Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal
de Pernambuco
A greve nas instituições públicas de ensino superior (IFES)
completou 100 dias. A duração desta greve é comparada à outra realizada em
2001, em plena era FHC. Mas porque greves na educação, reconhecida como
prioridade nacional chegam a estes patamares de longevidade?
Uma das evidências comuns da estratégia dispensada no tratamento
da greve pelo ”patrão”, o governo federal, é inicialmente ignorá-la,
acobertando suas reais causas, prolongando o máximo possível à negociação com
os grevistas, na tentativa de vencer pelo cansaço e de jogar a população contra
os professores, chamando-os de “intransigentes” e “radicais”, sem ao menos
discutir suas reivindicações. Tenta também, aparelhar o movimento grevista
pelas forças políticas aliadas do Governo que dirigem a maior parte das
Entidades dos Servidores Públicos no sentido de impor uma derrota exemplar ao
movimento e responsabilizar os dirigentes autênticos. A presente greve que se desenrola, não foge a esta regra, com
o governo se negando a negociar.
No caso atual, foi o descumprimento de um acordo feito entre o
governo federal com a representação da categoria, o Sindicato Nacional dos
Docentes de Ensino Superior (ANDES) no ano passado, que resultou no uso extremo
do recurso da greve. Além do mísero reajuste de 4%, havia sido acordado que o
governo, em março de 2012, apresentaria uma proposta para a carreira dos
docentes, que nos últimos anos foi totalmente desestruturada e avacalhada,
tratando de forma desigual, aqueles que desempenham as mesmas funções, tornando-a
assim menos atrativa a carreira de professor universitário. É esta a questão
que está em jogo na greve das universidades federais.
Com o acordo não cumprido e a falta de diálogo levou a categoria,
a nível nacional, à decisão extrema de entrar em greve no dia 17 de maio,
mostrando a exclusiva (ir)responsabilidade do governo federal. Este é um ponto
que merece ser destacado, pois se tenta junto a setores da opinião publica,
responsabilizar e marcar com a pecha da intransigência os docentes e seu sindicato
nacional.
No estado de direito, a negociação em casos de conflitos, é o
caminho desejável para se tentar resolver impasses. Mas a intransigência do
governo, desde o primeiro dia da greve foi evidente. Somente depois de
transcorrido 60 dias de paralisação é que houve o primeiro encontro entre as
partes, e uma proposta foi colocada na mesa, que, diga-se de passagem, não
tinha nada a haver com o pleito dos docentes. Esta provocação seguida de uma
ação midiática foi totalmente desmascarada. Aumento de 40% em 3 anos, foi este
o destaque dado pela mídia. Após os esclarecimentos devidos, à sociedade
entendeu o embuste, pois somente 5% da categoria receberiam este aumento
parcelado em três anos, e o restante da categoria seriam penalizados; e alguns,
nem teriam a reposição da inflação (como avaliar a evolução inflacionaria nos
próximos três anos?). Depois da rejeição unânime, passados algumas semanas, o
governo apresentou a mesma proposta, com uma pequena elevação na soma dos
recursos alocados, representando um acréscimo de R$ 100,00 para os docentes com
a titulação de mestres. Outra provocação para a categoria, que quer discutir
além de salário, suas condições de trabalho e a reestruturação da carreira.
Novamente a proposta “requentada” foi rejeitada maciçamente pelos professores.
Diante da firmeza de propósito e da união do movimento docente, a
estratégia governamental foi modificada. Com a adesão de um grupo de
sindicalistas “chapa branca” (tão freqüente na historia dos movimentos sociais
no país), com ligações político partidárias com o atual governo, assinou-se um
simulacro de acordo entre o Ministério da Educação (MEC)/ Secretaria de Ensino
Superior (SESU). Mesmo repudiado pela maioria de 90% dos docentes, o SESU/MEC
neste momento, encerrou as “negociações (?)” unilateralmente.
Esta cronologia dos fatos mostra claramente a intransigência e o
autoritarismo de quem nunca se dispôs a negociar, e sim impor com truculência e
ameaças suas propostas. Heitor Scalambrini Costa
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