A “canalha da várzea”, movimento crítico literário do Amazonas,
inserida no cardume do projeto Jaraqui, há muito convive com está espécie de
bandidos que se locupletam da coisa pública para beneficiar primeiros os seus e
depois muito depois o povo. Para justificar este comportamento e o modo larápio
de ser parte do princípio de que todo político é corrupto e se ele nunca
roubou, ainda vai roubar o cofre público, e aqueles que parecem honestos é
porque nunca tiveram oportunidade de meter a mão, bem no estilo do Plínio
Coelho: “Quem comeu, comeu quem não comeu não come mais”.
Esta cantiga se transforma em mantra dos eleitores canalhas para
justificar sua conduta corrupta. Ora, como bem disse o Lula, o comandante das
forças dominantes deste País, se todos os partidos fazem caixa dois porque o PT
não haveria de fazer. Pior ainda, o PT de Lula vem sendo apenado no Supremo
Tribunal Federal por crime político de lavagem de dinheiro, peculato e outras
práticas que profanaram a República Brasileira. Mas, como todo canalha procura
banalizar o crime vê esta conduta normal porque se não fosse assim ele jamais
ganharia as eleições e possivelmente o Brasil estaria na mão de outros bandidos
muito pior porque ele rouba, mas é um dos nossos.
Em síntese, a canalhice do eleitor se justifica na confirmação que
ele faz nas urnas dos nomes daqueles que fazem parte da quadrilha de
salteadores do Estado, seja do PT, PMDB, PC do B e seus comparsas, que falam em
parceria, em time e em ação conjunta integrada. Tudo isso ressoa nos ouvidos
dos canalhas, dos cínicos e imorais, daquelas cabeleiras escovadas com
chapinha, a oportunidade de assaltar o povo, apostando na impunidade e no
poderio econômico capaz de manipular resultado nos tribunais, intimidar agentes
públicos responsáveis e beneficiar a mídia com verbas públicas capaz de
silenciar as redações da imprensa.
A ética do canalha é determinada pelo seguinte princípio: “o fim
justifica os meios”, enfim dane-se o mundo, isto é, eu, o meu grupo, a
quadrilha, o time que jogo e voto, seja um vencedor e de rebarba esse eleitor
canalha de carne e osso sente-se no “direito” de optar pela quadrilha que se
apresenta na mídia, fazendo-se de surdo, cego e mudo como se as denúncias
apuradas no Mensalão nada tivesse haver com o modo dos candidatos e dos
partidos que operam por aqui.
Canalhas do Brasil, uni-vos porque os seus lideres e mentores
estão nos bancos dos réus e a espada da Justiça se fará cortante, condenando-os
publicamente e abortando a vitoria dos aliados nas eleições, bem como, toda a
rede fraudulenta montada para assaltar o povo brasileiro. Na reta qualquer relação é pura coincidência.
(*) É professor,
antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
Os candidatos a vice ficam só na penumbra esperando a ascenção
quando o titular do cargo não puder exercer a função. Algo inusitado acontece
em Manaus na prefeitura. O titular não pode. O vice também não. Aí vai embora
até chegar em alguém disposto a enfrentar o abacaxi que é administrar a cidade.
Mas talvez um vice assim vai deixar rolar como uma mãe de muitos filhos que não
cuida de nenhum. Muitas vezes não prestamos atenção ao substituto-candidato e
entra cada parceiro, pior que o principal. Fiquei até satisfeita pois o canal
da TV Ufam (Universidade Federal do Amazonas) fez um programa de debates entre
os candidatos à Prefeitura de Manaus onde os vices mostraram as suas faces e um
pouco de seu perfil.
Segundo o jurista Mayr Godoy o vice-prefeito “é o sucessor do
Prefeito em casos de vaga do cargo e o substituto em casos de licença ou
impedimento. O vice-prefeito pode exercer funções relevantes na administração
municipal, sem incompatibilidade, fazendo jus a vencimentos que não se
confundem com a remuneração do cargo, devendo optar por um deles”. Não é
qualquer um que pode ser vice. Precisa de qualidades, de honestidade, de
méritos, de ficha limpa, para tanto já que na política, é tão importante esse
posto quanto o do titular. Um mau vice é capaz de fazer um rombo nas finanças
públicas tão grande quanto o seu parceiro. E por isso me preocupo com quem irá
substituir o prefeito caso seja necessário. E quase sempre é necessário. Por um
motivo ou por outro.
Não temos mais preceitos idológicos saudáveis no Brasil e a
maioria segue um discurso de falsas promessas e baixarias. Os partidos estão
num balaio de gatos e de interesses. Em vista disso temos que ir mesmo pela
pessoa em si, pelas suas atitudes, pela sua trajetória, pelo seu conhecimento e
por quem está à sua volta. Observar a assessoria que cerca o candidato é muito
importante porque existe uma leva de gente em volta do mesmo que só pensa nos
futuros cargos. É horroroso como algumas dessas pessoas “puxam o seu saco” a
céu aberto, à vista de todos, sem vergonha nenhuma.
