O impacto da construção de novas usinas hidrelétricas ao entorno de áreas indígenas está afetando de maneira “desproporcional” muitas etnias da Amazônia. No relatório “Serious Damage – Tribal Peoples and Large Dams” (Danos graves – povos tribais e grandes barragens), a organização Survival International denuncia os efeitos devastadores das novas represas na vida das populações nativas não só do Brasil, mas também de outros países.
De acordo com o relatório, publicado nesta segunda-feira por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas, a maioria dos povos prejudicados com as novas construções sequer recebem algum tipo de benefício. “Faz uma década desde que a Comissão Mundial de Barragens reconheceu que grande projetos hidrelétricos levaram a empobrecimento e sofrimento de milhões”, diz o texto.
Desde então, foram estabelecidas normas e diretrizes para a construção de novas represas, que devem ser guiados pelo livre consentimento prévio dos povos aos projetos que afetarão as suas vidas. “As lições aprendidas no século passado estão sendo ignoradas, e povos tribais em todo o mundo estão a ser novamente marginalizados, os seus direitos violados e suas terras destruídas”.
A Comissão Mundial de Barragens (CMB), criada pelo Banco Mundial e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), para investigar os efeitos da barragens, foi constituída em 1998. O primeiro relatório da CMB, publicado em 2000, concluiu que, "grandes barragens tiveram sérios impactos sobre a vida, a subsistência, culturas e existência espiritual dos povos indígenas e os povos tribais”.
O relatório chama a atenção para uma problemática que é mundial. A China, por exemplo, é hoje o maior financiador individual da barragens, substituindo o Banco Mundial. O Three Gorges Project Corporation, construtor da controversa barragem das Três Gargantas, que deslocou mais de um milhão de pessoas em torno do rio Yangtze, foi contratado para construir uma represa sobre a terra do Penan tribo em Sarawak.
O maior banco estatal chinês, o Banco Industrial e Comercial da China, considera financiar o Gibe III na Etiópia, que deve ser mais alta barragem de África, e vai destruir o sustento de pelo menos oito tribos. Em qualquer lugar do mundo onde estão sendo construídas usinas hidrelétricas, comunidades nativas são forçadas a deixar o local devido à necessidade do alagamento de extensas áreas para as represas.
“Nós não somos contra a barragem. Somos contra a desintegração das nossas comunidades”, declarou o líder comunitário tailandês Mun Rio. Um protesto de lideranças tribais contra a barragem em Sarawak dizia: “Mesmo se tivessem pago milhões de dólares, este dinheiro não pode garantir nossa sobrevivência. Dinheiro pode ser impresso, mas a terra não pode ser criada”.
Amazônia
Na Amazônia, a pequena tribo Enawene Nawe será uma das mais afetadas pelos planos do Governo de construir 29 represas em seus rios, de acordo com o relatório. Em toda a região, inúmeras comunidades, entre as quais cinco praticamente isoladas, vão sofrer os impactos da expansão de energia hidrelétrica. Os Enawene Nawe resistem “ferozmente” a estas barragens.
“Em 2009 e 2010 eles não pegaram nenhum peixe durante a sua temporada anual de captura – uma desastre de uma tribo que não come carne”, diz o texto. A Survival também aponta em seu relatório que mais de 70 pequenas centrais hidrelétricas estão sendo construídas ao longo do alto rio Juruena, estado de Mato Grosso no Brasil.
“Isto também significa que eles não poderiam apropriadamente realizar sua cerimônia mais importante, a yãkwa, que envolve a troca ritual de peixe com os espíritos. As autoridades brasileiras tiveram que oferecer ajuda alimentar de emergência doando peixes de viveiro para a tribo”.
O relatório destaca ainda os prejuízos às comunidades ribeirinhas do rio Xingu com a polêmica usina de Belo Monte, a ser construída com fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de Brasil, a Survival exemplifica casos do Peru e da China para ilustrar o impacto negativo das hidrelétricas sobre comunidades nativas.
Survival
A Survival é a única organização internacional que apoia os povos tribais em todo o mundo. Foi fundada em 1969, depois que um artigo de Norman Lewis publicado no UK’s Sunday Times destacou a massacres, roubos de terra e genocídio na Amazônia brasileira.
Com atuação em 82 países, a Survival trabalha para os direitos dos povos tribais em estreita colaboração com as organizações indígenas locais, e se concentra nos povos tribais “que têm mais a perder, geralmente aqueles mais recentemente em contato com o mundo exterior”.
