O Movimento Operário Brasileiro passa por um longo período de refluxo, suas principais lideranças viraram autoridades de Estado e como tal, apostam na inercia da luta para fazer valer a politica de opressão imposta pelo capital, enquanto as varias correntes do sindicalismo se acotovelam nos corredores palacianos em busca de espaço na corte, os súditos operários vão tendo que se contentar com as sobras dos banquetes, representado no salário mínimo de miséria e nas minguadas bolsas famílias... A história nos mostrou que a simples eleição de um Opérário para dirigir o País não significa que os problemas da classe trabalhadora estão resolvidos, afinal é os patrões que continuam mandando! Para chamar atenção dos novos operários que estão ingressando no mercado trabalho. Nós do A Lucta Social, damos inicio a uma serie de postagem, onde a narrativa da história revela a grandeza de homens e mulheres honradas e dignas como pessoas e exemplo de lideranças. Santo Dias faz parte desse time confiram...
Santo Dias da Silva foi um Lider operário brasileiro |
Na ultima Quarta Feira de Cinzas (22/02/2012), Santo dias da Silva completaria 70 anos, nasceu em 22 de fevereiro de 1942, no Município de Terra Roxa Estado de São Paulo - Brasil, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio.
Operário metalúrgico, era motorista de empilhadeira da Metal Leve S/A. Antes havia sido lavrador, colono, diarista e bóia-fria. Em 1961, foi expulso, com a família, das terras onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Trabalhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas coletivas por aumento de salário e adicional de horas extras.
Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores,era casado e pai de dois filhos.
As origens
Seus pais, Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio Vieira, tinham mais sete filhos, além de Santo, o primeiro braço no potencial de trabalho da família. Durante 40 anos sua família trabalhou como meeiros de diversas fazendas na mesma região.
Católico, desde a adolescência participava das atividades religiosas em sua terra natal, entre elas a Legião de Maria. A movimentação social da década de 1960 influenciou sua atitude e de muitos outros trabalhadores rurais. Entre 60 e 61, junto com outros empregados da Fazenda Guanabara, participou de um movimento por melhores condições de trabalho e salário. Por isso, sua família foi expulsa da colônia em que morava, e teve de morar na cidade, numa casa alugada.
O pais e os irmãos continuaram a trabalhar na roça, como bóia-frias. Santo resolveu procurar outras oportunidades e foi morar em Santo Amaro, na região Sul da Capital de São Paulo, área de grande concentração de indústrias. Ali, conseguiu trabalho como ajudante geral na Metal Leve, empresa de componentes metalúrgicos.
O movimento operário e a Igreja Católica
No início da década de 1960, o movimento operário lutava por aumentos salariais e pelo 13o salário. Ainda sem muita clareza política, Santo participou dessas reivindicações. Em 1965, conhecedor da intervenção no sindicato de sua categoria, iniciou sua atuação no grupo que formava a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Em 1967, para concorrer nas eleições para a direção sindical, a OSM lançou a Chapa Verde, encabeçada pelo militante cristão Waldemar Rossi, onde também participava da Frente Nacional dos Trabalhadores, organização parasindical laica ligada à Igreja Católica que precedeu a Pastoral Operária.
Ainda na década de 1960, a Igreja Católica começava a discutir os ensinamentos do Papa João XXIII e um novo modo de organizar o leigo dentro de sua estrutura. São os primeiros passos para as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundamentadas no que se denominou depois Teologia da Libertação. Elas se multiplicam com a posse, em 22 de outubro de 1970, do novo cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns. Além de incentivar a organização da população em comunidades, havia linhas pastorais que iam ao encontro das necessidades sociais daquela época: direitos humanos, operária, etc.
A atuação de Santo Dias não se ateve ao movimento operário, uma característica importante das novas lideranças surgidas na Capital, durante a ditadura militar. Como católico praticante, era membro ativo das CEBs e dos movimentos de bairro que surgiram da ação desses grupos: lutas por transportes, escolas, melhorias nas vilas de trabalhadores. Participou das coordenações do Movimento do Custo de Vida, entre 1973 e 78, ao lado de sua mulher, Ana Maria do Carmo, liderança feminina expressiva entre os clubes de mães.
Em 1969, com a morte de Costa e Silva assume o poder uma junta militar que governou o Brasil entre 31 de agosto a 30 de setembro. Os grupos radicais de esquerda faziam ações de seqüestro, guerrilha e terrorismo urbano. Os militares responderam com a Lei de Segurança Nacional. Foi escolhido o general Emílio Garrastazu Médici, chefe do Serviço Nacional de Informações como novo presidente. A repressão política se intensificou, com muitas prisões e “desaparecimentos”. O movimento operário se contraiu.
