Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
No
dia 17 de fevereiro de 2000, a Companhia Energética de Pernambuco - Celpe foi
comprada, em leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro com um único
concorrente, o Consórcio Guaraniana (formado pela Iberdrola Energia, Caixa de
Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil-Previ e BB Banco de
Investimentos S.A), por R$ 1,7 bilhões. O contrato de concessão, com validade
por um período de 30 anos, foi assinado em 30 de março de 2000.
Mesmo
o atual grupo, agora chamado de Neoenergia, ter como acionistas fundos de
investimentos com participação societária é a companhia espanhola Hiberdrola quem
controla 100% administrativamente a Celpe. A Neoenergia também é controladora
da Companhia Energética da Bahia (Coelba) e da Companhia Energética do Rio
Grande do Norte (Cosern). Possui forte concentração vertical, e atua nos
segmentos de geração, transmissão, comercialização e distribuição, praticando
contratos de self-dealing (auto-contratação). Como é o caso em Pernambuco, onde
¼ da energia comprada pela Celpe vem da TermoPernambuco (termelétrica do grupo
Neoenergia) cujo preço é superior ao da hidroelétrica, sendo a diferença
repassado para o consumidor.
Ao
justificar a venda da Celpe os gestores do Estado de então e seus opositores
(os mesmos de agora, pois nada mudou, somente mudaram de lado: o que era
situação virou oposição, e o que era oposição virou situação) prometiam a
opinião pública, que as tarifas diminuiriam e que os serviços oferecidos à
população iriam melhorar através da gestão privada. Ao completar 12 anos da venda da Celpe, alguns
comentários e observações merecem destaques sobre estas assertivas.
Neste
período o lucro líquido da companhia foi de R$ 2,8 bilhões. Se levarmos em
conta somente o lucro de 2008 até 2011, foi de R$ 1,8 bilhões, valor superior
ao pago no leilão de privatização. O lucro é intrínseco ao sistema capitalista,
e pode decorrer da eficiência da gestão que resulta na produtividade. Só que
não é o caso da Celpe, pois ele é abusivo e conseguido graças à exploração
daqueles que compram e pagam pelos serviços, os consumidores. Só para ter uma ordem de grandeza desta
exploração descabida, entre 2007 a 2010, o lucro líquido da Celpe cresceu 43%,
muito superior ao da inflação no período medido pelo IPCA que foi de 22,2%, e
pelo IGPM que foi de 30%.
Daí
se perguntar, de onde vem tal lucro extorsivo? O aumento das tarifas está
indexado ao Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). O que é uma aberração,
pois tal índice registra a inflação de preços desde matérias primas agrícolas e
industriais até bens fiscais, abrangendo assim toda a população, sem restrição
de nível de renda, ficando acima da inflação oficial, que é medida pelo Banco Central
através do Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA). Dai se levarmos
em conta os reajustes médios a partir do primeiro ano de privatização até os
dias de hoje (não levando em conta a aplicação da recomposição tarifaria extraordinária
de 2,9% e 7,9% para distintas classes de consumidores que vigorou de 2001 a
2006, com a justificativa de cobrir os impactos financeiros causados
pelo racionamento de energia sobre o caixa das distribuidoras e geradoras de
energia elétrica, nem o Seguro de Capacidade Emergencial que elevou as tarifas
de 3,3%), verifica-se um aumento médio total nas
tarifas de 170%. No caso do reajuste de alta tensão (principalmente o setor
industrial) o reajuste tarifário ainda foi maior, de 240%, e no de baixa tensão
(residencial), foi de 130%. Por sua vez o índice que mede a inflação para
aqueles que ganham de 1 a 40 salários mínimos, o IPCA, variou no mesmo período
102%.
Como
resultado desta constatação, conclui-se que o indexador utilizado nos reajustes
tarifários anuais (IGP-M) exerce forte influência para a elevação do valor das
tarifas. Normalmente, a correção de salários, aposentadorias, benefícios e
pensões, e de outros rendimentos que possuem algum tipo de indexação tendem a
acompanhar a variação observada do IPCA. Na prática, as tarifas elétricas estão
subindo pelo elevador, enquanto os salários dos consumidores sobem pela escada.
Ai está o nó da questão. Logo, se não houver uma revisão no contrato de
concessão, sempre teremos esta enorme diferença entre a inflação oficial e o
aumento da tarifa.
Quanto
aos serviços oferecidos, o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor – IASC da Celpe
deixa muito a desejar ao compararmos com outras empresas do país. Todavia são
os consumidores é quem melhor podem melhor avaliar a qualidade destes serviços,
que tem se deteriorado muito nos últimos anos, pelas reclamações e denuncias.
Bem,
somente esta breve analise com os números retirados dos balanços contábeis da
empresa são suficientes para concluir que a privatização colaborou
sensivelmente para o aumento das tarifas (bem acima da inflação que corrige o
salário do trabalhador), e que a qualidade dos serviços caiu drasticamente conforme
constatado no dia a dia da população pernambucana. Privatização para que? Para
quem?
A Desgraça tumou conta com essa privatização,e ainda dizem que privatizando os consumidores é que sai ganhando,me digam no Brasil qual empresa que foi privatizada e é exemplo,não existe uma para fazer remedio.
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