quarta-feira, 28 de março de 2012

As enchentes na Amazônia e a tal Decretação de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública!

Foto: A Critica.com
Por Elson de Melo _ Já se tornou rotina na Amazônia Governadores, Prefeitos, Deputados, Senadores e até Vereadores invadirem Brasília em busca de recursos financeiros para socorrer os ribeirinhos vitimas das enchentes. A maioria desses recursos destinados à compra de medicamentos, alimentos, madeiras, pregos, transportes e roupas.

O que se vê na maioria das vezes ou quase sempre é que esses recursos nunca chegam ao seu destinatário. A maioria dos socorros que chegam até esses ribeirinhos são donativos produtos da solidariedade social organizada por Instituições sem fins lucrativos. 

Mas, a quem serve essa correria dos políticos a Brasília? Como no Nordeste existe a indústria da seca, aqui na Amazônia existe a indústria da cheia e da seca, cujos principais beneficiários são sempre os políticos.

Habilidosos, ao primeiro sinal da cheia ou da seca os Prefeitos recorrem de imediato a Decretação de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública, pedem socorro dos Governadores que convocam os Parlamentares e rumam para Brasília em busca do fim da enchente ou seca, de volta aos Estados ou Municípios, anunciam com pompas os valores que conseguiram amealhar junto ao poder central, exibem como um atleta exibe seu troféu na hora da conquista, tudo para ganhar dividendos eleitorais para a próxima eleição é apenas um gesto de missão cumprida, os ribeirinhos ficam eufóricos e começam aguardar os recursos que nunca chegam. É assim que os governantes da Amazônia socorrem os ribeirinhos!

O Manual para Decretação de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública em seu "Anexo E", é bem sugestivo: “Não é de boa praxe estender a situação de anormalidade à totalidade do município, mas apenas às áreas que foram comprovadamente afetadas pelo desastre. Desta forma, as áreas afetadas pelos desastres: – no caso de seca, são as glebas rurais que não dispõem de reservas hídricas; – no caso de deslizamento, são as encostas de risco III e IV; - nos casos de inundações, são as áreas inundáveis situadas em nível inferior às cotas de alerta.

Valendo-se desse expediente os Prefeitos e Governadores transformam as cheias e secas na Região em instrumento de receita para esses entes federativo, dessa forma, eles preferem parecer serem tomados de surpresa por esses fenômenos, a dotarem suas administrações com organismos técnicos de monitoramento estratégicos para se anteciparem aos fatos decorrentes das enchentes.

As enchentes na Amazônia vêm sendo monitoradas por especialista a mais de 107 anos, tempo suficiente para serem desenvolvidas pelo menos técnicas preventivas aos impactos negativos em decorrência das enchentes.

Um estudo denominado – AS MAIORES “CHEIAS” e “SECAS” NO AMAZONAS E AS INFLUÊNCIAS DOS FENÔMENOS “EL NIÑO”, “LANIÑA”, “ODP” e “OMA” – feito por Nadir Sales; nadir.sales@inmet.gov.br, Expedito Rebello; expedito.rebello@inmet.gov.br e José de Fátima; José.fatima@inmet.gov.br, meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)/Brasília-DF, afirma “- Embora não sejam determinantes os eventos “El Niño”, “La Niña” e “ODP” e “AMO”, tem uma grande influência na ocorrência de “CHEIAS” ou “SECA” (Vazante), extraordinárias no sistema Rio Negro/Solimões. 70% das “CHEIAS” extraordinárias ocorreram em anos de “La Niña” e “ODP” (índice negativo) e 30% das “CHEIAS” ocorreram em anos de “El Niño” e “ODP” positivo, inclusive a segunda maior ocorrida no ano de 1953 foi em um ano de “El Niño” forte. As maiores cheias do Rio Negro foram em anos que a Oscilação Multidecadal do Atlântico “OMA” estava em sua fase positiva: 1953 e 2009.

Para melhor entender o fenômeno das cheias na Amazônia, publicamos a seguir um estudo relacionado ao fenômeno El NiÑo do Livro - O El Niño e Você - o fenômeno climático do Autor - Gilvan Sampaio de Oliveira. Se as autoridades Estaduais e Municipais (Governadores e Prefeitos) da Amazônia tivessem interesse em pelo menos minimizar os impactos negativos das cheias na Região, antes de correrem a Brasília mendigar recursos para oferecer ranchos, medicamentos e outras despesas para justificar essas já conhecidas operações de socorro aos ribeirinhos, deveriam criar um sistema de monitoramento de cheias e secas para dar aos moradores das várzeas informações precisas sobre aonde cultivar suas plantações.