A direção do Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo era considerada “pelega” e apesar do arrocho salarial, seguia os ditames do Ministério do Trabalho, com a proibição de greves e outras formas de organização operárias. Sem a estrutura do sindicato apoiando seus movimentos, os trabalhadores iniciaram movimentos nos bairros e ao mesmo tempo, pequenos grupos no interior das empresas, as comissões de fábricas. Incentivadas pela Oposição Sindical Metalúrgica, as comissões iniciaram lutas pontuais por melhoria das condições de trabalho, com cursos de formação de lideranças, realizadas principalmente nas igrejas, pois a repressão política era muito grande.
Os anos 70
No ano de 1974 a 1978 assume a presidência o general Ernesto Geisel, já no final do “milagre econômico”, trazendo uma proposta de “distensão política lenta, gradual e segura”. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor de Jornalismo da TV Cultura, depois de preso nas dependências do DOI/CODI de São Paulo, acusado de ter ligações com o PCB, aparece morto em sua cela. O operário Manoel Fiel Filho é preso em 1976 por policiais do DOI/CODI, na empresa onde trabalhava, acusado de distribuir o jornal Voz Operária e pertencer ao PCB. Aparece morto e a nota oficial alega suicídio.
Em São Bernardo, no dia 12 de maio de 1978, os metalúrgicos da Scania Vabis pararam por 21% de aumento salarial. Essa ação foi se espalhando e no dia 29 de maio, a Toshiba, em São Paulo, também paralisou sua produção. Um dos integrantes da comissão da Toshiba era Anísio Batista, que junto com Santo Dias, encabeçaram a Chapa de Oposição nas eleições sindicais de 1978. Eram duas lideranças novas, reconhecidas pelo forte trabalho de base que tinham nas fábricas por onde passaram.
Às vésperas da eleição, Santo foi demitido da Metal Leve, onde a esta altura já era inspetor de qualidade. Ajudado por amigos, ele foi empregado pela Alfa Fogões, no Brás, na Zona Norte. Concorreu às eleições sindicais, mas a Oposição “perdeu”. A OSM denunciou as fraudes grosseiras ocorridas durante a eleição, o que deveria tornar obrigatória a realização de novas eleições em 15 dias. Mas, Joaquim Santos Andrade foi a Brasília, encontrou-se com o então ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, que o re-empossou.
Em agosto de 1979, depois de vários anos de intensa movimentação popular exigindo anistia aos presos políticos e exilados, o governo editou a Lei de Anistia, estendendo-a também a torturadores e participantes do aparato repressivo. Em março, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo fez seu primeiro congresso definindo como princípios de sua atividade uma frente de sindicalistas que lutavam pela mudança da estrutura sindical, que entendiam deveria ser independente do Estado e organizada a partir das comissões de fábrica. Santo Dias participa desse processo agora mais amadurecido pela prática. De 31 de maio a 2 de setembro, o 1o. Congresso da Mulher Metalúrgica reforçou as teses da Oposição. Em outubro, os metalúrgicos começam nova campanha salarial. Desta vez, a reivindicação era 83% de aumento dos salários, não aceita pelos patrões. Uma assembleia com seis mil trabalhadores na rua do Carmo decidiu, numa sexta-feira, iniciar a greve.
Morte de Santo Dias
No primeiro dia da paralisação, 28 de outubro, as subsedes do Sindicato, abertas para abrigar os comandos de greve, foram invadidas pela Polícia Militar, que prendeu mais de 130 pessoas. Sem o apoio do sindicato e com a intensa repressão policial sobre sua ação, os metalúrgicos passaram a se reunir na Capela do Socorro, sendo a Zona Sul a região de maior concentração da categoria. No dia 30, Santo Dias, como parte do comando de greve, saiu da Capela do Socorro, para engrossar um piquete na frente da fábrica Sylvânia e discutir com os operários que entravam no turno das 14h00.
Viaturas da PM chegam e Santo Dias tenta dialogar com os policiais para libertar companheiros presos. A polícia agiu com brutalidade e o PM Herculano Leonel atirou em Santo Dias pelas costas. Ele foi levado pelos policiais para o Pronto Socorro de Santo Amaro, mas já estava morto. O corpo de Santo Dias só não “desapareceu” por conta da coragem de Ana Maria, sua esposa. Ela entrou no carro que transportava seu corpo para o Instituto Médico Legal, apesar de abalada emocionalmente e pressionada pelos policiais a descer, não cedeu.
