Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal
de Pernambuco
Mudanças no setor elétrico foram anunciadas na terça-feira (11/9)
no Palácio do Planalto, com toda pompa e ampla divulgação midiática, na
presença das representações de diversas associações dos segmentos de geração,
transmissão e distribuição de energia, de representantes dos consumidores
industriais e dos usuários residenciais, ministros de estado e autoridades da
república.
Segundo o governo federal, as medidas a vigorar a partir de 2013,
permitirão baixar ao menos 16,2% o preço da eletricidade para os consumidores
residenciais, e em até 28% para as industrias, dependendo do segmento. Tais
reduções viriam da prorrogação das concessões na geração, transmissão e
distribuição; e na redução e mesmo extinção de encargos setoriais a todos os
consumidores de energia elétrica.
Baixar a tarifa de energia elétrica era uma medida reclamada há
algum tempo por toda sociedade brasileira, visto que uma das promessas
realizadas no período de privatização do setor não foi cumprida, de que haveria
a modicidade tarifária. O governo poderia/deveria ter reduzido o preço da
eletricidade há muito mais tempo.
Sem duvida a redução do custo da energia tem repercussões
econômicas, sociais, políticas e ambientais. Coube ao ministro de Minas e
Energia o arroubo, que lhe é peculiar, de sentenciar “são medidas históricas e
representam uma revolução”. Quanto a essa assertiva se tornar realidade, quem
viver, verá.
No campo econômico, muita coisa se adiantou. Por exemplo, redução
da pressão inflacionária, que segundo os cálculos de técnicos da Fazenda, o
corte na tarifa de energia elétrica residencial fará o IPCA, índice oficial do
sistema de metas de inflação, ficar menor no ano, entre 0,5 e 0,6 ponto
percentual. O governo espera que a indústria ganhe mais competitividade para
atuar tanto no mercado interno como externo. Efeito resultante considerado
fundamental, para que o produto interno bruto (PIB) volte a crescer na casa dos
4%. Já o possível repasse ao consumidor dessa queda nos custos dos produtos
manufaturados, as opiniões dos empresários convergem no sentido da incerteza.
Também se aventurou em afirmar que um novo ciclo de desenvolvimento se inicia
no país com tais medidas. E muito mais se profetizou quanto às implicações
econômicas da medida.
A questão social, segundo a presidenta, será atingida
positivamente com a redução do custo das empresas, já que o insumo energia
representa parte substancial das despesas, e assim poderão contratar mais
trabalhadores. E aquelas empresas que estejam em dificuldades, evitarão fazer
demissões. Com relação aos gastos das famílias, se espera que haja uma redução
pelo corte na conta de luz.
O apelo popular destas medidas é muito grande, já que era um
clamor nacional a diminuição nas tarifas. A menos de trinta dias das eleições
municipais, sem dúvida, o momento escolhido para este anúncio contribui
significativamente para dar uma “mãozona” aos candidatos da base aliada. Isto
já se verifica na propaganda eleitoral dos candidatos no radio e na TV. O fato
de que no discurso proferido na solenidade, a presidenta lembrou o racionamento
de energia na era FHC, reforça os efeitos políticos desta ação programada do
governo federal. Naturalmente não foram lembrados os problemas ocorridos e
“apagões” na era Lula/Dilma.
Quanto à questão ambiental, as medidas anunciadas, poderão
resultar em um aumento ineficiente no consumo de energia. Ou seja, sem
priorização na área de eficientização energética, em particular para o setor
industrial, que consome aproximadamente 40% de toda energia elétrica produzida
no país, serão necessárias à construção de novas usinas, para atender ao
aumento da demanda, provocando assim impactos ambientais decorrentes. Ainda
mais quando as propostas governamentais na área de expansão da geração,
priorizam a construção de mega-hidreletricas, termelétricas a combustíveis
fósseis e usinas nucleares.
Portanto, todo cuidado é pouco no crédito de que tais medidas
milagrosas vão resolver os problemas do país. Exemplo recente de acordos na
área fiscal e creditícia com a industria automobilista, mostraram o contrário
do anunciado, pois houve aumento nos preços dos veículos e demissões de
trabalhadores.
O novo plano para o setor elétrico, mesmo reconhecendo que o custo
da eletricidade é um problema importante para o país, é paliativo. Do lado positivo,
elimina de forma definitiva certos encargos incidentes nas contas. Quanto à
renovação das concessões com vencimento previsto até 2017, em troca de redução
de tarifas e de mais investimentos (aumento de créditos do BNDES), vamos ficar
na expectativa. Do lado negativo, enfatiza-se de que não houve mudanças nos
contratos draconianos de privatização, no que se refere ao repasse, via tarifa,
de itens de custos altamente questionáveis e do índice utilizado para o cálculo
do reajuste anual (IGP-M). Sem essas mudanças nos contratos, a cada ano, os
reajustes serão sempre maiores do que os índices de inflação.
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