Como pode o cidadão ter medo de manifestar a sua verdadeira
intenção de voto? E discutir a sua posição política num clima de completa
democracia e liberdade. Isso é coisa de país fundamentalista que vive oprimido
pela violência e pelo poder imposto pela má política. Mas observo que muita
gente não fala o nome de seu candidato com receio da opinião alheia e de um
poder velado que oprime sim os opositores. Como pode uma pessoa emprestar a sua
imagem um tanto desgastada para dar o seu último suspiro político bem longe de
quem o conhece bem: “Na outra encarnação eu nasci em Manaus”. Tenho certeza que
não. Aqui já temos bastante encrenca pra ir acreditando em quem não nasceu aqui
(nessa e muito menos em outra encarnação) e veio apenas “enfeitar” um palanque
de colegas que estão se achando. Aos vices, a minha esperança de dias melhores.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
Quem é mais notícia: Aquilino ou Amazonino? Será que estamos fugindo da raia quando noticiamos as façanhas do primeiro - um desconhecido da mídia, e deixamos de opinar sobre as pilantragens do segundo - um notório finório que ocupa as manchetes dos jornais do Amazonas?
- Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária é que parece estar fugindo.
Li em algum lugar essa frase do poeta Thomas Eliot e me lembrei dela diante da cobrança de um fiel leitor, de quem frequentemente discordo, mas a quem aprendi a respeitar. Ele acha que estou fugindo dos temas essenciais e me censura:
- Você está abordando outros assuntos em sua coluna como um pretexto, uma desculpa esfarrapada para não opinar sobre as eleições de Manaus.
Segundo outra leitora, estou mesmo fugindo. Ela reforça via facebook:
- Não fuja do pau! No lugar de escrever sobre índios ou sobre a eutanásia, faça um balanço da administração desastrosa do prefeito Amazonino Mendes. Por que você não discute a "guerra do ovo" ou a "guerra do cuspe", tomando posição quanto aos candidatos a prefeito? Isso é que é notícia, o resto é abobrinha que a ninguém interessa.
Será? De qualquer forma, leitores são tão raros, hoje, e mais raros ainda aqueles que te dão um retorno, que recomenda-se tratá-los com mingauzinho de aveia ou mamão com mel. Além disso, é legítima a cobrança feita aqui. Por isso, concordando com eles, comecei a escrever sobre as eleições municipais com destaque para a figura bufonesca e pícara do Amazonino Mendes, mas fui interrompido por um terceiro leitor - leitores são tão escassos - que me enviou um e-mail sugerindo:
- Escreve sobre o Aquilino.
O que é notícia
E agora, José? Entre Amazonino e Aquilino, o que fazer? Com qual conceito de notícia devemos operar? Existem dois mil quatrocentos e trinta e três articulistas que, ignorando os aquilinos, escrevem sobre os amazoninos, cujas malandragens pululam pelos municípios deste Brasil varonil. Por isso, quando alguém faz o caminho contrário, parece que está evitando a notícia, que está fugindo dela.
E isso porque a mídia está se lixando, olimpicamente, para eventos como aqueles que ocorrem, por exemplo, dentro da universidade. Uma aula, uma conferência, uma defesa de tese ou o lançamento de um livro, por mais excepcionais que sejam, jamais serão notícia, a não ser que um aluno dê um tiro nos cornos de um professor, ou uma aluna use mini-saia, bem mini, excepcionalmente mini, como aquela estudante que causou tumulto em uma faculdade de São Bernardo do Campo (SP). Mas aí, a notícia não é o fato acadêmico.
Decido, então, caminhar contra a corrente, com o risco de parecer fugitivo. Interrompo o texto sobre Amazonino, suspeitando de que essa nova direção é válida, se são outros os critérios definidores do que é notícia. Com a licença dos leitores, troco os atores, focando sobre Aquilino. Afinal, quem é ele? O que foi que fez para ser notícia?
Aquilino Tsere'ubu'õ Tsi'rui'a é o primeiro índio xavante a receber o título de mestre. O fato aconteceu na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS), na última quarta-feira, dia 26, quando ele defendeu sua dissertação de mestrado intitulada - A sociedade xavante e a educação: um olhar sobre a escola a partir da pedagogia xavante. Com ele, já são nove os índios de diferentes etnias que se titularam no Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB.
A pesquisa etnográfica feita por Aquilino, orientada pelo doutor Neimar Machado, usou vários procedimentos metodológicos, revisou a bibliografia sobre o tema, entrevistou os velhos xavante, organizou um diário de campo recuperou fotos antigas em arquivos. Dessa forma, o novo mestre pode contar sua história, que é também a da aldeia Marãwatsédé, onde nasceu, e que foi invadida pela fazenda Suiá-Missú. Ele foi expulso de lá, com seu clã, quando era criancinha, o que acabou interferindo até mesmo nas formas de ensinar e aprender.
Pedagogia xavante
O primeiro capítulo reconstrói a andança dos Xavante, na época da ditadura militar, quando os índios foram obrigados a sair da área, sendo levados por aviões da FAB para São Marcos, uma missão salesiana situada a 400 km de lá, no atual município de General Carneiro. Nesse trajeto, muitos morreram de sarampo e outras doenças. Depois de muita luta, a Terra Indígena Marãwatsédé foi homologada e os xavantes a ela retornaram. Mas a retomada integral das terras foi dificultada pela presença de pequenos proprietários.
A pesquisa discute, então, o que aconteceu com as práticas culturais xavante, com a língua, com agricultura e o sistema de troca, com os rituais, com a vida religiosa e com as práticas pedagógicas. O autor comenta os três princípios que orientam as formas de ensinar e aprender: as narrativas antigas, a religião e a tradição. Critica o ensino "copiado" do sistema escolar brasileiro, por não considerá-lo o mais adequado para a escola indígena e propõe o diálogo intercultural como alternativa.
