversidade, destruição, truculência, barbaridade, improbidade, desumanidade,
indignidade, crime; cometido contra as populações nativas/tradicionais e contra
a natureza. O que deve ser ressaltado é o papel do Estado brasileiro; por um
lado o governo federal e por outro o governo de Pernambuco, como o grande e
maior violador de direitos humanos e da natureza. Sem dúvida, não esquecendo a
responsabilidade das empresas
Com relação ao número de trabalhadores
envolvidos nestas duas mega obras, a de Suape foi o dobro de Belo Monte. No ápice
das obras de Belo Monte, em outubro de 2013, atingiu 25 mil pessoas; e em Suape,
entre 2012 e 2013 superou 50 mil pessoas (segunda maior desmobilização de
trabalhadores depois da construção de Brasília). O que existe em comum neste
caso foi a total falta de planejamento na desmobilização dos trabalhadores
finda a parte da construção civil destes empreendimentos.
Diferentemente do que prometiam os
governos, a grande maioria dos empregados das construtoras contratadas não eram
da região, vinham de toda parte do Brasil. E nada foi feito para realoca-los em
outras atividades econômicas. O que gerou, e tem gerado um alto desemprego,
resultando em graves problemas nas áreas urbanas dos municipios onde se
encontra o Complexo Suape, como a favelização, violência, prostituição, aumento
significativo da criminalidade. Além de déficits em áreas como saúde,
saneamento, moradia, etc, etc. Nada diferente do que ocorreu em Altamira.
Foram incalculáveis a destruição ambiental
promovida, tanto na construção da hidroelétrica, a terceira maior do mundo,
quanto na instalação das indústrias no CIPS. Neste caso atingindo mangues (mais de
1.000 ha foram e continuam sendo destruídos), restinga, resquícios da Mata
Atlântica, corais marinhos. Ademais a poluição de riachos, rios, e nascentes
que compõem a bacia hidrográfica da região metropolitana do Recife.
É de ressaltar a atração e o incentivo para
que as indústrias sujas viessem se instalar em Suape. Como é o caso de
termoelétricas a combustíveis fósseis, estaleiros, refinaria, petroquímica,
parque de armazenamento de derivados de petróleo.
Hoje estes dois territórios, o de Belo
Monte, e o de Suape sofrem as perversas consequências de um desenvolvimento predatório,
excludente e concentrador de renda. Cuja principal característica comum é a
destruição da vida.
Enquanto acontecem estes crimes contra as
populações nativas e tradicionais (índios, ribeirinhos, pescadores catadores de
mariscos, agricultores familiares), com reflexos nas áreas urbanas; a sociedade
brasileira, em sua maioria, finge desconhecer esta triste realidade cometida
pelo poder público com cumplicidade das empresas. Tudo em nome do “progresso”.
De alguns, evidentemente.
Até quando?
Heitor
Scalambrini Costa, é professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
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