Valter Calheiros (*)
Na margem direita dos Rios Negro e Solimões
estão localizadas as comunidades ribeirinhas do Catalão e Terra Nova. Situadas
no entorno do Encontro das Águas, distantes aproximadamente 30 minutos da
agitada vida urbana de Manaus, distância vencida diariamente por seus moradores
que são transportados em pequenas canoas e barcos regionais que realizam a
travessia do Porto da Ceasa até a outra margem.
Aos manauaras e turistas que visitam este
espaço amazônico único, recomenda-se levar um boné ou chapéu para se proteger
do sol. Mas, o equipamento obrigatório é sem duvida nenhuma a máquina
fotográfica ou filmadora, pois a exuberância do espetáculo proporcionado pela
natureza é famoso em todo o mundo.
A expectativa de o encontro ser inesquecível
transforma o espaço em cenário mágico, onde a natureza dita as normas e o homem
com o auxílio da tecnologia registra através das lentes de suas máquinas a
grandeza do encontro das águas de dois rios que não se misturam, mas
proporciona a união da natureza com os povos ribeirinhos que habitam este
espaço privilegiado da Amazônia brasileira.
Ao olhar da outra margem do rio, nem sempre
percebemos que o poder econômico, político e o silêncio de parte da sociedade,
almejam construir um terminal portuário que irá alterar de forma criminosa a
paisagem, a cultura e o ritmo de vida de populações que historicamente se
relacionam de forma afetiva e harmoniosa com a natureza. Espaço que podemos
considerar uma grande sala de aula a céu aberto com a presença de uma riqueza
imensurável de águas e florestas e mais recentemente em outubro de 2010, os
registros de gravuras rupestres em rochas submersas no Sítio Arqueológico das
Lajes.
Os caboclos das comunidades do entorno do
Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, até então, vigiaram de seus
próprios quintais este espaço onde o fenômeno natural mais conhecido da
Amazônia se apresenta. Esta relação de cumplicidade e pertença em favor da
preservação da natureza é uma resposta viva da aliança firmada entre o homem
amazônico e o Deus Criador de todas as coisas.
É por tudo isso e pela possibilidade que
ainda temos de recuperar e conhecer a história de tantos povos que habitaram
aquelas paragens, que de cabeça erguida grande parte da sociedade amazonense
posiciona-se contrária a construção de um Terminal Portuário de propriedade da
Empresa Vale do Rio Doce em consorcio com a Log-In Intermodal, Lajes Logística
S/A, Juma Participações, dentre outras. A contenda jurídica se encontra desde
maio de 2012 para decisão na Suprema Corte do País.
A abundância de vida e natureza que eclode a
cada amanhecer no entorno do Encontro das Águas nos convida a assumir
compromissos de luta em favor de pescadores e agricultores, crianças e jovens
que habitam nas comunidades desde o Marapatá, Mauazinho, Ilha do Xiborena,
Catalão, Lago do Aleixo, Colônia Antonio Aleixo, Igarapé da Lenha, Igarapé da
Castanheira, Puraquequara, Terra Nova, Careiro Castanho, Lago dos Reis,
Jatuarana e tantas outras.
As reivindicações da sociedade manauara,
amazonense e brasileira estão pautadas na defesa deste rico ambiente
reconhecido como patrimônio cultural de alta relevância, tombado em outubro de
2010 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em
razão do seu elevado valor arqueológico, etnográfico e paisagístico, ato que
deve se consolidar com a homologação do tombamento do Encontro das Águas, ação
que se encontra nas gavetas do Ministério da Cultura aguardando pelo bom senso
e espírito publico de nossos governantes.
A beleza natural que o caboclo vigia e
aprecia de seu próprio quintal, deve ser motivo de incansável defesa, assim, ao
termino de mais um ano o Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas quer
renovar seus compromissos de remar nas águas negras e barrentas de nossos rios,
acendendo nos corações a Luz do Cristo Ressuscitado, firmando com a sociedade o
propósito de lutar contra o poder econômico e político que não conseguem
enxergar que a beleza da vida está na relação intima que o espaço natural nos
proporciona, transformando o encontro em um ato humano, social, transcendente e
divino!
Feliz Natal e um abençoado ano de 2013!
(*) Educador Salesiano, pesquisador e
fotografo do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas. Pós-Graduado em
Pesquisa e Ação Social pela Faculdade Tahirih – Manaus / Amazonas
Valter ainda bem que temos pessoas com o seu olhar em Manaus. Não consigo imaginar um Terminal Portuário nessas águas. Imagino sim muita vida nas comunidades e nos seres que habitam o rio Negro e o Solimões. Que viva o Encontro das Águas imaginado e criado por Deus e que o homem não tem o direito de destruir sob pena de sua auto destruição.
ResponderExcluirConcordo plenamente com Valter e Elza. Mas acredito que todos nós podemos de alguma maneira endossar a luta em defesa do Encontro das Águas. Porto algum nos ligará mais intimamente conosco mesmo como esse encontro natural nos proporciona. Divulguemos e endossemos a luta em defesa da vida, da cultura, da natureza e da não usurpação de mais uma beleza natural pelo capital na nossa amazonia!
ResponderExcluirnaylane_dutra
ResponderExcluirEncontro das Águas nossa riqueza natural que não devemos permitir ser destruída, sem a minima necessidade, ou de modo pior, somente para a necessidade humana, e principalmente, para a necessidade econômica.É um bem de todos e para todos e enquanto houver quem lute em favor da sua conservação e preservação ela se manterá bela como é.
O Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões é uma das maravilhas naturais da Amazônia, do Brasil e do mundo.
ResponderExcluirEsse lugar é simplesmente incrivel, uma paisagem
belissíma é, de tirar o folêgo.Este ícone é reconhecido como patrimônio local da humanidade, devendo ser preservado para que os povos da Amazônia no presente e no futuro desfrutem das riquezas naturais e humanas dessa paisagem.Parabéns Prof. Valter Calheiros pelo trabalho.