O historiador Neimar Machado avalia assim o trabalho do seu orientando:
- Aquilino reverteu o conceito de história ao propor que a história dos xavante foi andança. Nesse sentido, a história Xavante não é somente dos Xavante, mas também de muitas outras etnias acometidas, expulsas de seus lugares, pelo colonialismo e seus agentes. Agora, segundo as palavras do Aquilino, os Xavante querem e estão voltando aos seus lugares, impelindo o fechamento de um círculo, daí a narrativa circular, pois ela é também história e política, nos termos propostos por Néstor Canclini.
A banca, composta por professores da UNEMAT, UFMS e UCDB, aprovou a dissertação, avaliando que o mestre Xavante cumpriu o objetivo proposto pela pesquisa, que era analisar a organização educacional e os processos próprios de aprendizagem, além de discutir a proposta pedagógica das escolas e o ensino da cultura Xavante.
Prometo que no próximo domingo, o foco será sobre as eleições. Isso se durante a semana nenhum índio defender dissertação ou tese, porque nesse espaço, primeiro vem o Aquilino e, depois, os amazoninos. Hepãrĩ - obrigado!
Líder da Dilma no Senado Eduardo Braga vai propor CPI para apurar o que aconteceu com o Ovo que virou cuspe na eleição de Manaus!!! kkk....!
Ademir Ramos (*)
A pergunta bate nas redações provocando varias explicações. O fato
é que a candidato do PCdoB conta com o maior tempo de TV, o maior orçamento de
campanha, diz que tem apoio do Lula, da presidente Dilma Rousseff, do
ex-governador Eduardo Braga e do governador Omar Aziz. Contudo, não consegue
traduzir em voto, batendo sola no segundo lugar nas pesquisas para a Prefeitura
de Manaus, aumentando ainda mais sua rejeição, conforme falam os números.
O fenômeno merece atenção dos especialistas porque objetivamente a
candidata possui os meios materiais necessários para implementar sua campanha
e, em tese, dar “ovada” nos seus oponentes. No entanto, embioca deixando os
seus apoiadores, amigos e parceiros, como ela registra, constrangidos com os
resultados das pesquisas. E então começam interferir no rumo da campanha
querendo mais sangue, outros, falam do perfil ideológico da candidata por ser
comunista e querer o voto dos fundamentalistas evangélicos; falam também da
própria mídia da candidata por ser bastante poluída, ofuscando a mensagem da
campanha; da mesma forma criticam a linguagem e duvidam da compreensão de sua
mensagem junto às massas.
Não satisfeito, o ex-governador Eduardo Braga resolveu assumir a
campanha chamando para si os holofotes. Não satisfeito, o PCdoB visando
impactar as ruas e os bairros quer contratar mais gente para trabalhar fazendo
os arrastões nas ruas e nos bairros crendo que desta forma sua candidata empina
marcando pontos nas pesquisas e quiçá nas urnas. Desesperados, comenta-se
também que o governador Omar Aziz sente-se pressionado a dar o próprio sangue
na campanha, inclusive, pressionando a primeira dama a participar das eleições
em nome da permanência do time a frente do poder do Estado, manifestando total
apoio a comunista Vanessa.
A campanha de Vanessa Grazziotin virou um cabo de guerra entre os
partidos coligados e seus apoiadores. A trama faz lembrar aquela máxima do
futebol, onde os cartolas da política no Amazonas combinaram tudo entre si, mas
esqueceram do principal ator que é o povo. Esta ausência, ora reclamada,
repercute nas pesquisas deixando os marqueteiros em queda. Para superar estes
entraves, Eduardo Braga assumiu a direção da campanha dando as ordens e batendo
o martelo, inclusive, pedindo voto por telefone aos seus correligionários.
A racionalidade da candidata do PCdoB faz-se presente na
materialidade de sua campanha, que é densa e massiva, mas não se traduz em
voto, segundo as pesquisas. A fortuna, que não é grana, não sopra a seu favor e
por isso não consegue empinar, fazendo com que os comunistas, nesse momento,
recorram às “forças ocultas”, para explicar a rejeição sofrida por Vanessa
Grazziotin e assim desatar este nó que enforca o time de Eduardo Braga em
direção a Prefeitura de Manaus, do contrário a derrota está consumada.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
Maria Benedita da Silva, do Estado do Pará, enquanto chora a morte
de sua filha de 11 anos em troca de uma cesta básica, lembra da promessa que os
assassinos lhe fizeram: “vou comprar uma cesta básica e levar para a senhora.
Sua filha vai estudar...”.
Não estudou e nem estudará a filha de Maria Benedita da
Silva, pois do cemitério aonde passou a
residir até a escola em que a menina estudaria é uma distância eterna e a
garota tem medo de fantasma de outros mortos vivos iguais ou piores do que seus
patrões!
Por que morreu a filha de Maria Benedita da Silva? Por que ela não
fora matriculada na Escola? Por que ela teve que trabalhar cuidando de outra
criança como ela, tão cheia de sonhos...? Culpar a mãe? Nunca! Culpar o Estado
do Pará? Culpar a quem, então?
