FENAJUD
SEGUNDA, 27 DE AGOSTO DE 2018
Ao completar seis meses em vigor, a reforma trabalhista tem
impactado de maneira mais relevante setores marcados por baixos salários e alta
rotatividade, como o comércio, aumentando a precarização para os empregados
desse segmento, apontam pesquisadores da Unicamp, em artigo. Publicado na
semana passada no site “Brasil Debate”, o texto foi citado.
Publicado na semana passada no site “Brasil Debate”, o texto foi
citado nesta segunda-feira (25) na rede social Twitter pelo ex-prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad, cotado para substituir Luiz Inácio Lula da Silva como
candidato do PT à presidência nas eleições de outubro.
No artigo, os pesquisadores Barbara Vallejos Vazquez, Euzebio
Jorge Silveira de Sousa e Ana Luíza Matos de Oliveira, do programa de pós-graduação
em Desenvolvimento Econômico da Unicamp, analisam os efeitos da reforma
trabalhista, que entrou em vigor em novembro do ano passado, em três aspectos:
o nível de emprego formal, as demissões por comum acordo e o trabalho
intermitente.
Quanto ao nível de emprego celetista, os pesquisadores destacam
que a tímida recuperação de 2018, com a criação líquida de 311 mil empregos
formais até abril, “está longe de significar recomposição do estoque de
empregos”. Segundo os especialistas, o estoque de empregos formais chegou a
41,3 milhões de postos em setembro de 2014, nível máximo da série, caindo para
38,2 milhões em abril de 2018.
Quanto à variação do saldo de emprego nas regiões do país entre
janeiro e abril deste ano, os pesquisadores destacam que o Nordeste é a única
região que apresenta saldo negativo de emprego formal (-0,61%) e o Norte
apresentou crescimento inexpressivo (0,04%), enquanto o Sudeste (0,98%), Sul
(1,72%) e o Centro-Oeste (1,87%) tiveram variações positivas no saldo de
empregos formais no país”, escrevem os pesquisadores. Eles mesmos ressaltam,
porém, que “a reforma trabalhista entra em vigor em um período de profunda
crise econômica e persistente piora nos indicadores do mercado de trabalho, o
que dificulta a distinção entre fenômenos associados aos reflexos da reforma
daqueles associados à recessão na economia brasileira”.
A reforma trabalhista criou a figura da demissão por comum acordo,
que autoriza a extinção do contrato de trabalho mediante pagamento pela empresa
de apenas metade do aviso prévio e metade da indenização sobre o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Já o funcionário pode sacar até 80% do
FGTS, mas não tem direito ao seguro-desemprego.
Os pesquisadores destacam que, de janeiro a abril, já foram
realizados 52,9 mil desligamentos nesta modalidade. Também houve um gradual
aumento da utilização desta forma de desligamento, saindo de 805 em novembro e
5,8 mil em dezembro, para um pico de 13,5 mil em março, caindo novamente a 12,2
mil em abril — quando foram realizados menos desligamento na economia em geral.
Por tipo de ocupação, as demissões por comum acordo foram mais comuns para
vendedor do comércio varejista (2.904 entre novembro de 2017 e abril de 2018),
seguida por auxiliar de escritório (1.968), vigilante (1.720) e faxineiro
(1.714).
Por setores de atividade, o mais impactado foi o de restaurantes e
outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebida (2.787), seguido
por transporte rodoviário de carga (1.752), atividade de vigilância e segurança
privada (1.721) e comércio varejista (1.681).
Quanto ao trabalho intermitente, 17 mil trabalhadores foram
contratados desta maneira desde a aprovação da reforma trabalhista. As
ocupações com maior saldo de empregos nesta modalidade de contrato são
respectivamente “assistente de vendas”, “servente de obras” e “faxineiro”. Além
disso, 93% dos trabalhadores com contratos intermitentes possuem até o ensino
médio. “Com os dados iniciais, pode-se inferir que a reforma tem impactado
setores marcados por baixos salários e alta rotatividade, como o comércio,
relegando os empregados desse setor a uma situação mais aguda de precariedade”,
avaliam os pesquisadores da Unicamp.
Além disso, segundo eles, não está provado que flexibilizar o
mercado de trabalho efetivamente gere empregos. “O que os estudos mostram é que
a geração de empregos está ligada ao crescimento econômico”, argumentam. “Mas,
com os gastos do governo engessados e o crédito escasso, o crescimento hoje no
Brasil patina por depender quase que somente do consumo das famílias (e por isso
obviamente do mercado de trabalho), que é justamente a variável que se queria
ajustar em 2015 com o choque recessivo”, concluem.
(Thais Carrança | Valor)
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