Divulgada a notícia de sua morte pelos vários meios de comunicação, seu corpo seguiu para o velório na Igreja da Consolação. No dia 31 de outubro, 30 mil pessoas saíram às ruas da Capital para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do líder operário, pelo livre direito de associação sindical e de greve e contra a ditadura.
mais de 30 mil pessoas no Funeral de Santo Dias |
O filme Eles não Usam Black-tie, de Leon Hírzman em 1981 e protagonizado por Gianfrancesco Guarnieri, a partir de peça teatral homônima de 1958 do mesmo Guarnieri, foi filmado pouco depois do episódio da greve em São Paulo e da morte de Santo Dias da Silva. O contexto de luta pelo fim da ditadura nos anos 70/80 fez coincidir no roteiro que Milton Gonçalves, no papel de Bráulio (pai do personagem Tião, interpretado por Carlos Alberto Riccelli), recebesse o tiro fatal tal qual Santo: em meio ao enfrentamento do piquete de grevistas com a polícia militar paulista.
Após sua covarde morte, como homenagem de sua luta e seu exemplo, foi criado o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.
Santo era membro da pastoral operária de São Paulo, representante leigo ante a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, membro do Movimento Contra a Carestia, candidato a Vice-presidente da chapa 3, da Oposição no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e integrante do Comitê Brasileiro pela Anistia - CBA/SP.
Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, em frente à fabrica Silvânia, em Santo Amaro, bairro da região sul.
Relato da morte de Santo Dias, publicado no Boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, encontrado no Arquivo do DOPS/SP:
“Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segurava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e, depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão.
O metalúrgico Luís Carlos Ferreira relatou assim a morte de Santo Dias da Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz, que também ouviu mais duas outras testemunhas sobre a morte do companheiro. Segundo Luís Carlos afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de distância de Santo Dias, no momento em que ele foi baleado.
Os policiais continuaram a perseguir outros - prossegue Luís Carlos no seu depoimento. ‘Eu fiquei atrás de um poste e posso, com toda segurança, reconhecer o policial que atirou no Santo: tem cerca de um metro e oitenta, alto, forte e aloirado. E pude ver, depois, na delegacia que ele tem uma falha na arcada dentária. Vi ele bem, quando eu estava sendo levado preso no Tático Móvel 209.
Luís Carlos lembra que havia cerca de 50 operários no piquete, que nunca usou de violência, pois só fazíamos o trabalho de conscientização. Ele também desmente a versão de que os trabalhadores teriam iniciado o conflito, afirmando que quando chegamos na porta da Sylvânia, tinha uns quatro ou cinco policiais guardando o local. Não houve nenhum atrito com eles e nenhum de nós estava armado.
Luís Carlos Ferreira reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do disparo que matou o operário.
Correndo, assustados e ao mesmo tempo com raiva do ocorrido, os companheiros entraram na sede com a notícia parada na garganta: ‘Mataram o Santo’. Num primeiro momento, a dúvida e, após a confirmação, a dor. A repressão diante da Sylvânia, local para o qual Santo se dirigira com a finalidade de acalmar os ânimos, dissolveu a tiros o piquete; fez um ferido (João Pereira dos Santos) e um morto, Santo Dias da Silva. A triste notícia correu de boca em boca. As autoridades procuravam esvaziar e eximir-se da culpa.
Imediatamente começou a mobilização dos trabalhadores para protestar contra o assassinato. A polícia não queria nem mesmo liberar o corpo. Depois da interferência de outros sindicalistas e parlamentares, o corpo de Santo chegou à Igreja da Consolação onde foi velado pelo povo de São Paulo. A tristeza se misturava com a incredulidade e a raiva contra os assassinos. Milhares de pessoas desfilaram diante do caixão aberto de Santo, prestando sua homenagem ao novo mártir da luta operária, que estampava no seu rosto um leve sorriso de tranquilidade.
Já na madrugada, o povo continuava a rezar por Santo e a se preparar para a grande marcha até a Sé, local fixado para a cerimônia de encomendação do corpo.
Tumulo de Santo Dias da Silva |
Às 8:00h da manhã a movimentação diante da Consolação era grande: metalúrgicos, estudantes, todos querendo levar Santo. Saindo da Consolação às 14:10h, o cortejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas. Dos prédios caiam papeis picados, um sinal silencioso de solideariedade. Novos manifestantes se acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: ‘A Luta Continua’, ‘A polícia dos patrões matou um operário’, ‘Você está presente, companheiro Santo’...”
FILME ELES NÃO USAM BLACK-TIE (1981) PARTE 13
FILME ELES NÃO USAM BLACK-TIE (1981) PARTE 13
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