(Leia o artigo original em inglês, na íntegra em http://www.survivalinternational.org/)
De acordo com o relatório, publicado nesta segunda-feira por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas, a maioria dos povos prejudicados com as novas construções sequer recebem algum tipo de benefício. “Faz uma década desde que a Comissão Mundial de Barragens reconheceu que grande projetos hidrelétricos levaram a empobrecimento e sofrimento de milhões”, diz o texto.
Desde então, foram estabelecidas normas e diretrizes para a construção de novas represas, que devem ser guiados pelo livre consentimento prévio dos povos aos projetos que afetarão as suas vidas. “As lições aprendidas no século passado estão sendo ignoradas, e povos tribais em todo o mundo estão a ser novamente marginalizados, os seus direitos violados e suas terras destruídas”.
A Comissão Mundial de Barragens (CMB), criada pelo Banco Mundial e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), para investigar os efeitos da barragens, foi constituída em 1998. O primeiro relatório da CMB, publicado em 2000, concluiu que, "grandes barragens tiveram sérios impactos sobre a vida, a subsistência, culturas e existência espiritual dos povos indígenas e os povos tribais”.
O relatório chama a atenção para uma problemática que é mundial. A China, por exemplo, é hoje o maior financiador individual da barragens, substituindo o Banco Mundial. O Three Gorges Project Corporation, construtor da controversa barragem das Três Gargantas, que deslocou mais de um milhão de pessoas em torno do rio Yangtze, foi contratado para construir uma represa sobre a terra do Penan tribo em Sarawak.
O maior banco estatal chinês, o Banco Industrial e Comercial da China, considera financiar o Gibe III na Etiópia, que deve ser mais alta barragem de África, e vai destruir o sustento de pelo menos oito tribos. Em qualquer lugar do mundo onde estão sendo construídas usinas hidrelétricas, comunidades nativas são forçadas a deixar o local devido à necessidade do alagamento de extensas áreas para as represas.
“Nós não somos contra a barragem. Somos contra a desintegração das nossas comunidades”, declarou o líder comunitário tailandês Mun Rio. Um protesto de lideranças tribais contra a barragem em Sarawak dizia: “Mesmo se tivessem pago milhões de dólares, este dinheiro não pode garantir nossa sobrevivência. Dinheiro pode ser impresso, mas a terra não pode ser criada”.
Amazônia
Na Amazônia, a pequena tribo Enawene Nawe será uma das mais afetadas pelos planos do Governo de construir 29 represas em seus rios, de acordo com o relatório. Em toda a região, inúmeras comunidades, entre as quais cinco praticamente isoladas, vão sofrer os impactos da expansão de energia hidrelétrica. Os Enawene Nawe resistem “ferozmente” a estas barragens.
“Em 2009 e 2010 eles não pegaram nenhum peixe durante a sua temporada anual de captura – uma desastre de uma tribo que não come carne”, diz o texto. A Survival também aponta em seu relatório que mais de 70 pequenas centrais hidrelétricas estão sendo construídas ao longo do alto rio Juruena, estado de Mato Grosso no Brasil.
“Isto também significa que eles não poderiam apropriadamente realizar sua cerimônia mais importante, a yãkwa, que envolve a troca ritual de peixe com os espíritos. As autoridades brasileiras tiveram que oferecer ajuda alimentar de emergência doando peixes de viveiro para a tribo”.
O relatório destaca ainda os prejuízos às comunidades ribeirinhas do rio Xingu com a polêmica usina de Belo Monte, a ser construída com fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além de Brasil, a Survival exemplifica casos do Peru e da China para ilustrar o impacto negativo das hidrelétricas sobre comunidades nativas.
Survival
A Survival é a única organização internacional que apoia os povos tribais em todo o mundo. Foi fundada em 1969, depois que um artigo de Norman Lewis publicado no UK’s Sunday Times destacou a massacres, roubos de terra e genocídio na Amazônia brasileira.
Com atuação em 82 países, a Survival trabalha para os direitos dos povos tribais em estreita colaboração com as organizações indígenas locais, e se concentra nos povos tribais “que têm mais a perder, geralmente aqueles mais recentemente em contato com o mundo exterior”.
(Leia o artigo original em inglês, na íntegra em http://www.survivalinternational.org/)
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