Ninguém tem culpa diretamente pela morte da filha de Maria
Benedita da Silva, mas a sociedade e o Governo são indiretamente culpados pelo
crime! A sociedade, porque aceita passivamente as migalhas em forma de bolsas e
o Governo por não ter criado bolsa funerária que ampare pobres pais de famílias
como a de Maria Benedita da Silva e muitas outras crianças.
Enquanto só no Estado do Pará ainda existem 11 mil crianças e
adolescentes trabalhando e sonhando ter profissão de médico, engenheiro,
advogado, dentista, assistente social, jornalista ou outras, o Governo não
oferece cursos profissionalizantes aos pais ou um tipo de bolsa que seja
direcionada aos pais dessas 11 mil crianças e adolescentes que trabalham para
que ingressem no mercado de trabalho formal.
Enquanto os pais sem empregos deixam crianças e adolescentes
perderem suas infâncias trabalhando como domésticas ou babás, situação
considerada normal por quem precisa e entregam suas crianças para famílias da
capital em troca de promessas de cestas básicas e educação, o Governo deixa de
criar a bolsa pelo menos funerária para apoiá-los...
Dona Maria Benedita, se os patrões de sua filha deixarem a cadeia,
não forem julgados ou forem absolvidos, o que não será difícil nos dias da
Justiça de hoje, e ainda forem cumprir a promessa de lhe oferecer cesta básica,
não a receba porque ela estará manchada com o sangue de sua filha, por mais
que a fome se faça presente!
O Governo, que tem tanta bolsa para transferência de renda, ainda
não criou a bolsa transferência de renda para a morte de sua e de outras
crianças que também são enganadas com promessas e morrem. O pior de tudo isso,
dona Maria Benedita, é que o Governo ainda lucrou com a morte de sua filha
cobrando impostos sobre o caixão, vela, flores e outras coisas necessárias ao
enterro de sua criança. Hoje, dona Maria Benedita, sua filha não vai para a
Escola porque está morta; a escola fica muito longe e ela ainda tem medo de
fantasma de pessoas vivas que maltratam, espancam e até matam outras crianças
em nome de uma ilusão, sonho e promessas...!!!
E ainda há quem acredite na idéia da Organização Internacional do
Trabalho que será possível erradicar até 2015 o trabalho do menor de 5 a 9 anos
que trabalha, como a filha de dona Maria Benedita, do Pará, que morreu aos 11
anos de idade, cuidando de crianças de seus patrões.
Inesperadamente, perdemos nosso grande amigo e companheiro Raymundo
Araújo. Foi no último dia 23 de setembro. O coração pregou-lhe uma peça:
recusou continuar a bater em seu peito. Sua vida foi ceifada ainda muito cedo.
Conhecemo-nos por acaso – se é que o acaso existe –, através das
mensagens da internet, já não me lembro bem, mas sei que nosso contato se
iniciou sobre as questões políticas dos últimos anos. Ele no Rio, eu aqui em
São Paulo. Travado o primeiro contato, a afinidade se revelou com nossas
preocupações quanto à justiça sistematicamente negada aos trabalhadores, do
campo e da cidade.
Com o passar do tempo, vindo a São Paulo, Raymundo nos fez uma
visita, a mim e à Célia, em nossa casa. A amizade e o companheirismo cresceram
de forma extraordinária e rapidamente, graças ao seu temperamento dinâmico.
Sempre gostei do teor dos seus escritos voltados para a política
nacional e as lutas dos trabalhadores. Mas não escondia minhas insatisfações
quanto aos excessos das adjetivações. Toda sua decepção e insatisfação com as
traições dos que deveriam defender os interesses populares, ele as fazia
extravasar com múltiplos adjetivos, muitos dos quais excessivamente ofensivos.
Não era revoltado. Era indignado e agia conforme sua indignação. Abusando de
nossa recente amizade, ousei sugerir que ele se ativesse ao debate político,
deixando de lado as adjetivações desnecessárias, pois estas poderiam soar como
desqualificação de pessoas ou do debate político. Diz antigo ditado que “o uso
do cachimbo faz a boca torta”. Raymundo entendia e acatava as observações, mas,
vira e mexe, retomava seus escritos furiosos, numa luta incansável consigo
mesmo.
Como todo ser humano honesto, foi progressivamente evoluindo, e o
desnecessário foi sendo descartado em seus artigos, que passaram a ser de
leitura mais agradável, tendo aceitação maior.
Com o tempo, tivemos a felicidade de conhecer sua companheira Tita
Ferreira, que também teve a gentileza de nos visitar em casa. Nesse dia, depois
de um animado papo, Raymundo e Tita lançaram a ideia de fazer uma gravação com
o “casal militante”, como ambos nos apelidaram. Daí, para surpresa nossa,
editaram um DVD ao qual deram o título de “A História por quem a faz”.
Aprendi a admirar e respeitar seu firme compromisso com a justiça
social e suas ações visando contribuir para o esclarecimento, sobretudo de
trabalhadores do campo, sua área de atuação, oferecendo seus conhecimentos e
contribuindo para sua organização. Como todo ser humano consciente do seu
protagonismo na história, Raymundo tinha planos generosos de apoio aos que se
mantêm firmes e perseverantes nas lutas populares. Era agradável ouvi-lo falar
com grande entusiasmo sobre seus trabalhos, assim como dos projetos do casal em
andamento, especialmente na área da pecuária.
