Ademir Ramos (*)
A banalização da política cria no
cidadão comum à indiferença, justificando, inclusive, a corrupção de alguns
cartolas que metem a mão no dinheiro público, fazendo acontecer obras
faraônicas que pontificam os Rios e Mares, gerando uma expectativa de
“desenvolvimento” voltada mais para os céus do que para a terra, onde vive mora
e sofre o povo dessas localidades, particularmente, no norte e nordeste do
Brasil. Não satisfeitos, pelo desencanto da política e pela alienação
vivenciada, essa gente chega ao ponto de dizer que “todos os políticos são
iguais”, em outras palavras “todos são corruptos” e, portanto, é melhor um
ladrão amigo do que um estranho no comando do orçamento do Município ou do
Estado.
O cinismo é contagiante,
principalmente, quando se trata de uma prática governamental em atenção à
perversa desigualdade presente na organização da sociedade. Esses agentes
públicos agem de forma messiânica, aptos a oferecer benesses e a obrar milagres
aos excluídos prometendo mundos e fundos. No entanto, a política é maior do que
eles e por força de suas determinações encontra-se acima da vontade dos
poderosos, suscitando, no primeiro momento, estranheza frente aos fatos e em
seguida gerando indignação que se traduz na repulsa em direção à construção de
uma República Social fundada na redistribuição de renda, em confronto as
práticas da acumulação, que cria entre as classes sociais um abismo quase
intransponível mitigado às vezes por políticas compensatórias formatadas em bolsas,
em vez de assentadas nas políticas sociais sustentáveis fincadas em postos de
trabalho com acesso à cultura, educação, ciência e cidadania.
Essa condição existencial é
reparada no processo de conscientização, quando homens e mulheres passam a
problematizar suas relações de trabalho se perguntando por que ele tem e eu não
tenho se eu trabalho tanto quanto ele e, às vezes, em condições mais complexas.
Pois é, quando acordamos do pesadelo da alienação os questionamentos se
multiplicam buscando respostas que às vezes não somos capazes de responder
imediatamente, mas, no curso de nossas lutas vamos montando o quebra cabeça e
dando corpo a verdade dos fatos.
Esse processo é doloroso,
sofrível e podem custar perdas irreparáveis. Requer coragem, determinação e
profunda capacidade de associar os fatos à história, atentando para as
contradições manifestas ente o dito (aparente) e aquilo que é. Parece óbvio,
mas requer coragem, discernimento e aptidão para mudança. Às vezes nos
encontramos em desvantagem e por uma situação estratégica temos que “engolir
sapo” enquanto nos potencializamos, agregando força e criando condições
matérias para que possamos avançar em favor do coletivo e do social. Nesse
contexto, é importante que saibamos fazer uma avaliação da situação, definindo
com clareza os caminhos a trilhar, as armas para lutar e rumos a tomar.
Esses ensinamentos não se
aprendem nas Escolas e muito menos nas Universidades. É claro que o domínio
desses conhecimentos ajuda, mas, não bastam. É preciso que façamos uma opção
social e comecemos a trabalhar no fortalecimento de plataformas capazes de
garantir determinados eixos na política, na sociedade, no comércio, nas
corporações industriais, nas academias, nos movimentos populares, nos meios de
comunicação social presentes e virtuais e demais segmentos que julgamos
estratégicos para a construção de um projeto político solidário que transpasse
o modelo partidário inaugurado pelos partidos instituídos tal como o PMDB, o
PT, o PSDB e outros.
É hora de se reinventar novas
regras e formas da Democracia pautada no controle social, na participação e na
soberania popular, descentralizando o poder pela força dos movimentos sociais
na perspectiva de garantir os interesses republicanos assentados num novo
reordenamento estruturante que seja socialmente justo e economicamente
sustentável, combatendo as desigualdades regionais e a extrema pobreza reinante
no Brasil.
(*) É professor, antropólogo e
coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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