Ellza Souza (*)
Para ser feliz acho que tem que ser aliado da natureza. Sozinhos sem a parceria das árvores, dos peixes, das águas, da história, será difícil encontrar a felicidade tão buscada pela humanidade em caminhos até tortuosos como drogas, violência, devastação, progresso a qualquer preço. No domingo, dia dos pais e dia de feira na avenida Eduardo Ribeiro que já foi um lugar de sombra e água fresca, faz um tempão, as coisas mudaram. Mas, por aqui, os primeiros igarapés foram aterrados e as árvores antigas estão com os seus dias contados. Os últimos exemplares cercados de barracas por todos os lados estão marcados para morrer pois um ser humano desses que se acham acima do bem e do mal decretou o fim das que escaparam ao tempo e injetaram veneno nas suas entranhas acabando com qualquer possibilidade de vida a esses seres com tanta vida quanto a nossa. Só não têm alma (será?) mas nós temos e fazemos o que fazemos, impiedosamente.
Hoje na feira foi também dia de coleta de assinaturas e o movimento S.O.S. ENCONTRO DAS ÁGUAS marcou presença no local para mostrar à sociedade que vale a pena lutar e se posicionar a favor da vida. Cada um do seu jeito mas a coerência e a sensatez precisa prevalecer nessa causa. Somos uma sociedade que mobilizados e unidos em torno de qualquer assunto que favoreça a coletividade, é temida pelos empresários e políticos que tramam por baixo de cortinas encardidas contra o Tombamento do Encontro da Águas.
O importante é ser contra ou a favor? - E cada um ter as suas motivações para o posicionamento. A pior coisa é ficar em cima do muro ou seja ter medo de opinar mesmo contra a sua consciência e contra o que acredita. Começamos a coleta já em frente da Matriz, depois da missa e as pessoas que foram abordadas não hesitavam em assinar. Muitos não conheciam o assunto e ao serem informados de imediato faziam questão de participar do abaixo assinado em favor do tombamento do Encontro das Águas.
Alguns jornalistas e fotógrafos estavam no local e deram apoio a causa. Houve até um canal de televisão que virou as costas e saiu apressado com medo do posicionamento. Medo de que? Não sabemos. Ninguém é maior do que Deus que criou a natureza e do que a sociedade de bem que é a maioria e a beneficiada ou prejudicada com a construção de um porto de grandes proporções no Encontro das Águas que além de nosso cartão postal, é um sítio arqueológico que estudos indicam a marca deixada por nossos ancestrais naquelas lajes, é berçário de jaraquis, é encontro de dois portentosos rios sendo um o maior do planeta e o outro o mais belo.
Como podemos compactuar com a destruição de um lugar assim tão simbólico e vital para a existência humana? Aos mal intencionados que usam de um argumento falso de progresso e enganam com a perspectiva de empregos, revejam seus critérios e não se iludam com a efemeridade do lucro e do poder. Um bom negócio só tem valor se for levado em conta o bem estar social, moral e ambiental.
Adianta ter emprego, ser um capacho, escravizado e não poder opinar? Fiquei feliz porque senti que os mais de trinta que assinaram em minha lista e com os quais conversei, estão do lado da preservação total do Encontro das Águas. Gente de todas as idades, até crianças queriam assinar mas não foi possível. Gente de variadas profissões e atividades deram seu apoio sem medo de ser feliz e um deles que curtia o passeio na feira com seu filho de 8 anos, falou que assinava para “que meu filho pudesse conhecer aquele lugar belo como ele ainda é hoje”.
Um outro jovem ficou em dúvida ao se manifestar, pelo trabalho que desenvolve numa empresa ligada ao malfadado projeto de construção do porto mas reagiu a tempo e assinou pois sem vida não teremos mais nada, quanto mais empregos movidos a poluição. E VIVA A AMAZÔNIA. E VIVA O ENCONTRO DAS ÁGUAS. MANAUARAS NÃO FECHEM OS OLHOS A ESSA CAUSA.É A VIDA DE TODOS QUE ESTÁ EM JOGO.
(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.
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