Heitor
Scalambrini Costa
Professor
da Universidade Federal de Pernambuco
A Portaria no578 do Ministério de Minas e
Energia (MME), publicada em 1 de novembro apresentou a tabela com as novas
tarifas para as empresas geradoras de energia com base no valor do custo da
Gestão dos Ativos de Geração - GAG. Já a Portaria Interministerial, desta mesma
data, do Ministério da Fazenda (MF) e do MME de nº 580, definiu os valores de
indenização de geração e de transmissão dos concessionários destes serviços,
que optarem por antecipar os efeitos da prorrogação das concessões, conforme
dispõe a Medida Provisória (MP) nº 579. Para as usinas hidrelétricas foi
considerada para as indenizações o Valor Novo de Reposição - VNR, referenciados
a preços de junho de 2012, conforme estudos realizados pela Empresa de Pesquisa
Energética – EPE.
Agora inicia outra etapa, em que as empresas
terão até o dia 4 de dezembro para decidir se aceitam ou não as condições
impostas. De acordo com o divulgado, a companhia com mais ativos a serem
indenizados foi a Chesf, com cinco hidrelétricas, seguidas por Furnas e Cesp,
com duas. A lista conta com 15 ativos
não amortizados e depreciados (que correspondem a 20% da eletricidade gerada no
Brasil). Ou seja, não foram contempladas pelos cálculos do governo, e não
receberão indenização outras 67 hidrelétricas que tiveram seus pedidos de
renovação dos contratos de concessão autorizados recentemente pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A soma dos valores a serem pagos as
geradoras é de R$ 7,1 bilhões.
De acordo com os cálculos do Governo
Federal, a Chesf receberá R$ 5,1 bilhões. Entraram na lista: Xingó (3.162 MW) -
com o maior valor de todas as hidrelétricas, de R$ 2,925 bilhões, Paulo Afonso
IV (2.462 MW), com R$ 360,472 milhões, Itaparica/Luiz Gonzaga (1.687 MW), com
R$ 1,687 bilhões, Moxotó/Apolônio Sales (400 MW), com R$ 84,612 milhões, e Boa
Esperança (237,5 MW), com R$ 72,783 milhões. Por sua vez as demonstrações
financeiras e relatório da administração de 2011 informam um total de ativos
não amortizados da ordem de R$ 14 bilhões de reais. A diferença é de
praticamente R$ 9 bilhões que a Chesf perderá, caso aceite a proposta.
Já com relação às tarifas a serem cobradas
pelas usinas que totalizam uma potência instalada de 9.212,51 MW, ficou assim:
Complexo Paulo Afonso (Moxotó/Aplonio Sales, Paulo Afonso II, Paulo Afonso II e
Paulo Afonso IV), a nova tarifa será de R$ 3,41/MWh, Xingó de R$ 4,06/MWh, Itaparica/Luiz Gonzaga
de R$ 4,87/MWh, Boa Esperança de R$
7,62/MWh, Funil (30 MW) de R$ 11,84/MWh, Araras (4 MW) de R$ 4,44/MWh e Pedra
(20,01 MW) de R$ 9,43/MWh. Como os valores da tarifa não foi apresentado em
R$/MW, e sim em R$/kWano (invenção dos “especialistas”), em uma análise
preliminar convertemos para a unidade usual dividindo os valores iniciais pelo
fator 8,76. Cálculos mais definitivos podem apresentar pequenas variações nos
valores encontrados em R$/MW, mas certamente não modificarão significativamente
o efeito devastador para a receita da empresa destes valores irrisórios
encontrados por uma metodologia desconhecida.
Sem a menor dúvida as novas tarifas das
geradoras trarão enormes problemas para o equilíbrio financeiro das empresas
estatais. No caso da Chesf o atual preço médio da energia cobrado é atualmente
de R$ 92,00/MW. Os novos valores médios (calculado simplesmente como a média
aritmética) será de R$ 6,52/MWh, portanto uma redução de 93%. Pode-se dizer que
o custo da energia não irá baixar, apenas será vendida, como afirma o governo,
incluindo os custos regulatórios de operação, manutenção, administração, entre
outros, sem remunerar o seu valor. Segundo estudos realizados por técnicos da
Chesf o valor mínimo do MWh para a cobertura dos vários encargos da empresa
seria de R$ 67,00. O governo calculou e impôs um valor 10 vezes menor.
Pode-se imaginar que a curto prazo, a
companhia ficará bem capitalizada pelo volume do ressarcimento, que somado a
indenização dos ativos de transmissão de R$ 1,58 bilhões totalizará R$ 6,7
bilhões, que poderá ser sacado a vista ou em parcelas. Todavia a receita anual via tarifa, obtida
pela Chesf e pelas outras geradoras estatais, despencará. A empresa terá
praticamente um mês para revisar seus cálculos e decidir se quer ou não renovar
os contratos até 31 de outubro de 2042.
O debate agora será no campo legislativo, já
que estão marcadas para as próximas semanas as audiências públicas na Comissão
Especial da MP nº 579, que trouxe as regras para a renovação das concessões. A
bola agora está com o Congresso. Os parlamentares sofrerão a pressão
democrática da sociedade organizada, e espera-se que o interesse público
prevaleça, ou seja, mantendo fortes as estatais elétricas.
Heitor
Scalambrini Costa
Professor
da Universidade Federal de Pernambuco
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