Em uma dessas tardes mormacentas de Manaus, uma afirmativa veio à minha mente: deveras, o Amazonas (em especial a cidade de Manaus) é a terra da ironia! O caro leitor deve estar confuso com o que acabei de dizer, mas já explico tudo. Devo iniciar com a maior de todas as ironias, que é o fato de termos em nosso Estado, a maior bacia hidrográfica do mundo e, ainda assim, vermos notícias de falta d'água em vários bairros de Manaus. A situação, que é preocupante na capital, torna-se insustentável no interior, pois os ribeirinhos sofrem com a falta de água potável para consumir e, por conta disso, são acometidos por várias doenças veiculadas através de água contaminada por coliformes fecais, bactérias e outros agentes patológicos. Doenças tão fáceis de prevenir, mas que, por descaso das autoridades ditas competentes, são vistas como uma coisa sem importância, como problema de pobre. Para essas autoridades, o fornecimento de água potável não está associado à saúde. Com tudo isso a população é penalizada.
Outra ironia desconcertante é o fato de vivermos em um Estado tão rico biologicamente, com um potencial enorme na fauna e flora e, ainda assim, termos uma população miserável. Uma população que, mesmo sentada em um solo riquíssimo, é proibida de usufruir dos recursos naturais ali existentes. Uma população refém dos caprichos do IBAMA que, querendo bancar o guardião das árvores e dos bichos, acaba esquecendo dos ribeirinhos, que depende da floresta para sobreviver (ou seria “subviver”??). É, no mínimo, questionável tal atitude.
O respeito à natureza é crucial, mas não se pode esquecer do ser humano. Não podemos olhar a natureza como um fim em si mesma. Não se pode crucificar um caboclo porque ele está pescando para sustentar sua família, não se pode apedrejar um caboclo por ele estar praticando a sua agricultura de subsistência. O povo ribeirinho, herdeiro dos nossos ancestrais indígenas, sabe melhor do que ninguém como conviver em harmonia com a floresta. O IBAMA deveria ter mais humildade e aprender com esses professores nativos o que realmente é a tal sustentabilidade.
Outra ironia a se dizer está no fato de que os estudantes amazonenses passam toda a sua vida escolar aprendendo a história das outras regiões do Brasil e de outros países, enquanto nossa história permanece esquecida e empoeirada. O povo amazonense não conhece sua própria história, pois a mesma só é ensinada no último ano do ensino médio. Falemos a verdade, a Amazônia não cabe em um ano letivo somente. Se perguntarmos para um aluno do ensino médio se ele pode citar um momento histórico ocorrido no sul ou sudeste do país, ele saberá dizer vários. Mas se a pergunta for em relação ao norte...aí a coisa muda de figura. Um imenso silêncio e a cara de paisagem tomam conta do estudante. Tudo isso está errado, pois um povo que não conhece sua própria história não tem passado, não terá um futuro. Será um povo desmemoriado!
Mais uma ironia que o povo manauara conhece, e que seria cômico se não fosse tão grotesco, está no fato de que tivemos um prefeito chamado Alfredo Nascimento (Cabo Pereira, para os mais íntimos...) que implantou na cidade de Manaus o sistema “expresso”, carinhosamente rebatizado pela população de “estresso”, tal a morosidade e precariedade do serviço de transporte público. Esse prefeito foi responsável por um dos maiores problemas do povo de Manaus, o problema dos ônibus lentos, sucateados e que só faziam aumentar os congestionamentos, devido ao seu tamanho. Foram gastos rios de dinheiro na implantação do tal sistema de transporte inovador, com terminais e paradas adaptados. Tal investimento foi para o ralo, pois depois de poucos meses, as paradas foram abandonadas, o sistema “estresso” tornou-se um fiasco total e a demora nos terminais passou dos limites. Como o povo de Manaus fala: a coisa estava pela hora da morte! A ironia não está nesse fato específico, mas sim no fato de que esse mesmo prefeito, Alfredo Nascimento, com suas burrices em relação ao transporte em Manaus, foi o mesmo sujeito que foi indicado para ser o MINISTRO DOS TRANSPORTES do governo lulista! Seria cômico, não fosse o lado trágico.
É, amazonenses da capital e do interior do Estado!...Quanta ironia no cotidiano de nossa terrinha! Mas não há ironia maior do que aquela que se vê de quatro em quatro anos: votar nos mesmos sujeitos de sempre, na oligarquia baré (Alô Dudu, Nino e Cabo Pereira! Alô Belão! Fala galo Carijó!).
É, parece que aqui o grande negócio é a arte de se fazer vistas grossas, de acomodar-se ao incorreto, de ver graça na desgraça, de achar bela a ironia dos fatos.
Vanessa Benchimol - Biologa e Academica de Jornalismo da UFAM
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