Tenta-se reduzir o conceito de esquerda a uma certa esquerda: aquela cuja visão está centrada no eleitoralismo, na luta dentro do sistema, pelo poder, pelo jogo parlamentar e institucional. Em Portugal, essa tem sido a posição hegemónica dentro da «esquerda política e sociológica».
Culpa de quem? Culpa de nós todos/as, porque temos demasiada veneração pelos tais arautos da dita cuja esquerda. Vemos nessas figuras «porta-vozes» das nossas aspirações, somos embalados na bela música das suas profissões de fé, mesmo quando sabemos que isso é música ...apenas! Em Portugal, junto com o complexo neo-colonial (ver meu artigo «Portugal, País Neo-Colonial, de Abril de 2009) e parte integrante do mesmo, existe uma incapacidade de gerar e pôr a funcionar estruturas de um poder popular genuíno. Quando utilizo o termo, quero dizer o que é entendido por ele no resto do mundo e em particular na América Latina. Pouco ou nada tem que ver com os devaneios duma certa extrema-esquerda do PREC e pós-PREC.
A razão dessa incapacidade é muito simples: essas estruturas que poderiam ser locais de geração do tal poder popular, sindicatos, associações, movimentos, etc. foram e são constantemente objecto de cobiça e de controlo por parte de estruturas partidárias. Embora o PS tenha algum controlo sobre um certo número de sindicatos (e mesmo de sindicatos da CGTP) o papel principal de hegemonizador cabe ao PCP, que tem assim ditado, desde as reivindicações até ao estilo de funcionamento.
O BE tem seguido os passos do PCP em tudo. Tem tentado ao longo destes 10 anos de vida retirar-lhe essa hegemonia, mas para construir as suas «praças-fortes», para realmente poder fazer o seu jogo, mas no sentido de ingerência permanente nas tais estruturas.
Não existe um sindicalismo de classe, não existem sequer correntes estruturadas com uma visão classista. O que existe é um corporativismo serôdio, que se mascara de «classe», mas, de facto, é o seu contrário!
A esquerda portuguesa (para ser portadora da esperança num mundo não dominado pelo capital), terá de aceitar-praticar-desenvolver certos princípios elementares:- o respeito pelos compromissos assumidos publicamente- o respeito pelas pessoas, que deveriam realmente ter uma parte activa na definição do projecto e na condução das lutas para alcançar os objectivos traçados- uma visão realmente unitária e de classe do sindicalismo, deixando de fazer das direcções dos sindicatos locais de privilégio e de poder.- uma abertura sem peias a todas as correntes do pensamento crítico. - uma verdadeira auto-crítica, examinando os seus próprios erros do passado.É a este nível que ponho o desafio, um desafio que abarca o futuro. A alternativa a esta mudança nem se coloca: seria, apenas e somente, o «caixote de lixo da História».
Manuel Baptista
Fonte:lutasocial.blogspot.com
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