Os surdos não escutam o barulho enlouquecedor gerado pelas buzinas dos carros em um trânsito lento. Eles não sentem falta de ouvir sons diferentes dos habituais motores e vozes humanas. Os surdos não sentem a falta de ouvir a voz de alguns de seus parentes, como as aves, os morcegos, os macacos. Eles não escutam, logo, não compreendem que aquilo não é normal e que estamos vivenciando alguma coisa diferente do que nossos genes dizem que devemos viver. Mas tudo bem, não é culpa deles serem surdos.
Os cegos não veem que o horizonte tem uma cor pálida, embaçada. Eles não veem que a maior parte dos morros e serras que o cercam ou tem uma série de casas humildes empilhadas ou tem uma coloração fosca e uniforme. Os cegos não percebem que esses morros estão estáticos e vazios, sem vida e futuro. Os cegos não veem a fumaça dos veículos e das indústrias. Mas ninguém quer ser cego, não é culpa deles.
Os mudos são os piores, tadinhos. Eles veem os problemas, enxergam a magnitude e alcance de seus atos e de seus irmãos. Os mudos escutam os barulhos paranóicos de uma cidade grande, entendem o caos de uma sociedade próxima ao colapso. Os mudos percebem tudo o que está acontecendo, muitos sabem até o que fazer pra resolver. Mas coitadinhos dos mudos. Eles não podem falar, não podem contar pras pessoas o que veem e escutam. Não podem transmitir seus conhecimentos pras novas gerações. Uma pena!
Tenho pra mim que ser cego, surdo e mudo seja até bom. Eles não compreendem e não sofrem. Não passam a vida pesquisando ecologia, estudando matemática, transmitindo conhecimento pras pessoas e escrevendo em um blog como mais uma tentativa de mostrar pra quem queira ler que precisamos mudar nossa estratégia de vida!
Essa é uma boa tática de pilantragem social.
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