Mas, infelizmente, “nem tudo são flores”. Raymundo se foi. “Em que
planeta andarás?”, pergunta Paulo Barroso, em seu poema “República do coração
indomado”, escrito no mesmo dia 23, em sua homenagem. Paulo foi muito feliz com
o título desta linda poesia, pois Raymundo, felizmente, sempre foi um coração
indomado, não aceitando medidas e atitudes autoritárias, nem mentiras e
bravatas de políticos se dizentes de “esquerda”. Por isso mesmo, sofreu
perseguições e ameaças. Mas manteve-se perseverante e fiel aos seus princípios.
Sentiremos sua falta, Raymundo, e a saudade já bate às portas do
nosso coração e da nossa mente. Você deixa um espaço vazio, que não se poderá
preencher!
Nossa solidariedade à querida Tita, emocionalmente abalada com a
partida inesperada, generosa companheira dos últimos anos da vida do Raymundo.
Nossa solidariedade se estende à sua mãe e a todos os seus familiares.
Nesta modesta homenagem ao companheiro Raymundo, pedimos licença
para acrescentar um refrão da música dedicada a Santo Dias da Silva, quando do
seu assassinato pela polícia da ditadura militar: “Santo, a luta vai continuar.
Por seus filhos, vai continuar...”.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral
Operária da Arquidiocese de São Paulo.
Surfando na onda das eleições como líder nas pesquisas, Artur Neto
transforma-se em vidraça e passa a levar “ovada” do PCdoB, que desesperadamente
tenta empinar a candidata comunista correndo contra o vento, afrontando, dessa
feita, a vontade da maioria que se manifesta favorável as eleições de Artur
para a Prefeitura de Manaus. O recorte conjuntural tem dado conta de que as
práticas rasteiras não resultam em voto quando se tem pela frente um eleitorado
convencido de sua opção como garantia da cidadania.
Ódio e vingança são valores que não coadunam com a política
civilizatória. Esta prática é reflexo de um tempo mórbido marcado pelo
coronelismo de patente comprada aliançado com os políticos provincianos, que
tratavam o povo no cabresto como refém de seus açoites tal como os animais em
seus currais.
No entanto, está comprovado que a história não se repete porque
não se banha duas vezes no mesmo rio. Entretanto, quando uma determinada
liderança perde o eixo, não tendo perspectiva do amanhã, recorre ao passado, às
mesmas práticas para tentar fazer valer a sua vontade e ludibriar o povo mais
uma vez.
O ensinamento que se pode tirar de tudo isso, é que os candidatos
compram os pacotes dos marqueteiros, que por sua vez, se comportam fora da
história ignorando a cultura do povo local. Com esse gesto buscam dominar
simbolicamente o povo fazendo de tudo para mantê-lo sob o chicote e o grito do
governante tresloucado.
Na verdade, a propaganda não deve se divorciar do perfil e da
história do candidato. Para isso é necessário que a prática política represente
a sua vontade e que se afirme como verdadeira no imaginário político do
eleitor. Ao contrário, tudo não passa de verniz, de sombra, faz de conta, não
merecendo do povo credibilidade e respeito.
A opção do eleitor de Manaus será conferida nas urnas, embora as
pesquisas favoreçam ao candidato Artur, nada, absolutamente nada, substitui a
vontade solene do povo a ser proclamada no resultado final. Das eleições
devemos abstrair ensinamentos que sirvam de diretrizes para conduta do cidadão
candidato e para o próprio eleitor.
O fato é que o tempo é implacável e quem não souber ler e
decodificá-lo, com absoluta certeza, não alcançará o porto seguro e muito menos
fará a travessia, ficando entre os afogados abraçados entre si, acometidos
pelos males da arrogância, autoritarismo, prepotência e, em última instancia a
febre do populismo configurada na prática do messianismo a prometer mundos e
fundos aos excluídos.
Política também é paixão que se tradução em confiança, relação e
credibilidade. É o corpo a corpo, onde o eleitor e o candidato inseridos numa
representação conceitual promovem o amor, a justiça, a fraternidade e,
sobretudo, a felicidade pública criando condições para que todos (as) sintam-se
parte do processo de governança.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
No nono dia dos protestos dos pescadores do
Xingu, que se mantém acampados em ilha próxima às obras da barragem de Belo
Monte, representantes do Ministério da Pesca e da Casa de Governo se reuniram
com representantes da Colônia de Pescadores Z-57 em Altamira, no Pará. Também
participaram da reunião a Associação dos Criadores e Pescadores de Peixes
Ornamentais (ACEPOAT) e a Cooperativa dos Pescadores e Beneficiadores de
Pescado de Altamira (COOPEBAX).
As associações de pescadores entregaram aos
representantes do Governo Federal uma lista de reivindicações denominada:
“Reivindicações Básicas mínimas para o inicio das tratativas dos movimentos
sociais que utilizam o Rio Xingú como atividade de subsistência – Ribeirinhos e
Pescadores de Altamira e Região”, tratando dos impactos da obra de Belo Monte,
incluindo a continuidade do desenvolvimento das atividades de pesca e
aquicultura no Rio Xingu. No relatório
do que o governo chamou de “audiência com os pescadores de Altamira”, as
reivindicações foram encaminhadas para discussões futuras, em mesas de
discussão entre “governo x Norte Energia”, e para “encaminhamentos a quem de
direito”.
