Poeta Carlos Farias Ouro de Carvalho |
Se vivo estivesse o Poeta Farias de Carvalho, teria completado no
dia 8 de setembro 82 anos de idade, no mês do seu nascimento, estamos prestando
uma singela homenagem a esse inesquecível poeta, editando neste espaço A Lucta
Social, um de seus mais conhecidos e declamado poema “Meu Canto Novo”, uma
critica social que somente a sensibilidade poética dos grandes imortais, é
capaz de traduzir o sofrimento dos que produzem a riqueza em uma obra literária
que transcende os tempos, porém, muito atual diante das calamidades sociais que
insiste em permanecer “mais vivo e mais cortante, na voz daquela
operária buchuda que está enganando o menino de olhos fundos: “DORME, FILHINHO,
DORME, TEU PAPAI VAI TRAZER DOCES”“.
Carlos Farias Ouro de Carvalho nasceu em 8 de setembro de 1930, em
Manaus. Tendo sido professor de Português e Literatura Brasileira do Colégio
Estadual Pedro II, em sua cidade natal, era também orador de grande poder
encantatório, graças ao manejo das palavras e à riqueza dos argumentos.
Jornalista destacado colaborou em diversos jornais de Manaus. Foi Deputado
Estadual e, depois, serviu como funcionário no Senado Federal, em Brasília.
Tendo sido membro fundador e depois presidente do Clube da Madrugada, em
Manaus, estreou na poesia com Pássaro de cinza (Manaus, 1957; reeditado pela
Valer em 2000, no âmbito da Coleção Resgate). Seu segundo livro de poemas foi
Cartilha do bem amar com lições de bem sofrer (Manaus, 1965). Faleceu em
Niterói em 25 de junho de 1997, de acordo com o site ( Antônio Miranda)
MEU CANTO NOVO
Farias de Carvalho
Hoje eu queria escrever um poema
diferente
sem o chiquê das formas elegantes
e a rotina das velhas tradições;
um poema duro, pegajoso, como o
músculo e o suor
dos que constroem os séculos e
carregam todo peso do mundo sobre os ombros;
plantar nele um jardim de cores
tristes
onde rebentem como camélias
pálidas
as caras magras das crianças
sujas
que andam estendendo as mãos
pelas esquinas;
depois, borrá-lo com o vermelho
vivo
do sangue odiento das hemoptises
dos que vivem como cães
abandonados
vomitando os pulmões pelas
sarjetas;
inventar no meu canto, um outro
gólgota,
crucificar Jesus mais uma vez,
para acordar o grande sacrifício
no coração dos homens que esqueceram;
enrolar as estrofes como relhos e
zurzir, não sei quantas mil vezes,
a consciência feudal dos
potentados
que o hão de ler, por certo, com
desprezo,
durante a sesta, depois da bóia
gorda
onde engolem guisados ou em
fatias
a vida triste dos que empurram o
mundo,
nos lares, nos mares, nos ares,
nos campos, nas campas, nos
pampas,
e depois de toda uma existência,
de sangue, suor, e pranto e
escravidão,
viram chocalhos de ossos e
terminam
de mão magra a pedir pão.
Quero montar meu poema como um
louco
e sair galopando mundo afora
clarinando mensagens esquecidas,
beijando a mão de pele ressequida
do camponês que anda enchendo a
terra
de sementes, de dor e de
esperanças;
cantar o heroísmo anônimo e
gigante
das mulheres que nunca foram
santas
e andam parindo nas estrebarias,
pobres crianças que ninguém adora
porque já nasceram
implacavelmente
pregadas à cruz de sacrifícios
infindáveis
cada uma delas a lembrar Jesus:
sem lar, sem pão, sem amor e sem
luz.
Quero escrever um poema
diferente...
Para escutá-lo,
ninguém vai precisar de
broadcasting,
basta jogar o ouvido pelo mundo
para ouvir meu poema repetido
no lamento das negras chaminés,
no roncar dos estômagos vazios
e senti-lo, mais vivo e mais
cortante,
na voz daquela operária buchuda
que está enganando o menino de
olhos fundos:
"DORME, FILHINHO, DORME,
TEU PAPAI VAI TRAZER
DOCES"...
Hoje eu queria escrever um poema
diferente...
Farias de Carvalho
Meu avô maravilhoso.
ResponderExcluirMeu avô maravilhoso.
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