segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ALENDA DO GUARANÁ

Jornalista Rosa Doval
Por Rosa Doval *

Os mitos e as lendas são contos que passam de geração para geração. São contados por pessoas que moram nas regiões do interior do Brasil e servem para justificar alguns acontecimentos ou fenômenos da natureza, acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, e até mesmo para assustar as pessoas. E, pela ingenuidade dessas pessoas, elas acreditavam, uma vez que não tinham conhecimento da explicação científica. Por esse fato, as pessoas criavam mitos através da pura imaginação e transmitiam através de histórias contadas.

Com o tempo, os mitos e as lendas foram incorporados ao folclore popular, muitos deram origens às festas populares que acontecem nos quatro cantos do Brasil.

Assim aconteceu com a lenda do guaraná, uma história que narra o surgimento do guaraná. Um cipó que nasce na floresta Amazônica e que é cultivado pelos índios Maués. Foi justamente nessa tribo que surgiu a lenda do guaraná e que mais tarde deu origem ao município de Maués, localizado às margens direita do Rio Maués-Açu a 268 quilômetro de Manaus, Amazonas...

A história conta que em uma aldeia dos índios Maués, um casal tinha um único filho muito bom, alegre e saudável, queridos por todos na tribo. Por ser diferente, seus pais acreditavam que um dia ele poderia se tornar um grande guerreiro. Mas o destino traiu o casal, já que o indiozinho foi picado por uma cobra quando colhia frutos na floresta. Para tristeza de seus pais e toda a aldeia, o indiozinho morreu.

Para justificar a morte do curumim, seus pais acusaram Jurupari, uma espécie de demônio dos Tupis, considerado o deus do mal. A tribo acreditava que Jurupari matara o indiozinho por sentir inveja, pelo fato de o mesmo ser um poço de bondade e muito querido pela aldeia. Para a tribo, Jurupari se transformara numa serpente para matar o indiozinho. Quando os moradores da aldeia encontraram o corpo do indiozinho, a tristeza foi tanta que todos choraram e logo uma tempestade caiu sobre a floresta com raios e trovões. Para a tribo, a tempestade significava um aviso de Tupã, conhecido o rei do trovão.

Foto de Eduardo Oliveira
Fruto do Guaranazeiro 
Para a mãe do índio, na sua concepção, com a perda do indiozinho, Tupã queria beneficiar a tribo com uma planta que trouxesse benefício para a mesma, uma vez que o indiozinho era muito bom, por isso a tribo deveria ganhar algo que fosse benéfico para todos. Assim a mãe determinou que retirassem os olhos do filho morto e enterrassem para que nascesse uma fruta que traria felicidade para todos, ela seria a planta da vida, ela daria força aos jovens e revigoraria os velhos. Assim os olhos do curumim foram enterrados e regados com lágrimas.

Foi assim que surgiu a lenda do guaraná, a planta sagrada dos índios Maués do Amazonas, que nasceu dos olhos do indiozinho morto pela serpente. O guaranazeiro, que até então não era conhecido pela aldeia passou a ser o cipó do milagre que trouxe muitas felicidades a todos.

Mas o que levou os índios a acreditarem que o guaraná era fruto dos olhos enterrados do indiozinho? O guaraná na verdade já existia, mas não era de conhecimento da tribo, por coincidência nasceu no mesmo lugar o guaranazeiro que apresentava uma semente negra rodeada por uma película branca, que logo fizeram a construção de ligação com os olhos do indiozinho. Assim, através da observação, do conhecimento empírico, do censo comum, os índios chegaram a essa conclusão.

As lendas oferecem uma compreensão dos significados das mistificações sobre os quais os mundos são construídos através do conhecimento do senso comum, que faz parte do conjunto de conhecimento do homem amazônida.

