Ellza Souza (*)
Os candidatos a vice ficam só na penumbra esperando a ascenção
quando o titular do cargo não puder exercer a função. Algo inusitado acontece
em Manaus na prefeitura. O titular não pode. O vice também não. Aí vai embora
até chegar em alguém disposto a enfrentar o abacaxi que é administrar a cidade.
Mas talvez um vice assim vai deixar rolar como uma mãe de muitos filhos que não
cuida de nenhum. Muitas vezes não prestamos atenção ao substituto-candidato e
entra cada parceiro, pior que o principal. Fiquei até satisfeita pois o canal
da TV Ufam (Universidade Federal do Amazonas) fez um programa de debates entre
os candidatos à Prefeitura de Manaus onde os vices mostraram as suas faces e um
pouco de seu perfil.
Segundo o jurista Mayr Godoy o vice-prefeito “é o sucessor do
Prefeito em casos de vaga do cargo e o substituto em casos de licença ou
impedimento. O vice-prefeito pode exercer funções relevantes na administração
municipal, sem incompatibilidade, fazendo jus a vencimentos que não se
confundem com a remuneração do cargo, devendo optar por um deles”. Não é
qualquer um que pode ser vice. Precisa de qualidades, de honestidade, de
méritos, de ficha limpa, para tanto já que na política, é tão importante esse
posto quanto o do titular. Um mau vice é capaz de fazer um rombo nas finanças
públicas tão grande quanto o seu parceiro. E por isso me preocupo com quem irá
substituir o prefeito caso seja necessário. E quase sempre é necessário. Por um
motivo ou por outro.
Não temos mais preceitos idológicos saudáveis no Brasil e a
maioria segue um discurso de falsas promessas e baixarias. Os partidos estão
num balaio de gatos e de interesses. Em vista disso temos que ir mesmo pela
pessoa em si, pelas suas atitudes, pela sua trajetória, pelo seu conhecimento e
por quem está à sua volta. Observar a assessoria que cerca o candidato é muito
importante porque existe uma leva de gente em volta do mesmo que só pensa nos
futuros cargos. É horroroso como algumas dessas pessoas “puxam o seu saco” a
céu aberto, à vista de todos, sem vergonha nenhuma.
Como pode o cidadão ter medo de manifestar a sua verdadeira
intenção de voto? E discutir a sua posição política num clima de completa
democracia e liberdade. Isso é coisa de país fundamentalista que vive oprimido
pela violência e pelo poder imposto pela má política. Mas observo que muita
gente não fala o nome de seu candidato com receio da opinião alheia e de um
poder velado que oprime sim os opositores. Como pode uma pessoa emprestar a sua
imagem um tanto desgastada para dar o seu último suspiro político bem longe de
quem o conhece bem: “Na outra encarnação eu nasci em Manaus”. Tenho certeza que
não. Aqui já temos bastante encrenca pra ir acreditando em quem não nasceu aqui
(nessa e muito menos em outra encarnação) e veio apenas “enfeitar” um palanque
de colegas que estão se achando. Aos vices, a minha esperança de dias melhores.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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