A tragédia decorrente da explosão da plataforma Deepwater Horizon, de responsabilidade da British Petroleum (BP), deve nos fazer refletir sobre o petróleo do pré-sal: nas mãos de quem o povo brasileiro deixará essa exploração?
No dia 26 de abril de 1986, um reator nuclear explodiu na cidade de Chernobyl, na Ucrânia, país satélite da União Soviética. A explosão emitiu 400 vezes mais radiação que a bomba atômica lançada sobre Hiroshima. Foi o maior acidente nuclear da história mundial: vilas inteiras tiveram que ser soterradas, milhares de pessoas sofreram graves deformações e doenças, e ainda hoje os efeitos da radiação podem ser sentidos nas gerações seguintes. A inaptidão do governo soviético agravou o desastre… No ocaso de um regime burocrático, que não sustentava o próprio dogmatismo, esse desastre foi um alerta para que o mundo descobrisse formas alternativas de geração de energia.
As causas deste acidente não são acidentais. A desregulamentação geral da economia, intensificada nas últimas décadas em todas as partes do mundo, produz uma exploração irracional dos recursos naturais. E a desregulamentação é um recurso do capitalismo contra sua própria crise. Mas o veneno que alimenta a crise capitalista, nesse caso, não pode ser o remédio.
A Transocean, proprietária da plataforma em construção, terceirizou sua exploração para a British Petroleum (BP), cujo contrato estipulava o pagamento de US$ 1 milhão por dia até 2013. Para reduzir custos, a BP quis apressar tudo que fosse possível. O jornal New York Times afirmou que a “BP estava correndo muitos riscos e cortando caminhos na busca de crescimento e lucro” e “independente do contexto de crise e de prejuízos dos últimos anos, a BP foi cronicamente incapaz ou incompetente para aprender com seus próprios erros”. O desastre não pode ser reduzido às suas dimensões técnicas, pois esconde por trás interesses econômicos, destruição ambiental, exploração social e muita ganância.

Os paraísos fiscais constituem a maior fortaleza das grandes corporações do petróleo. As Ilhas Marshall, por exemplo, são constituídas por um arquipélago no Pacífico sujeito aos interesses corporativos dos estadunidenses. Em 2009, as Ilhas Marshall registraram expansão no setor, com 221 plataformas de petróleo novas. Isso significa quatro vezes mais que os EUA. A atração está no fato de que lá a legislação é ainda mais favorável ao empresariado. A ausência de regulação consiste em 5 medidas básicas: a inexistência total de impostos sobre a exploração petrolífera; um sigilo comercial absolutamente inédito; a isenção de qualquer taxa sobre produção, transporte e comércio; a desobrigação em relação aos direitos trabalhistas; e a desconsideração de qualquer lei de proteção ambiental. É a fórmula ideal para astronômicos rendimentos capitalistas, e para incalculáveis danos sociais, ambientais e humanos.
O que vemos é o retrato da dependência do governo em relação à tecnologia privada. O governo dos EUA, assim como qualquer governo do mundo, não está nem perto de acessar os segredos produtivos das grandes corporações mundiais. Essa é uma cilada criada pelo próprio sistema econômico. Por isso resta à Casa Branca lastimar e blasfemar. Se alguém pode resolver o problema criado pela explosão, serão as indústrias de petróleo, que detêm patentes, capacitação técnica e recursos específicos que nenhum poder público possui.
Por isso, antes que no Brasil construamos a nossa própria tragédia anunciada, é preciso garantir que o povo controle e decida sobre a extração de petróleo do pré sal. Ou então, num piscar de olhos, estaremos nas mãos de BP’s ou corporações equivalentes: gananciosas, predatórias, destruidoras do meio ambiente, exploradoras de seus operários, em busca da desregulamentação total para garantir altos rendimentos.

Plataformas que viram sucata

O pré sal, se for submetido à exploração privada, estará sujeito a este tipo de desastre decorrente da ganância. Até agora, os prejuízos com a tragédia já passam de US$ 3 bilhões, sem contar as indenizações. A plataforma que explodiu realizava explorações em até 500 metros de profundidade. A exploração no pré sal ocorrerá a mais de 5 mil metros de profundidade, ou seja, 10 vezes mais pressão atmosférica. Isso quer dizer que um acidente desta mesma proporção na exploração do pré sal, que é ainda mais perto da costa, implicaria em conseqüências extremas para nossos país. Se deixarmos que a iniciativa privada controle essa atividade, mesmo que seja em parceria com o governo, estaremos sujeitos a uma gana para redução de custos da exploração que pode acarretar em acidentes.
Imaginemos a cratera da linha amarela do metrô de São Paulo em 2007, de responsabilidade do governo, da Camargo Correa e Odebrecht, convertida num desastre natural sem precedentes no fundo do oceano. É o mesmo tipo de relação econômica. Totalmente provável.
A exploração do petróleo deve respeitar o interesse público, do contrário veremos nossos recursos naturais mais uma vez evaporarem por trás da atividade das multinacionais. A única forma de explorar esse recurso com segurança é se o governo constituir uma Comissão de Cientistas e Téc

Fontes: New York Times – http://www.nytimes.com/
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