Uma vez que o senso comum surge do contato diário com a ambiente e, os índios acreditavam naquilo que viam e sentiam, eles tinham conhecimento de mundo que os rodeavam, portanto, eles buscavam no conhecimento empírico a explicação da realidade que eles viviam. Não tinham conhecimento científico para explicar aquilo que eles acreditavam, nos fenômenos da natureza como trovão, tempestade e morte. A cultura dos indígenas tem uma ligação muito forte com a religiosidade, eles buscavam respostas e explicação sobre a origem do mundo através da religião, quando acreditavam em vários deuses que atribuíam a cada um, uma missão. Cada tribo indígena possuía crenças e rituais religiosos, todos acreditavam na força da natureza e nos espíritos dos antepassados.

Assim eles creditavam que o guaranazeiro era fruto dos olhos do curumim, porque de acordo com a mãe do indiozinho, ela teria recebido uma mensagem de Tupã para enterrar os olhos do filho morto. Para os índios, Tupã representava uma solenidade divina, era o sopro da vida e para esse deus, os índios ofereciam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir os conhecimentos aos habitantes da tribo, ele era muito respeitado por todos e quem determinava as ordens.

Semente do Guaraná
A semelhança da semente do fruto do guaraná, com o olho do curumim, levou a tribo a acreditar que a planta era um milagre dos deuses. E, pelo fato de o indiozinho ser forte, saudável, ativo, assim o guaraná se tornou para a tribo, alimento saudável, com um poder de alimentar a tribo inteira.

Cientificamente, o guaraná é uma planta típica da floresta amazônica, da família das sapindáceas (Paullinia cupania). É cultivada pelos índios e caboclos do município de Maués, tem folhas trifoliadas, ou seja, três folhas, flores pequenas, alvacentas (esbranquiçadas, cinzentas, quase brancas), e cujas cápsulas oferecem sementes ricas em substâncias excitantes, por isso são adequadas para a fabricação de refrigerantes, medicamentos e cosméticos. Também o guaraná está sendo usado na medicina popular como estimulante e no tratamento da fadiga de mulheres com câncer de mama que passam pela quimioterapia. O sintoma afeta cerca de 50% a 90% das pacientes, a conclusão é de estudo inédito feito pelos pesquisadores do Hospital Albert Einstein e da Faculdade de Medicina do ABC-SP.

Guaraná transformado em pó, muito utilizado como energético e para dar vitalidades aos jovens da terceira idade 
*Rosa Doval
Curso de Especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde na Amazônia- Fiocruz_Manaus

A LENDA DO GUARANÁ
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Em uma aldeia dos índios Maués havia um casal, com um único filho, muito bom, alegre e saudável. Era muito querido por todos de sua aldeia, o que levava a crer que no futuro seria um grande chefe guerreiro.

Isto fez com que Jurupari, o Deus do mal, sentisse muita inveja do menino. Por isso resolveu matá-lo. Então, Jurupari transformou-se em uma enorme serpente e, enquanto o indiozinho estava distraído, colhendo frutinhas na floresta, ela atacou e matou a pobre criança.

Seus pais, que de nada desconfiavam, esperaram em vão pela volta do indiozinho, até que o sol foi embora. Veio a noite e a lua começou a brilhar no céu, iluminando toda a floresta. Seus pais já estavam desesperados com a demora do menino. Então toda a tribo se reuniu para procurá-lo.

Quando o encontraram morto na floresta, uma grande tristeza tomou conta da tribo. Ninguém conseguia conter as lágrimas. Neste exato momento uma grande tempestade caiu sobre a floresta e um raio veio atingir bem perto do corpo do menino.

Todos ficaram muito assustados. A índia-mãe disse: "...É Tupã que se compadece de nós. Quer que enterremos os olhos de meu filho, para que nasça uma fruteira, que será nossa felicidade".

Assim foi feito. Os índios plantaram os olhinhos da criança imediatamente, conforme o desejo de Tupã, o rei do trovão.

Alguns dias se passaram e no local nasceu uma plantinha que os índios ainda não conheciam. Era o Guaranazeiro. É por isso que os frutos do guaraná são sementes negras rodeadas por uma película branca, muito semelhante a um olho.

* Rosângela Doval de Almeida
Curso: Especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde na Amazônia

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