domingo, 4 de abril de 2010

Entrevista com Luís Castro


O deputado Luís Castro (PPS) começou cedo na vida pública ao se eleger prefeito de Envira aos 21 anos. Realizou uma gestão exemplar elogiada pelo TCE em função da correta aplicação dos recursos públicos. É um político reconhecidamente de expressão no interior e mais recentemente caiu nas graças da sociedade civil em Manaus e particularmente dos formadores de opinião que o consideram o mais preparado e o melhor parlamentar da atual legislatura. Luís Castro conta nesta entrevista o desapontamento de ser uma voz quase solitária no deserto quando discursa na Assembléia Legislativa. A "sensação desconfortável é compensada pela consciência de que estou exercendo um mandato com coerência e ao mesmo tempo pela interação permanente com a sociedade".

BLOGdaFLORESTA – O sr. veio do distante município de Envira, no Alto Rio Juruá, e hoje é um político reconhecido no estado. A que se deve esse crescimento?.
LUIZ CASTRO – A minha trajetória pública tem sido marcada por trabalho e dedicação à causa pública. E isso desde o meu primeiro mandato como prefeito de Envira. Em todas as funções que assumi busquei desempenhar meu papel com responsabilidade social e eficiência administrativa. Acredito possuir um perfil diferenciado. Não sou um político provinciano, apesar de minha forte identidade interiorana.

BLOGdaFLORESTA – Isso não prejudica sua imagem já que o sr. é muito respeitado entre os formadores de opinião em Manaus?.
LUIZ CASTRO – De forma nenhuma. Essa identidade tem muito com a minha história de vida. Nos dois últimos mandatos, porém, busquei me aproximar mais das questões ambientais, sociais e econômicas do meu estado, dedicando atenção especial a Manaus.

BLOGdaFLORESTA – Há algo curioso que talvez muitas pessoas gostariam de perguntar. Como o sr. consegue manter sua postura de oposição, de homem que integra um partido socialista e ser bastante ponderado?.
LUIZ CASTRO – Faço oposição aos erros e não às pessoas. Mas sempre discutindo os problemas. E apresentando propostas e alternativas aos problemas. Aos poucos a minha maneira de atuar tem conquistado certo respeito na sociedade. E atribuo isso a meu compromisso ético e a minha independência diante das tradicionais forças hegemônicas.

BLOGdaFLORESTA – Como é ser oposição num parlamento onde a maioria apóia o governo?.
LUIZ CASTRO – Às vezes existe certa sensação de solidão. Afinal, não estou sob a proteção (assinalo aspas a esta palavra) de nenhuma corrente dominante. E tenho que assumir responsabilidades pessoais enormes nos meus pronunciamentos. Em outros momentos, fico desapontado em não sensibilizar meus colegas deputados para que erros crassos e injustiças fossem corrigidos.

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– Mas a tradição da oposição na Assembléia sempre foi bancada reduzida e diminuta. Lembro que numa legislatura existia apenas Eron Bezerra (PCdoB) como parlamentar de oposição e numa outra, o próprio Eron e Sebastião Nunes (PT).
LUIZ CASTRO – De fato, mas por outro lado, a sensação desconfortável é compensada pela consciência de que estou exercendo um mandato com coerência e ao mesmo tempo pela interação permanente da sociedade.

BLOGdaFLORESTA – O sr. tem criticado muito a política ambiental de Eduardo Braga, que aliás, ganhou notoriedade internacional defendendo a mesma política?. Por que?.
LUIZ CASTRO – O problema não é o discurso do governador. O problema é a grande distância entre o discurso e a política ambiental de ele pratica. O Ipaam, por exemplo, foi abandonado a própria sorte e hoje está desprovido de recursos materiais, financeiros e humanos, indispensáveis a uma boa gestão ambiental. Em 1995, o Ipaam tinha 150 analistas ambientais. Hoje são apenas 70 para analisar 4 mil processos. E para mim o discurso e a prática sejam duas faces da mesma moeda.

BLOGdaFLORESTA – Mas o sr. não vê nada de positivo na política ambiental implantada pelo ex-governador Eduardo Braga?.
LUIZ CASTRO – Só na véspera de sua saída do governo, é que algumas questões fundamentais começaram a ser resolvidas. Mas as incoerências ainda são grandes. Cito o exemplo de que cadeias produtivas da madeira estar na ilegalidade na maioria absoluta dos municípios. As ações repressivas do Ibama e do Instituto Chico Mendes são tão duras que provocam desespero nas apenas em donos de serrarias, como também de pequenos moveleiros e extratores de madeira. Poderia haver mais investimentos na área da gestão ambiental e programas de manejo racional para lenhadores, pequenos moveleiros e pequenas serrarias, um setor que pode gerar muitos empregos num interior com alta taxa de desemprego.
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BLOGdaFLORESTA – Como o sr. encara a atuação dos partidos de esquerda na política amazonense?.
LUIZ CASTRO – Há duas correntes da esquerda amazonense. Uma foi cooptada pelos grupos dominantes no AM, principalmente pelo PMDB no governo. Essa cooptação retirou da maioria dos políticos desses partidos a independência e o posicionamento crítico indispensáveis ao exercício político da esquerda.

BLOGdaFLORESTA – A outra corrente é formada por quem?.
LUIZ CASTRO – Ela é formada pelo PPS, parte do PDT e partidos menores como o PSOL e o PCB, que possuem políticos e militantes que continuam a fazer um trabalho efetivamente de esquerda. Com isso não quero dizer que não existam políticos e militantes sérios nos partidos cooptados. Mas a política do partido hegemônico, a política do PMDB, é a que acaba predominando na atuação destes companheiros.

BLOGdaFLORESTA – A eleição de 2010 está batendo às portas. O sr. pensa em vôos mais altos como uma candidatura a deputado federal, que eu sei ser um sonho dos militantes do PPS?.
LUIS CASTRO – Em princípio eu sou candidato à reeleição, até por ser candidato natural, conforme a legislação. Mas estamos no PPS discutindo todas as alternativas e conversando também com os outros partidos. Ainda há muita água para rolar.

Fonte: Blog da Floresta

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