Indígenas Guarani Kaiowá sofreram mais um ataque de pistoleiros em
Paranhos, no Mato Grosso do Sul, divisa do Brasil com o Paraguai. Segundo
lideranças que estão no local, na segunda-feira, 10, cerca de 30 homens armados
sitiaram o acampamento, destruíram barracos e roubaram os pertences das
famílias desabrigadas.
A reportagem é de Ruy Sposati e
publicado pelo sítio do Cimi, 10-09-2012.
A Terra Indígena - chamada Tekoha, ou território sagrado, pelos
guarani kaiowá - em questão já foi homologada pelo governo federal, apesar da
desintrusão de não-indígenas da área ainda não ter sido realizada. Este é
segundo ataque em menos de duas semanas no mesmo local, e o quarto desde a
retomada, realizada no dia 16 de agosto.
Em um dos conflitos, um acidente provocado pelos pistoleiros levou um
bebê de menos de um ano à morte. Outro guarani kaiowá permanece desaparecido.
Pela manhã, ao menos 30 homens armados fizeram um cerco ao
acampamento dos indígenas. "Desde a semana passada, os pistoleiros estão
armando um acampamento com telhado de ethernite ao redor da gente",
explica Dionísio Guarani. "Eles tem tudo calibre 12, 38, pistola, bala na
cintura. Hoje de manhã, eles se aproximaram e atiraram pra cima", relatou.
A situação se acirrou durante a tarde, quando a comunidade foi
invadida por dezenas de homens armados. "Chegaram atirando pra cima. Vindo
pra cima. Destruíram dois barracos e levaram tudo. Pra queimar em algum lugar.
Nós gritamos muito". Duas famílias estão desabrigadas, mas, segundo
Dionísio, novas moradias já estão sendo construídas para acolhê-las.
Denúncia
Os indígenas já denunciaram a situação para o Ministério Público
Federal (MPF) - que já havia pedido instauração de inquérito policial para
apurar a morte e o desaparecimento - e a Funai. "Eles estão todos armados,
e nós não. O cara da fazenda tá juntando gente [pistoleiro] aqui. Paraguaio,
brasileiro. Estamos esperando alguma notícia [dos órgãos públicos]".
Segundo Dionísio, Funai, Força Nacional e Polícia Federal ainda não estiveram
no local hoje.
"Os ataques sistemáticos dos pistoleiros revelam a audácia
dos latifundiários e demonstram o seu
evidente menosprezo às normas legais e ao próprio Estado brasileiro. Naquela
região, eles criam, julgam e executam as próprias leis", aponta o
secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cléber
Buzatto. "Mais ainda, todo o conflito
demonstra a inoperância do governo federal para reverter essas crises - e
também uma aparente falta de vontade política em solucionar o
problema". Para o indigenista, há
ali uma situação de trincheira, "uma guerra de um lado só, dos fazendeiros
armados, com um poder público ausente", conclui.
Potrero guaçu
A área em processo de demarcação, retomada pelos guarani em
agosto, sofreu mais um ataque. Dois pistoleiros paraguaios à cavalo abordaram
indígenas, disparando pistolas e ameaçando de morte quem atravessasse a
porteira da fazenda.
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