terça-feira, 22 de novembro de 2011

Club da Madrugada: a Arte e literatura nós pés do Mulateiro

Hoje 22 de novembro de 2011, Celebramos o aniversário do Club da Madrugada, esse importante Club Literário, está  completando 57 anos de existência, fundado nós pés do querido Mulateiro, na Praça Heliodoro Balbi (conhecida como Praça da Policia) onde a Arte e a Literatura caminham sem se importar com o tempo.

Os jovens de ontem, permanecem firmes na sua juventude literária, contribuindo com sua Arte, com os novos jovens que ainda virão.

Saudamos todos os membros desse importante Club Literário, de modo especial o Poeta Alexandre Otto, o Senador Evandro Carreira e o Poeta Alencar e Silva, cujo Livro "Quadros da Moderna Poesia Amazonense" será lançado hoje as 19 hora no espaço Livraria Valer.

Como sempre afirma o Poeta Thiago de Mello, "a minha preocupação é com as crianças que ainda vão nascer, são eles o futuro da humanidade" é para esses novos jovens que dedicamos o Artigo do imortal Padre Nonato Pinheiro.

Parabéns ao Club da Madrugada!

Elson de Melo - Sindicalista

Foto: Blog do Rocha - Mulateiro da Praça da Policia em Manaus
CLUBE DA MADRUGADA
Pe. Nonato Pinheiro
( Da Academia Amazonense de Letras )

Há mais de um decênio que o Clube da Madrugada vem se firmando e afirmando como expressão de tenacidade e pujança no campo das artes e das letras, movimento de vitalidade e renovação, dirigido por uma plêiade de talentosos moços, que encaram o problema da cultura com dignificante espírito de seriedade.

Quando surgiu o movimento, inspirado em manifestações similares noutras áreas literárias e artísticas do país, no espírito que animou a “Semana de Arte Moderna”, promovida em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, com palestras, conferências, declamações e exibição de artes plásticas, já era eu acadêmico, e senti, no dealbar ou na floração daqueles primeiros impulsos renovadores, certa descrença da parte de alguns vultos de nossas letras planiciárias. Desde o início, entretanto, observei nos rapazes acentuada posição para levarem a coisa a sério. Liam, estudavam, produziam, trocavam idéias e comentavam os últimos lançamentos do país, no mundo livresco. Acompanhavam o movimento artístico e literário, aqui e alhures, com vivo interesse. Não dispunham de uma sala, sequer, para seus encontros. Que importaava? Qualquer porão ou nesga de jardim bastava aos seus intercâmbios culturais. A praça de Heliodoro Balbi foi palco das primeiras tértúlias e continua a ser teatro dos encontros dos clubistas, aos lampejos do sol, se é dia; sob o pálio das estrêlas, quando é noite.

Crescia o movimento. Novos sócios vinham unir-se aos pioneiros. Alguns tranferiram-se para a metrópole tentacular, sonhando comtros ainda retornaram, renovando-se no espírito primitivo que anim melhores vantagens e posições. Outros permaneceram, mantendo crepitante a chama do ideal. Ouou o Clube. Vieram os primeiros lançamentos. E ao editar-se a primeira seleta, a “pequena antologiamadrugada”, já o movimento estava consolidado. Cada nova manifestação dos clubistas era uma explosão e afirmação de pujança, de vigor, de vitalidade. Da fase sonhadora, mesclada talvez de certa indisciplina, compreensível nas instituições nascentes, passou-se à fase das definições, no encalço de uma disciplina e de um roteiro. As equipes movimentavam-se conscientemente, e a cidade tomou conhecimento de que os rapazes se decidiram a tomar posição, a despertar vocações nascentes, a incrementar o movimento artístico e literário, servindo com devotamento à cultura. O Clube da Madrugada era uma realidade seivosa.

Tenho consciência nítida da que sempre estimulei êsses moços, que surgiam diante de minhas pupilas tocados pela centelha eletrizante de um ideal superior. É só consultarem minha colaboração na imprensa amazonense, que já se avoluma de vinte anos, e terão a prova convincente. Cheguei a sugerir ao escritor Péricles de Moraes, presidente da Academia Amazonense de Letras, ao tempo da fundação do Clube da Madrugada, de quem fui colaborador imediato nos movimentos culturais que entendiam com a Casa de Adriano Jorge, que observasse os rapazes, que lhes acompanhasse os passos na seara das letras. Avancei a idéia do aproveitamento de alguns para a Academia, no intuito de uma revitalização do sodalício. Os clubistas têm consciência dessa posição. Outros confrades, como Aristófhano Antony também assim pensavam.

Como quer que seja, entendo que a linha do Clube da Madrugada não deve ser a de oposição à Academia de Letras. Ambas as entidades devem visar ao incremento literário e artístico, tendo em mira o progresso cultural do Amazonas. Não devem ser fôrças antagônicas, mas fôrças vivas, formando uma mesma dinâmica pelo soerguimento pensamental, pelo explendor das letras e das artes, pelo culto do idioma e da literatura nacional.