“Todas essas questões envolvendo os impactos
de Belo Monte sobre os pescadores e suas famílias deveriam ter sido discutidas
antes do início da construção. Agora o governo e a Norte Energia estão tentando
fazer com os pescadores a mesma coisa que fizeram com os índios, enganando eles
enquanto avançam com as obras”, diz Antonia Melo, coordenadora do Movimento
Xingu Vivo.
DRAMA DOS PESCADORES
Os pescadores denunciam o drama que estão
vivendo com a diminuição dos peixes após o início da construção do barramento
do rio e estão preocupados com o avanço acelerado das obras na ensecadeira do
pimental, onde está sendo construído barramento para desviar o curso do rio.
“Agora você vem para o rio e aquela produção
que você fazia em 3 dias, não consegue fazer nem em 8 dias. O peixe está
diminuindo aqui. E pra cima do Xingu, não tem como a gente ir, porque o que não
é área indígena já está cheia de pescadores. E aqui o peixe está sumindo. E os
peixes que morrem eles recolhem e dão sumiço”, denuncia o pescador indígena
Cecílio Caiapó, “A gente fica uma semana no rio e volta com uma mixaria de
peixes pra casa. O que a gente vai mostrar pra nossa família? Quer dizer que as
obras não podem parar mas a gente pode morrer de fome?”, questiona. Cecílio
afirma que os pescadores só queriam poder continuar pescando, como sempre
fizeram.
O pescador Lindolfo explica que desde o
início do verão (em Maio deste ano), ele está sendo obrigado a gastar o dobro
de combustível e tempo, para conseguir encontrar uma quantidade de peixes menor
do que sempre conseguiu pescar no Xingu. “E aí, como é que eu fico? porque eles
estão quase fechando o rio na ensecadeira”, diz Lindolfo.
Entre as demandas discutidas na reunião desta
quarta, os pescadores exigiram uma nova
avaliação de impactos sobre os estoques de peixe através do levantamento dos
estudos feitos pela UFPA e outros sobre monitoramento da pesca e biomas, como
subsidio de avaliação do grau de impactos na produção e ambiente natural do
pescado atualmente.
INTIMIDAÇÃO
Ao longo dos últimos dois dias, funcionários
uniformizados do Consórcio Construtor de Belo Monte, têm desembarcado na ilha
onde os pescadores estão acampados para filmá-los em atitude de intimidação. A
ilha da resistência, como está sendo chamada pelos pescadores, não pertence ao
CCBM.
“Nós estamos muito revoltados, porque podia
ter vindo um representante da Norte Energia aqui fazer uma proposta justa pra
gente e ao invés disso mandaram a polícia na semana passada e agora os guaxebas
para ficarem filmando a gente sem autorização”, diz o pescador Cecílio, que
acusa os funcionários da empresa responsável pela construção de Belo Monte de
agirem com intuito de intimidá-los e de não respeitarem o direito dos
pescadores à imagem.
“Essa é uma forma criminosa de intimidar os
pescadores”, diz Antônia Mello, do Xingu Vivo. Segundo funcionários da empresa
relataram à alguns pescadores, a proximidade do grupo às obras forçou o cancelamento
de explosões que ocorreriam no final da tarde de ontem.
Atualmente, a pesquisa é uma plataforma necessária para mensurar a
vontade e a opção do eleitor. Nenhum candidato de bom senso descarta esse
recurso técnico, essa ferramenta de trabalho, que capta a vontade do eleitor
servindo também para orientar e conduzir o candidato no firme propósito da
apreensão do voto. Essa determinação do candidato faz com que tecnicamente
recorra a mais de um instituto de pesquisa para orientar internamente o rumo de
sua campanha; quando não, as pesquisas quantitativas são casadas com as
qualitativas, permitindo que o candidato conheça as necessidades dos eleitores
de um determinado segmento, zona ou classe.
O domínio dessas informações e demandas pelo candidato dá
credibilidade as suas propostas, convencendo o eleitor de que ele é o melhor.
Além de auxiliar o candidato diretamente, as pesquisas servem também para
justificar a captação de recursos financeiros juntos aos seus apoiadores, que
por sua vez, avaliam o desempenho do candidato e a partir dos índices das
pesquisas resolvem investir ou não nesse ou naquele, apostando também no
sucesso.
Pesquisa não ganha eleição, mas, pode muito bem servir como
instrumento de mobilização para captação do voto do eleitor indeciso, que se
encontra na dúvida, esperando o grito da galera. O eleitor massa sente-se
satisfeito em apostar no sucesso e na vitória, votando naquele que lidera as
pesquisas. Esta realidade é muito mais gritante quando se trata de uma
sociedade marcada por perversa desigualdade social.
Contudo, é necessário esclarecer que, embora o Tribunal Regional
Eleitoral (TRE) exija dos órgãos responsáveis sua inscrição junto a Corte, não
instituiu regra de acompanhamento para consecução dos procedimentos
metodológicos dos trabalhos desses órgãos para avaliar e conferir os resultados
apresentados. O que poderia ser feito, obrigatoriamente pelo TRE, por meio de
análise e avaliação dos relatórios assinados por profissionais qualificados do
campo das ciências sociais.
Desse modo, a Justiça Eleitoral estaria cumprindo com o seu dever
para salvaguardar o eleitor de qualquer dirigismo e manipulação, conferindo
legalidade e legitimidade as pesquisas quanto à proximidade da realidade das
urnas.