Elson de Melo _ Sindicalista

EL NIÑO
Fonte de Informação:
Livro - O El Niño e Você - o fenômeno climático
Autor - Gilvan Sampaio de Oliveira

Uma componente do sistema climático da terra é representada pela interação entre a superfície dos oceanos a baixa atmosfera adjacente a ele. Os processos de troca de energia e umidade entre eles determinam o comportamento do clima, e alterações destes processos podem afetar o clima regional e global.

El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se a presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus. Na atualidade, as anomalias do sistema climático que são mundialmente conhecidas como El Niño e La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical, e que tem conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta. Nesta definição, considera-se não somente a presença das águas quentes da Corriente El Niño mas também as mudanças na atmosfera próxima à superfície do oceano, com o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial. Com esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade, e portanto variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo também são observados aumento ou queda de temperatura. A figura abaixo mostra a situação observada em dezembro de 1997, no pico do fenômeno El Niño 1997/98.

Anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de 1998 mostrada na figura acima. Os tons avermelhados indicam regiões com valores acima da média e os tons azulados as regiões com valores abaixo da média climatológica. Pode-se notar a região no Pacífico Central e Oriental com valores positivos, indicando a presença do El Niño. Dados cedidos gentilmente pelo Dr. John Janowiak - CPC/NCEP/NWS/NOAA-EUA.

Que é o El Niño-Oscilação Sul (ENOS) ?

Talvez a melhor maneira de se referir ao fenômeno El Ninõ seja pelo uso da terminologia mais técnica, que inclui as caraterísticas oceanicas-atmosféricas, associadas ao aquecimento anormal do oceano Pacifico tropical. O ENOS, ou El Niño Oscilação Sul representa de forma mais genérica um fenômeno de interação atmosfera-oceano, associado a alterações dos padrões normais da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e dos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial, entre a Costa Peruana e no Pacifico oeste próximo à Austrália.

Além de índices baseados nos valores da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacifico equatorial, o fenômeno ENOS pode ser também quantificado pelo Índice de Oscilação Sul (IOS). Este índice representa a diferença entre a pressão ao nível do mar entre o Pacifico Central (Taiti) e o Pacifico do Oeste (Darwin/Austrália). Esse índice está relacionado com as mudanças na circulação atmosférica nos níveis baixos da atmosfera, conseqüência do aquecimento/resfriamento das águas superficiais na região. Valores negativos e positivos da IOS são indicadores da ocorrência do El Niño e La Niña respectivamente.

Algumas observações:

Evento de El Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar cada 3-7 anos. Porém, de um evento ao seguinte o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos;
As intensidades dos eventos variam bastante de caso a caso. O El Niño mais intenso desde a existência de "observações" de TSM ocorreu em 1982-83 e 1997-98.
Algumas vezes, os eventos El Niño e La Niña tendem a ser intercalado por condições normais. Como funciona a atmosfera durante uma situação normal e durante uma situação de El Niño?: El Niño resulta de uma interação entre a superfície do mar e a baixa atmosfera sobre o Oceano Pacifico tropical. O inicio e fim do El Niño e determinado pela dinâmica do sistema oceano-atmosfera, e uma explicação física do processo é complicada Para que o leitor possa entender um pouco sobre isso, propõe-se um "modelinho simples", extraído do livro El Niño e Você, de Gilvan Sampaio de Oliveira.

1) Imagine uma piscina (obviamente com água dentro), num dia ensolarado;
2) Coloque numa das bordas da piscina um grande ventilador, de modo que este seja da largura da piscina;
3) Ligue o ventilador;
4) O vento irá gerar turbulência na água da piscina;
5) Com o passar do tempo, você observará um represamento da água no lado da piscina oposto ao ventilador e até um desnível, ou seja, o nível da água próximo ao ventilador será menor que do lado oposto a ele, e isto ocorre pois o vento está "empurrando" as águas quentes superficiais para o outro lado, expondo águas mais frias das partes mais profundas da piscina.

