sábado, 3 de abril de 2010

LEMBRANDO O 31 DE MARÇO

Duas semanas após o golpe, o apoio à formação do "novo governo"

Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz” – Raul Seixas- Cowboy fora da lei

Participamos da Revolução(sic) de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”. Editorial de Roberto Marinho, O Globo, 7 de outubro de 1984.

A data de hoje 31 de março, nunca deve ser esquecida pelos brasileiros. Foi o dia em que as oligarquias (muitas ainda estão no poder até hoje) rasgaram a constituição e implantaram uma ditadura civil-militar que durou mais de 20 anos. Cabe destacar nesta lembrança duas questões que precisam estar sempre em mente em qualquer menção aquele período: A impunidade e a manutenção do poder das oligarquias midiáticas.

Por Paulo Marques.

Até hoje os crimes de assassinato, desaparecimento e tortura perpetrado pelo governo ditatorial continuam impunes. Ao contrário da Argentina que pôs na cadeia os militares torturadores, no Brasil aqueles que cumpriram com zelo as ordens da oligarquia no poder fazem palestras, concedem entrevistas em jornais e andam felizes pelas ruas. Muitas famílias ainda não encontraram seus filhos desaparecidos naquele período, muitos brasileiros e brasileiras torturadas carregam a dor da impunidade até hoje, no seu dia a dia.

A segunda questão é o enorme poder que a mídia oligárquica ainda detém. A participação de empresários e proprietários de meios de comunicação na sustentação econômica e ideológica do golpe e da ditadura não é segredo para ninguém. Muitos empresários e banqueiros, assim como próceres defensores da “liberdade de expressão” tiveram como recompensa as concessões públicas que lhe garantem o monopólio da (des) informação do qual são proprietários. Tiveram portanto, na obtenção de seus impérios midiáticos, as mãos sujas de sangue seja por financiar diretamente a tortura como para escondê-la a partir dos instrumentos de comunicação de massa que mantém.

O mais grave de tudo é que esse poder dos donos da mídia conservadora mantém-se intocável. Continuam assim executando as mesmas funções a serviço das oligarquias quando da derrubada do presidente constitucional João Goulart, qual seja, o combate a qualquer reforma, mínima que seja, que amplie direitos e aprofunde a democracia. O apelido de PIG (Partido da Imprensa Golpista) apelido criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, retrata bem esse papel desempenhado pelo oligopólio midiático.

O PIG age como um verdadeiro partido, têm um programa, uma ideologia, uma estratégia de disputa de poder, instrumentos, recursos financeiros e operadores ( jornalistas bem pagos). E como bom exemplo de um partido de direita no Brasil, nunca admite explicitamente sua ideologia. Sonha com um golpe contra a “esquerdização” do país. Admite liberdade de opinião somente para quem é proprietário dos meios de comunicação. Defende o Estado mínimo para o povo e máximo para seus interesses, um Estado que acima de tudo garanta o seu sagrado direito ao monopólio privado dos meios de comunicação.

Nesta semana o presidente Lula (atacado diuturnamente pelo PIG durante todo seus dois mandatos) entregou uma condecoração póstuma a um dos conhecidos colaboradores civis da ditadura de 1964 , o empresário Octavio Frias de Oliveira (fundador do jornal Folha de São Paulo), falecido em 2007. A homenagem póstuma, recebida pela herdeira dos Frias, Maria Cristina, foi a denominada Ordem do Mérito das Comunicações Jornalista Roberto Marinho. Muitos criticaram o gesto. Mas se observarmos a denominação da homenagem, que leva o nome de outro prócer da ditadura, podemos identificar, além do ridículo do fato em si uma coerência , dado que o velho oligarca das organizações Globo fez escola sendo o representante mais significativo do que é a grande imprensa hoje. Foi , portanto, o mesmo que entregar o prêmio “Pinochet de liberdade de imprensa” para o Globo, Folha de SP, Estadão, Zero Hora, seria merecido.

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