No Amazonas, o fato político é que todas as pesquisas dão conta da
liderança de Artur Virgílio Neto (PSDB), para Prefeitura de Manaus. Quanto aos
números proclamados pelos institutos parece que a discrepância está muito mais
no foco (segmento ou zona pesquisada) do que nos procedimentos metodológicos
adotados pelos pesquisadores, o que não contrário os resultados.
De qualquer modo, é necessário que os órgãos de pesquisa não
percam a noção de totalidade e que se comprometam em apreender cada vez mais a
complexidade social, política e econômica do eleitorado do Município de Manaus,
traduzindo em números a vontade geral do manauara. Enfim que a vontade do povo
seja respeitada e vença o melhor.
(*) É professor, antropólogo e coordenador da NCPAM/UFAM.
NCPAM O eleitorado de Omar Aziz (PSD) está desencantado com o seu
desempenho a frente do governo do Amazonas. Esta manifestação resulta da não
afirmação de sua liderança como direção política no Estado parecendo invisível
no cenário local e nacional. Será que ele jogou a toalha mesmo, optando viver a
sombra? Se isto for verdade, o que isto significa para o futuro político do
Amazonas? Ou quem sabe, é caso pensado?
Estas e outras perguntas são feitas pelos especialistas que fazem
de tudo para “descascar esse abacaxi” e compreender esse fenômeno tanto para o
presente como para o futuro. Um dos marcos desse percurso foi a escolha daDeputada Federal Rebeca Garcia (PP) para a prefeitura de Manaus, indicação esta
que foi atropelada pelo ex-governador Eduardo Braga (PMDB), deixando Omar Aziz
sem chão.
Outro marco significativo foi a demissão do Secretario da
Educação, Gedeão Amorim, que se envolveu numa trama política partidária
afrontando a legislação eleitoral. Aceito sua demissão, o governo Omar Aziz
passou 30 dias para escolher o novo secretário e finalmente, a nomeação não
correspondeu à expectativa de sua agremiação por se tratar de uma Secretaria
com maior musculatura em todo o Estado.
Os fatos denunciam certa complacência do governador Omar, em não
querer entrar em bola dividida com o senador Eduardo Braga, aceitando, dessa
feita, a condição de subalternidade no cenário político local.
Estas e outras condutas fazem pensar que o governador Omar Aziz,
realmente, jogou a toalha, cumprindo simplesmente as ordens do ex-governador
Eduardo Braga. Nessa teia política,
parece que o governador Omar Aziz está muito mais para os repteis do que para
as águias.
Se assim for, as eleições municipais também podem ser uma grande
armadilha para Omar Aziz, tornando-se refém de Eduardo Braga por não saber
reordenar a política e muito menos garantir confiança e a credibilidade a sua
tropa. O que faz com que seja debitado para o ex-governador todo o mérito da
política local; os males, por sua vez, serão creditados na história a Omar
Aziz, aquele que foi sem ter sido.
Uma criança, em sã consciência, não trocará o pequeno peso de um
lápis de escrever por uma grande e pesada enxada de capinar. Ela o faz por pura necessidade em ajudar a
família sempre muito numerosa, com pouca qualificação do “cabeça do casal” ao
emprego e perde o foco na educação, no estudo!
Foram-se os tempos em que pessoas com até 20 membros de uma mesma
família pobre (O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – a trajetória dos assistentes sociais
masculinos em Manaus, em análise de dados – in carloscostajornalismo.blogspot.com) trabalhavam todos para que, pelo menos, um de seus membros virasse um
“doutor”. Foi-se o tempo romântico da época da borracha, quando o Amazonas era
um dos Estados mais ricos do Brasil e as famílias se davam ao luxo de mandar
lavar suas roupas na França por falta de lavadeiras em Manaus!
Isso agora virou história porque a realidade social atual mudou
muito desde aquela época do apogeu da borracha ou da “Ilusão do Fausto”, título
de livro da professora da UFAM Edinéia Mascarenhas, que retrata essa mesma
época. A professora garante em sua obra que nunca existiu o período áureo da
borracha no Amazonas; somente uma ilusão de riqueza!
Deixando a historia real de lado e voltando ao tema social da
crônica, o certo é que o Brasil, segundo dados oficiais, reduziu em mais 60% o
número de pequenos trabalhadores entre cinco e nove anos de idade. Na faixa
etária de 10 a 17 anos, a redução foi de 36%, mas poderia ter sido bem mais se
os países das crianças recebessem qualificação para ingresso no mercado formal
de trabalho, com CTPS assinada e também possuíssem alfabetização para que mais
crianças também possuíssem e exercessem sua plena cidadania. Estudo divulgado
pela Organização Internacional do Trabalho mostra uma redução no índice do
trabalho infantil em todos os países, incluindo o Brasil, onde o programa só
foi implantado em 1986, e que já conseguiu retirar mais de um milhão de
crianças e adolescentes das ruas, dando-lhes oportunidade de viver suas
infâncias. Mas ainda falta qualificação profissional de seus pais para que lhes
seja permita a oportunidade de sustentar suas famílias com dignidade!
Relatório da OIT em 2004, quando o Brasil ainda não havia
implantado o PET, mostrava que 97% dos jovens de 7 a 14 anos, estavam
matriculados no Ensino Fundamental, mas ainda falta educação profissionalizante
para os pais das crianças a fim de que
elas não voltem ao mercado informal de trabalho (no Brasil a criança
pode ser menor-aprendiz depois de seus 16 anos).
