sexta-feira, 6 de abril de 2012

A AMAZÔNIA PRECISA DE DECÊNCIA

 
Ellza Souza (*)

O texto do professor Ademir Ramos “Amazônia saqueada” me animou a escrever algo sobre a Amazônia. É tão complexo esse assunto que me falta competência para discorrer sobre o que aprendi sobre a região, dar uma simples opinião. O problema é que nada na Amazônia é simples e já manifestei várias vezes a idéia de que essa parte do Brasil não é para qualquer um ou talvez nem seja lugar para o ser humano tendo em vista a sua grandiosidade: os rios, as árvores, as pedras, as espécies e a pequenitude da espécie humana que tenta viver por aqui mas sempre deixando um rastro de incompetência e destruição.

Não é de hoje que o homem vive na região. Já tivemos numerosos povos que souberam viver nesse mundo grandioso no ritmo aceitável pela natureza amazônica. Mas as coisas mudaram. Gente que vê na Amazônia apenas um grande tesouro, riquezas e quer se dar bem foi chegando. Muitos índios foram dizimados. Ouvimos das pessoas mais velhas que os estrangeiros que andavam na região em sua época tinham interesses escusos, inclusive “missionários” que levaram ouro, pedras preciosas, bichos e plantas da floresta. Sabemos da história da borracha, do cupuaçu, dos passarinhos e das cobras. Temos de tudo na Amazônia. Mas não temos imaginação e competência para gerir tanta riqueza. Os projetos são mirabolantes mas não funcionam pela falta de praticidade e boas intenções. É muito fácil conferir basta para isso ouvir as pessoas nos barcos que circulam por esses rios imensos. As pessoas tem os problemas e sabem exatamente a solução para eles. As autoridades, porém, não lhes dá ouvidos. Acho que projetos mais simples fariam mais efeito e serviriam melhor ao homem amazônico.

Educação de boa qualidade em primeiro lugar, principalmente para os branquelos modernos que estão levando lixo e drogas para a imensidão desse território. Aliás não somos tão brancos assim pois temos a pele da cor da cheirosa sapotilha. Uns mais claros outros mais escuros mas morenos como descendentes que somos de nossos bravos índios nascidos na terra do sol poente.

Segundo a geógrafa Elena Franzinelli a riqueza maior da região nem é petróleo, gás, ouro mas a verdadeira riqueza são as várzeas onde em se plantando tudo dá. E o que se faz em relação a isso? Qual o projeto para o bom uso dessas margens tão apropriadas para a agricultura. Somos dependentes de alimentos. Não aprendemos com os nossos antepassados as técnicas e o jeito de plantar o que comemos. Nossas terras são adubadas pela própria natureza mas preferimos vender quinquilharias no meio das ruas, respondendo ao descaso das autoridades e a própria falta de interesse em trabalhar na terra que exige um maior esforço e sabedoria.

Para viver precisamos de água e comida. Mas não pensamos nisso. Poluímos intensamente as nossas águas que são fartas mas finitas e plantamos muito pouco. Preguiça, ignorância, adversidades climáticas, falta de apoio político? Acredito que uma mistura de tudo isso. Mas essa mania que temos de ignorar a nossa identidade cultural e histórica onde não aprendemos com as experiências dos antepassados e embarcamos na lábia de aventureiros que querem se dar bem por aqui enganando nossa gente tão despreparada para entender os avanços de um mundo em busca apenas de riquezas. Seria justo se não fôssemos burros.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

  1. A autora resumiu o nosso problema maior no final de seu texto: "essa mania que temos de ignorar a nossa identidade cultural"

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