Na verdade ele ficou perplexo comigo a vida inteira. Quando era adolescente queria sair de Juruti para ir morar com meus pais em Manaus para Estudar, era alucinado por história, por muitos anos pensei que minha formação seguiria para esse rumo. Anos depois fiquei apaixonado pelo Jornalismo, isso se deu pela minha militância política, nos tempos do Movimento Estudantil. Meu avô disse que o sonho dele era que eu virasse doutor. Cheguei perto, passei no vestibular, mas abandonei a faculdade no oitavo período de jornalismo. Ele morreu sem entender porque nunca me interessei em terminar a faculdade para depois virar doutor. Eu também quando adolescente detestava a perspectiva de passar minha vida inteira
Minha aspiração pessoal pelo poder foi interada junto com meu avô, naquela cova do cemitério da saudade. Minha aspiração agora é apenas pela realização de um projeto político que possa mudar a realidade social dos meus conterrâneos.
Aprendi com meu avô, que é possível transformar sonhos
A pergunta que me faço, neste momento ao escrever essa crônica que dedico ao meu querido avô, Amadeu Araújo Lima, que nesses dias de carnaval era o folião mais empolgado do bloco da “Escolinha”. Quando Juruti vai crescer? Quando discutiremos uma política pública de qualidade para educação? Quando discutiremos um orçamento democrático para a população? Quando discutiremos uma política para os adolescentes? Para saúde? Para o planejamento urbano da cidade?
Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega que nos assola, nessa fome de aparecer para poder existir. Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é "não ter futuro"; é nunca estar no presente. Juruti é assim, quando todos caminham para frente, nossos representantes continuam caminhando para o atraso.
Passei precisamente quatro meses morando em Juruti, queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi... Então, meus queridos leitores, assistir uma cidade em pleno apogeu do minero, com um orçamento rico. Assistir uma cidade de destruída pelo atraso administrativo, uma cidade imóvel, fora de foco, onde a desigualdade social é a marca registrada do governo de Henrique Costa, uma cidade em crise, onde até médicos atendem sem registro no conselho de medicina, vi as nossas crianças sendo transportada em barcos sem as mínimas condições de segurança. Assiste a cidade em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco. Vi a precariedade das famílias pobres em meio à riqueza de nossos secretários municipais e de nosso prefeito.
Vi ali minha geração, meus amigos, minhas amigas, meus parentes. Assistir minha cidade sendo saqueada. Assistir o sofrimento nos olhos da população do interior.
A impressão que tive da administração do Prefeito Henrique Costa, foi à mesma impressão tive ao ver o filme intitulado de “Anita”, do famoso diretor Rassoul Labuchin. O filme foi rodado em plena ditadura de Duvalier no Haiti. A administração deste ditador saqueou o povo haitiano e perseguiu os políticos que faziam oposição ao seu governo. Dava para ver ali que como no filme rodado no Haiti em 1980, estava vivendo o povo de minha amada cidade.
Porém, no filme de “Anita”, nos dava à sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Hoje Juruti e o Haiti se confundem com as cenas do filme.
Crônica dedicada ao meu avô que não se encontra mais nesse plano espiritual, mais que continua a me inspirar.
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