Para continuar nesse ritmo e permitindo que mais crianças não
continuem trocando a leveza de um lápis de escrever, a delicadeza e perfeição
de uma borracha que apaga os erros ou de um livro lido que faz transportar o
leitor pelo mundo da imaginação de um autor, pelo pesado cabo de uma inchada na
roça ou uma pilha de pratos sujos a serem lavados por uma garotinha qualquer,
em um lar qualquer, também se faz imprescindível que 97% dos pais das crianças
retiradas das ruas ou de outros milhares que ainda se encontrem trabalhando,
receba qualificação profissional e ingressem no mercado formal de trabalho.
Caso contrário, o PET não alcançará os resultados que Governo
espera do programa!
Lula sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo corre o risco
de receber diploma de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo
Supremo Tribunal Federal (STF). E seu partido pode levar uma surra histórica
nas urnas de 7 de outubro - como mostra o último Datafolha. São as razões do
desespero que levou o ex-presidente a pedir socorro a alguns dos partidos da
base do governo, constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida "à sociedade
brasileira" na qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas
a respeito de seu verdadeiro papel no escândalo do mensalão.
Como não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o
eleitorado ingrato, a nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram
a ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da
trama criminosa do mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário
Marcos Valério pela revista Veja.
A propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve
interesse ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no
episódio merece, de fato, algum "refresco de memória". Quando o
escândalo estourou, Lula declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir
desculpas ao País; depois, em entrevista à televisão em Paris, garantiu,
cinicamente, que seu partido havia feito apenas o que todos fazem - caixa 2;
finalmente, já ungido pelas urnas, em 2006, lançou a tese que até hoje
sustenta: tudo não passou de uma "farsa" urdida pelas
"elites" para "barrar e reverter o processo de mudanças"
por ele iniciado, como afirma a nota.
Por ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio
foi apresentada pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo
selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de
Valdemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo
STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras
legendas: PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais rigoroso
figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota em que PSDB, DEM e
PPS, "forças conservadoras", "tentaram comprometer a honra e a
dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E a classificam
como "fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a
eles pelo eleitorado brasileiro".
Para PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão,
as oposições "tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e
fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que
seus interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao fato de
que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os
de Lula e do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os
adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo superou-se em
alusão explícita ao julgamento do mensalão: "Os partidos da oposição
tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados
em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e
reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".
Nos últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas
traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O
presidente da Câmara dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser
falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha que,
segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada por José Dirceu. O senador
Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela
suspeita de compra de votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E
o deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de
Comunicação do partido, revelou sua peculiar concepção de transparência da vida
pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF como
"uma ameaça à democracia". São esses os combatentes da "batalha
do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de Lula&Cia. Convocação
atendida também pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em
esfuziante entrevista no jornal Valor de sexta-feira.
Se vivo estivesse o Poeta Farias de Carvalho, teria completado no
dia 8 de setembro 82 anos de idade, no mês do seu nascimento, estamos prestando
uma singela homenagem a esse inesquecível poeta, editando neste espaço A Lucta
Social, um de seus mais conhecidos e declamado poema “Meu Canto Novo”, uma
critica social que somente a sensibilidade poética dos grandes imortais, é
capaz de traduzir o sofrimento dos que produzem a riqueza em uma obra literária
que transcende os tempos, porém, muito atual diante das calamidades sociais que
insiste em permanecer “mais vivo e mais cortante, na voz daquela
operária buchuda que está enganando o menino de olhos fundos: “DORME, FILHINHO,
DORME, TEU PAPAI VAI TRAZER DOCES”“.
Carlos Farias Ouro de Carvalho nasceu em 8 de setembro de 1930, em
Manaus. Tendo sido professor de Português e Literatura Brasileira do Colégio
Estadual Pedro II, em sua cidade natal, era também orador de grande poder
encantatório, graças ao manejo das palavras e à riqueza dos argumentos.
Jornalista destacado colaborou em diversos jornais de Manaus. Foi Deputado
Estadual e, depois, serviu como funcionário no Senado Federal, em Brasília.
Tendo sido membro fundador e depois presidente do Clube da Madrugada, em
Manaus, estreou na poesia com Pássaro de cinza (Manaus, 1957; reeditado pela
Valer em 2000, no âmbito da Coleção Resgate). Seu segundo livro de poemas foi
Cartilha do bem amar com lições de bem sofrer (Manaus, 1965). Faleceu em
Niterói em 25 de junho de 1997, de acordo com o site ( Antônio Miranda)
MEU CANTO NOVO
Farias de Carvalho
Hoje eu queria escrever um poema
diferente
sem o chiquê das formas elegantes
e a rotina das velhas tradições;
um poema duro, pegajoso, como o
músculo e o suor
dos que constroem os séculos e
carregam todo peso do mundo sobre os ombros;
plantar nele um jardim de cores
tristes
onde rebentem como camélias
pálidas
as caras magras das crianças
sujas
que andam estendendo as mãos
pelas esquinas;
depois, borrá-lo com o vermelho
vivo
do sangue odiento das hemoptises
dos que vivem como cães
abandonados
vomitando os pulmões pelas
sarjetas;
inventar no meu canto, um outro
gólgota,
crucificar Jesus mais uma vez,
para acordar o grande sacrifício
no coração dos homens que esqueceram;
enrolar as estrofes como relhos e
zurzir, não sei quantas mil vezes,