Há uma crítica pertinente sobre até onde os biocombustíveis são realmente a melhor alternativa para o meio ambiente, já que a sua produção gera impacto no preço dos alimentos, pressão sobre terras aráveis, alto consumo de água – característica da produção agropecuária – e destruição de florestas devido à expansão da fronteira agrícola.
Mas, antes de demonizá-los, devemos saber que existe uma classificação para os biocombustíveis baseada em diferentes parâmetros, como o tipo de tecnologia utilizada no processamento, a matéria-prima ou o nível de desenvolvimento. Eles podem ser de primeira, segunda ou terceira geração. Os primeiros utilizam espécies vegetais que também podem ser usados na alimentação, como a soja e o milho. Os de segunda geração tem origem biológica, mas não são utilizados na alimentação. E os de terceira geração referem-se aqueles que tem como base as algas. Neste post vamos falar somente sobre os biocombustíveis de terceira geração.
A pesquisa sobre a utilização de algas está entre o que há de mais avançado para a geração de energia de modo mais sustentável. A utilização das algas como matéria-prima é extremamente positiva, já que não apresenta os aspectos negativos dos biocombustíveis de primeira e geração. É necessário cultivá-las em condições controladas para se ter uma grande quantidade de biomassa de modo contínuo. Atualmente, os métodos para produção em larga escala compreendem a utilização de tanques abertos com profundidade de entre 20-30 cm ou em fotobioreatores fechados, que consistem em uma série de tubos transparentes, geralmente feitos de plástico ou vidro, que atuam como coletores solares. E isto pode ser feito em ambientes inóspitos como o deserto.
As microalgas têm alto rendimento, podendo gerar 30 vezes mais energia por hectare que culturas terrestres. Algumas espécies possuem alto teor de lipídeos (até 80% de óleo por peso seco) e podem produzir até 137.000 litros de óleo por hectare por ano, em condições ótimas. A título de comparação, a produção do milho é de 172 litros por hectare por ano.
Além disso, como as microalgas assimilam o CO2 da atmosfera, por meio da fotossíntesse, o cultivo delas pode ser integrado às indústrias que liberam este gás. Assim, há uma contribuição para a mitigação do efeito estufa. Um exemplo desta integração pode ser visto em Portugal. A empresa Algafuel, que pesquisa microalgas, utiliza o CO2 liberado por uma indústria cimenteira, por meio de um sistema de tubos.
Por apresentar tantas características positivas e pela necessidade de diversificação da matriz energética, com ênfase nas fontes renováveis, há um movimento mundial em torno das pesquisas com microalgas. Vários países, como Estados Unidos, Alemanha, Israel, Bélgica, França e Nova Zelândia, desenvolvem pesquisas nesta área.
No Brasil, projetos utilizando as microalgas como fonte de energia estão sendo feitos em vários lugares do país, inclusive com apoio de editais federais específicos, por várias instituições, como o Instituto Agronômico do Paraná, Universidade Federal de São Carlos, Universidade Federal da Bahia e pela Petrobrás. Dentre as pesquisas, está o cultivo das microalgas na vinhaça da cana-de-açúcar (resíduo gerado pelas usinas de álcool) gerando um duplo benefício: a biorremediação da vinhaça, por meio da redução da carga de nutrientes, já que estes serão utilizados pelas as algas, e utilização da biomassa destas para produção de energia.
Entretanto, ainda há grandes desafios nas pesquisas para a viabilização técnica e econômica para produção e uso em larga escala destes biocombustíveis, entre eles a otimização dos processos de produção e extração dos óleos.
Após a produção dos biocombustíveis, a biomassa residual das algas ainda pode servir para alimentação animal, fertilizantes e produção de biogás.
Por estas razões, as algas constituem a real esperança de uma produção de energia verdadeiramente sustentável na qual vale muito investir em pesquisas para solucionar seus grandes desafios.
*Viviane Neves é mestranda em Meio Ambiente, Águas e Saneamento e possui bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas, ambos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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