É exatamente isso que ocorre no Oceano Pacífico sem a presença do El Niño, ou seja, é esse o padrão de circulação que é observado. O ventilador faz o papel dos ventos alísios e a piscina, é claro, do Oceano Pacífico Equatorial. Águas mais quentes são observadas no Oceano Pacífico Equatorial Oeste. Junto à costa oeste da América do Sul as águas do Pacífico são um pouco mais frias. Com isso, no Pacífico Oeste, devido às águas do Oceano serem mais quentes, há mais evaporação. Havendo evaporação, há a formação de nuvens numa grande área. Para que haja a formação de nuvens o ar teve que subir. O contrário, em regiões com o ar vindo dos altos níveis da troposfera (região da atmosfera entre a superfície e cerca de 15 km de altura) para os baixos níveis raramente há a formação de nuvens de chuva. Mas até onde e para onde vai este ar ? Um modo simplista de entender isso é imaginar que a atmosfera é compensatória, ou seja, se o ar sobe numa determinada região, deverá descer em outra. Se em baixos níveis da atmosfera (próximo à superfície) os ventos são de oeste para leste, em altos níveis ocorre o contrário, ou seja, os ventos são de leste para oeste. Com isso, o ar que sobe no Pacífico Equatorial Central e Oeste e desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste da América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de leste para oeste) e os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, forma o que os Meteorologistas chamam de célula de circulação de Walker, nome dado ao Sir Gilbert Walker. A abaixo mostra a célula de circulação de Walker, bem como o padrão de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença do fenômeno El Niño. Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à costa da América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano. Estas águas mais frias têm mais oxigênio dissolvido e vêm carregadas de nutrientes e micro-organismos vindos de maiores profundidades do mar, que vão servir de alimento para os peixes daquela região. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.

Circulação observada no Oceano Pacífico Equatorial em anos sem a presença do El Niño ou La Niña, ou seja, anos normais. A célula de circulação com movimentos ascendentes no Pacífico Central/Ocidental e movimentos descendentes no oeste da América do Sul e com ventos de leste para oeste próximos à superfície (ventos alísios, setas brancas) e de oeste para leste em altos níveis da troposfera é a chamada célula de Walker. No Oceano Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes representadas pelas cores avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas. Pode-se ver também a inclinação da termoclima, mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e mais profunda no Pacífico Ocidental. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA.

Deve ser notado, na figura acima, que existe uma região chamada de termoclina onde há uma rápida mudança na temperatura do oceano. Esta região separa as águas mais quentes (acima desta região) das águas mais frias (abaixo desta região). Os ventos alísios "empurrando" as águas mais quentes para oeste, faz com que a termoclina fique mais rasa do lado leste, expondo as águas mais frias.
Vamos agora voltar ao nosso "modelinho". Vamos imaginar o seguinte:
Desligue o ventilador, ou coloque-o em potência mínima. O que irá acontecer?
Agora, o arrasto que o vento estava provocando na água da piscina irá desaparecer ou diminuir. As águas do lado oposto ao ventilador irão então refluir para que o mesmo nível seja observado em toda a piscina. O Sol continuará aquecendo a piscina e as águas deverão, teoricamente, estar aquecidas igualmente em todos os pontos da piscina. Certo?

Então vamos correlacionar novamente com o Oceano Pacífico. O ventilador desligado ou em potência mínima, significa neste caso o enfraquecimento dos ventos alísios. Veja que os ventos não param de soprar. Em algumas regiões do Pacífico ocorre até a inversão dos ventos, ficando estes de oeste para leste. Agora, todo o Oceano Pacífico Equatorial começa a aquecer. E como dito anteriormente: aquecimento gera evaporação com movimento ascendente que por sua vez gera a formação de nuvens. A diferença agora é que ao invés de observarmos a formação de nuvens com intensas chuvas no Pacífico Equatorial Ocidental, vamos observar a formação de nuvens principalmente no Pacífico Equatorial Central e Oriental

Padrão de circulação observada em anos de El Niño na região equatorial do Oceano Pacífico. Nota-se que os ventos em superfície, em alguns casos, chegam até a mudar de sentido, ou seja, ficam de oeste para leste. Há um deslocamento da região com maior formação de nuvens e a célula de Walker fica bipartida. No Oceano Pacífico Equatorial podem ser observadas águas quentes em praticamente toda a sua extensão. A termoclina fica mais aprofundada junto à costa oeste da América do Sul principalmente devido ao enfraquecimento dos ventos alísios. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA.
Fonte: O El Niño e Você - o fenômeno climático - Gilvan Sampaio de Oliveira
Editora Transtec - São José dos Campos (SP), março de 2001.

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