Rio - O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) faz nesta sexta-feira um ato em repúdio ao assassinato da juíza na porta de sua casa, em Piratininga, Niterói. A manifestação vai ocorrer às 13h no Buraco do Lume, esquina das ruas São José e Rio Branco, no Centro. De acordo com o partido, será apresentado um mural com frases e gravuras, representando uma cobrança de apuração rigorosa e punição exemplar de seus assassinos e dos mandantes do crime. O enterro da juíza será nesta sexta-feira às 16h30, no Cemitério Maruí Grande, no Barreto, em Niterói.
Carro da magistrada foi perfurado por mais de 10 tiros | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Segundo o deputado federal Chico Alencar (PSOL), “a Justiça e o Estado de Direito Democrático sofreram um brutal atentado. Eu, pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, estou acompanhando o caso, apresento relatório na semana que vem e entendo que a Polícia Federal deve auxiliar as autoridades estaduais na investigação. A impunidade, provável, será a senha para novos crimes e campo aberto para os bandos de exterminadores e milicianos. Indignemo-nos com esse crime hediondo, e não com algemas em punhos de renda dos suspeitos de roubar dinheiro público”, afirmou.
Linha dura
Segundo o primo da juíza, Patrícia tinha o perfil "linha dura". "Ela era considerada 'martelo pesado' como se chama. Sempre com condenações em pena máxima. Ela condenou gente ligada a máfia do óleo, máfia das vans, milícia de São Gonçalo que estava crescendo absurdamente, policiais envolvidos com desvio, corrupção e tráfico de drogas. Há cerca de três quatro anos, ela teve a segurança retirada por ordem do presidente do Tribunal de Justiça do Rio da época", afirmou Nascimento, se referindo ao atual presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), Luiz Zveiter.
Conhecida pelo seu rigor contra grupos de extermínios formados por PMs, Patrícia Acioli tinha 47 anos | Foto: Reprodução Internet
Ainda segundo ele, a prima sempre recebeu ameaças de pessoas envolvidas com máfias, grupos de extermínio e traficantes que atuam em São Gonçalo, Região Metropolitana. As últimas, porém, eram relativas a milícias que atuam no município. De acordo com Humberto, a juíza participaria na próxima semana de um julgamento importante envolvendo milicianos.
Patrícia Acioli foi a responsável pela prisão de quatro cabos da Polícia Militar e uma mulher, em setembro de 2010, acusados de integrar um grupo de extermínio no município de São Gonçalo. A quadrilha sequestrava e matava traficantes para depois pedir resgates de R$ 5 mil a R$ 30 mil a comparsas e parentes das vítimas.
Ela também decretou, em janeiro deste ano, a prisão preventiva de seis policiais acusados de forjar autos de resistência na cidade. No início da semana, Patrícia Acioli condenou a um ano e quatro meses de prisão, por homicídio culposo, o tenente da PM Carlos Henrique Figueiredo Pereira, 32, pela morte do estudante Oldemar Pablo Escola de Faria, na época com 17 anos. Ele foi baleado na cabeça na boate Aldeia Velha, no bairro Zé Garoto, em São Gonçalo, em setembro de 2008.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Patrícia estava numa 'lista negra' com 12 nomes possivelmente marcados para a morte encontrada com Wanderson Silva Tavares, o Gordinho, preso em janeiro deste ano em Guarapari (ES). Ele é considerado chefe do grupo de extermínio investigado por pelo menos 15 mortes em São Gonçalo nos últimos três anos. O presidente do Tribunal de Justiça, Manoel Alberto Rebelo dos Santos, esteve no local do crime e disse que ela já havia recebido ameaças.
O crime
Segundo testemunhas, o ataque foi feito por homens encapuzados em duas motos e dois carros, por volta das 23h30 desta quinta-feira. Pelo menos 16 tiros de pistolas calibres 40 e 45 foram disparados contra o Fiat Idea Weekend cinza da magistrada, quando ela chegava em casa. Todos os disparos atingiram o lado da motorista, sendo que oito deles foram efetuados diretamente no vidro. As balas acertaram principalmente a cabeça e o tórax da magistrada. Ela não andava com seguranças. Imagens do sistema de segurança da região estão sendo analisadas pela Delegacia de Homicídios (DH) do Rio, que assumiu o caso.
Carro da Juíza levou pelo menos 15 tiros/ Foto: Osvaldo Prado/ Agencia O Dia
Carro da Juíza levou pelo menos 15 tiros/ Foto: Osvaldo Prado/ Agencia O Dia
Martha Rocha determina que DH do Rio investigue
Conhecida pelo seu rigor contra grupos de extermínios formados por PMs, Patrícia Acioli foi a primeira juíza assassinada no Rio de Janeiro. Na hora do crime, ela estava sem seguranças. No Fiat Idea cinza da magistrada foram encontradas pelo menos 16 marcas de tiros. O veículo não era blindado.
De acordo com o primo da vítima, na época em que era presidente do TJ, Luiz Zveiter teria tirado a segurança da juíza. Apesar das ameaças sofridas, a escolta não teria sido restabelecida. Policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo iniciaram uma perícia no local do crime. No entanto, por determinação da Chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, a DH do Rio também periciou o local até o fim da madrugada e assumiu as investigações.
O veículo da vítima e um computador com as imagens do sistema de monitoramento de segurança da associação de moradores do Jardim Imbuí, em Piratininga, estão na sede da especializada, na Barra da Tijuca, Zona Oeste.
Mudança de endereço e atentado no início da carreira
A juíza tinha se mudado para Piratininga há menos de três meses. Segundo Humberto Nascimento, a prima morou muito tempo em Pendotiba e depois em um prédio em Icaraí, Zona Sul de Niterói. Ela comprou e reformou o imóvel por preferir morar em casa, pelos filhos e os cães de estimação. "Era uma proposta de vida essa mudança. Ela estava tão despreocupada que o carro dela não é blindado e a casa não tem portão eletrônico. Ela ia sair do carro para abrir o portão. Ou seja, essa coisa (crime) foi encomendada, de profissional", acredita.
Segundo Humberto, Patrícia Acioli começou sua carreira como defensora pública na Baixada Fluminense. Na época, ela teve o carro metralhado. Ela exercia a função de juíza há cerca de 20 anos e estva há 12 na Vara de São Gonçalo.
"Ela sempre recebeu ameaça, há pelo menos cinco, seis anos. Sempre conversávamos nos encontros de família e ela relatava que recebia ameaças, mas evitava não entrar em detalhes para não assustar as pessoas. Era uma rotina, mas ela já nem ligava mais para isso. Já é rotina de um juiz criminal receber ameaças. Ela era uma juíza que não cedia. Para você ver, ela era juíza há 20 anos e morava numa casa sem luxo nenhum. O carro dela não é blindado, é um veículo popular inclusive. Várias vezes ofereceram dinheiro para ela liberar condenados e ela nunca libertou. Era uma pessoa corretíssima. Pode investigar o passado dela mesmo", disse.
Fonte: http://odia.terra.com.br
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