Horas há em que a Floresta Amazônica chora, inundando os Rios
Negro e Solimões que, sem pedir licença, invadem as ruas das cidades. É um
protesto silencioso, um pedido de socorro talvez, só para ver se alguém escuta
o soluço copioso brotando das entranhas da floresta saindo das raízes e das
copas de suas árvores, em forma de
fumaça também. Se nada for feito para socorrer seu lamento triste, estará
próximo seu desaparecimento e será horrível para seus habitantes.
Horas há que ao contrário de chorar copiosamente, manda o sol
inclemente sugar suas lágrimas, deixando à mostra apenas uma terra nua e seca,
por onde antes deslizavam suavemente os
frondosos leitos dos Rios Negro e Solimões, como pedindo socorro contra
os incautos e gananciosos exploradores, irresponsáveis e insensíveis também!
Ah, minha floresta, o que estão fazendo com você? Poderiam
muito bem explorá-la em suas riquezas sem destruí-la em sua
pujança de biodiversidade mas, ao contrário,
preferem destruí-la para depois chorar sobre “leite de seu látex derramado” ou “sobre o roubo
realizado” desde o século XIX quando um “botânico” passou por aqui, entrou em
suas entranhas e roubou de suas mães,
suas filhas, as sementes de seringueiras e as deu de presente ao Rei da
Inglaterra, que mandou plantá-las na Malásia e tornou um caos a economia do
Amazonas!
Ah, minha floresta, tão subtraída, tão desprezada, tão maltratada,
embora como uma mãe zelosa, sempre acolhe a todos que lhe desejam conhecer e
conhecendo-a, exploram-na de forma criminosa, irracional e também
irresponsável! Como sangue de cores do pau-rosa em toras levado para a França
para fixar perfumes e cores negras de suas queimadas, as lágrimas da floresta
parecem que são invisíveis aos administradores públicos.
Ah, minha floresta! As outroras águas preocupantes que banham as
cidades causando preocupações, estados de calamidade pública e muito dinheiro
gasto para a limpeza do lixo deixado pelos homens, ou quando a floresta chora
ou também quando secam devido ao sol enxugar suas lágrimas pela parceria da
floresta com o Rei, é apenas o resultado de sua progressiva destruição lento,
gradativa, mas de forma constante.
Quando as águas dos Rios Negro e Solimões despejaram suas revoltas
impiedosas nas cidades do interior e depois secarem completamente e só deixando
aparecer os dentes de peixe em suas terras nuas e as vértebras e esqueletos que
nos alimentava com fatura mas que agora são jogados no lixo todo o excedente,
foi apenas a forma de protestar que a Floresta Amazônica encontrou, se
defendendo das agressões que vem
sofrendo, com muito lixo jogado em suas veias que não transportam vida; apenas,
morte em forma de lixo, muito lixo, mas parece que ninguém entende o seu pedido
de ajuda desesperado.
Ah, quem escutará um dia minha floresta amazônica em seu canto
triste e penoso, sem ser um canto belo de sereia, que encanta os náufragos? Não
sei! Não sei!
Ah, minha floresta, até quando....?
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