O Clube da Madrugada possui nomes expressivos em seus quadros: Aluísio Sampaio, Alencar e Silva, Edson Farias, João Bosco Evangelista, Álvaro Páscoa, Carlos Gomes, Farias de Carvalho, Jorge Tufic, Artur Engrácio, Pedro Amorim, Ivens Lima, Jefferson Peres, Afrânio Castro, Evandro Carreira, Miguel Barrela, João Bosco Araújo, Saul Benchimol, Antonio Gurgel do Amaral, J. Maciel, Hanneman Bacelar, Luís Bezerra, Padre L. Ruas, Sebastião Norões, Getúlio Alho, Ernesto Pinho, Ernesto Penafort, Antístenes Pinto, Oscar Ramos Filho, Pedro Santos, Cosme Alves Neto, Guimarães de Paula, Nauro Machado, Nazareno Tourinho, Assis Brasil, Astrid Cabral, Nivaldo Santiago, Teodoro Botinelli de Assunção, Leopoldo Peres Sobrinho, Djalma Passos e Moacyr Couto. Servi-me de uma relação que me foi oferecida pelo clubista Jorge Tufic, cuja ordem ordem nominal mantive.

Já é volumosa a coleção dos livros lançados pelos clubistas. Farias de Carvalho brindou-nos com “Pássaro de Cinza”, bem festejado pela crítica. É sem favor um dos mais belos talentos poéticos da nova geração, refulgindo ainda como excelente declamador. Jorge Tufic, outro poeta de raça e intelectual de elevadas preferências mentais, deu à estampa “Varanda de Pássaros”, na qual, em verdade, só gorjeia uma ave: o pássaro de sua maviosa inspiração. Alencar e Silva, que já nos havia dado “Painéis”, voltou com melhor garbo e amadurecimento em “Lunamarga”, sua última conquista, saudada com desbordante entusiasmo. Padre Luís Ruas, um dos brasões mais refulgentes do Clube, é autor da “Aparição do Clown”, que revelou um poeta de impressivos e expressivos surtos e uma inteligência de radiosa claridade. “Poesia frequentemente” é de Sebastião Norões, discípulo fervoroso de Dario e Guillén, livro que patenteia um intelectual e poeta de muita sensibilidade e intui, ção. Antístenes Pinto, que estreara como inspirado poeta em “Sombra e Asfalto” e, m que há claridades de plenilúnios e olhares serenos de pupilas de sonhador, surge agora como novelista, sobraçando o seu “Chavascal”, núper-lançado. Na crítica literária a companho com interesse e aplausos a desenvoltura de Aluísio Sampaio e Artur Engrácio, cujas recensões refletem a agudeza e o faro de conspícuos analistas. Engrácio ainda brilha no conto e na novelística, e suas “Histórias de Submundo” dão-nos o fôlego e as dimensões do contista.

Na pintura, na escultura, na xilogravura, no campo fascinante das artes pláticas, o Clube da Madrugada apresenta uma plêiade de admiráveis artistas, alguns de renome nacional: Moacyr Couto, Hanneman Bacelar, Getúlio Alho, Afrânio Castro, Álvaro Páscoa e outros, que honrariam os melhores e mais exigentes salões de arte.

Na eloquência e oratória há um nome que se impõe vitorioso: Evandro Carreira, já consagrado num concurso nacional de oratória. No campo das ciências sociais e econômicas Jefferson Peres e Saul Benchimol são figuras de alto relêvo, que dignificam qualquer instituição de cultura. No mundo empolgante do canto e da música esplendem Nivaldo Santiago, Pedro Amorim e outros.

O Clube da Madrugada possui uma flor escarlate em seu jardim, que lhe dá realce e encanto: é Astrid Cabral, a mais talentosa de quantas alunas tive no Instituto de Educação. É a única mulher, a florir com seu formoso talento no sodalício presidido pelo meu amigo Aluísio Sampaio. Embora ausente, sei que Astrid não perde o contacto com o seu Clube, e sempre envia suas produções.

Soube com certo constrangimento que alguns clubistas se afastaram: Elson Farias, Luís Bacelar e Francisco Vasconcelos, todos três valôles positivos. Respeitando sua posição, com a qual nada tenho que ver, lamento que hajam desfalcado as fileiras do Clube, deixando de colaborar num movimento tão simpático de renovação e incremento nas letras e nas artes. Ficaria satisfeito com o seu retôrno. Estou certo de que seus irmãos os receberiam de braços abertos.

Muitos são os que me perguntaram e perguntam acêrca de minha posição em face do movimento do Clube da Madrugada. É de plena fraternidade e simpatia. Embora minha formação intelectual tenha sido eminentemente clássica e acadêmica, a verdade verdadeira é que nunca me prendi a escolas, pelo menos de um modo exclusivo. Sou como abelha industriosa, que vai de flor em flor, à cata do néctar para o fabrico do mel delicioso. Sempre me atraiu o princípio da variedade: “varietas delectat”. Tenho poetas de minha mais alta estima e preferência em tôdas as escolas e correntes literárias. Afinal, o que monta não é a escola, mas o talento do intelectual e do poeta. Só há uma realidade: é a POESIA. Como quer que seja, dou em letra de imprensa o meu abraço aos sócios do Clube da Madrugada, exortando-os à continuação da peleja em prol do progresso cultural de nossa terra. Ergamos bem alto o nome do Amazonas na comunhão nacional pela afirmação da nossa inteligência, no cultivo fascinante das boas letras e das belas artes!

(Artigo publicado no Jornal do Comércio, mantendo-se o texto ipsis litteris, Manaus, 03.04.1966)


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