sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ninguém de Fora!





“Todos somos responsáveis pela história, por ação, ou por omissão!” Estas eram as palavras de ordem do Senador Teotônio Vilela nos idos do final da década de 70, e inicio dos anos 80.

A luta pela democracia representativa teria seu desfecho, e ampla consolidação, apenas a partir do ano de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Melo.

Naquele momento, o bipartidarismo, expresso pela Aliança Renovadora Nacional - ARENA, e pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB, haviam sido desfeitos e partidos de todas as matizes ideológicas como o Partido dos Trabalhadores -PT, Partido Democrático Trabalhista - PDT, Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, Partido Popular Socialista – PPS, Partido da Frente Liberal –PFL, Partido Liberal – PL, foram surgindo no cenário politico brasileiro, em conjunto com siglas já existentes anteriormente, como o Partido Socialista Brasileiro – PSB, Partido Comunista Brasileiro– PCB, Partido Comunista do Brasil – PC do B,  e  Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, entre outros, proporcionando um verdadeiro arejamento de ideias no seio da politica nacional, que passaram novamente a atuar como protagonistas da história e na luta por uma democracia, que embora movediça anteriormente, fora interrompida pelo golpe de 64, e pela ditadura militar,.

Entretanto, duas décadas depois o balanço não é nada positivo.
 
A proliferação de novos partidos, alcançando mais de vinte e cinco siglas partidárias, atualmente,  em muito pouco contribuiu para a ampliação de uma democracia representativa e digna deste nome. Muito pelo contrário. A ideia de que a politica é feita em nome de uma “governabilidade” ou de uma “governança”, implicando em um vale tudo para conquistar a maioria e a garantia de número de votos para a implantação de politicas do governo no Congresso Nacional, fez com que os partidos se tornassem apenas, e tão somente, moedas de trocas para os governos de plantão e, cada vez mais, se assemelhando uns aos outros, na busca incessante por cargos, e outras benesses,  onde qualquer ideologia fora deixada de lado, aumentado despudoramente os escândalos de corrupção.

Neste sentido, aqueles que anteriormente eram vistos como adversários e mesmo inimigos, passaram a andar de mãos dadas reafirmando apenas a idéia de que “brasileiro tem memória curta”. “Olhar para a frente, e não pelo retrovisor”. É a sublimação de que os antigos algozes não eram tão maus como se pensavam.

Assim, neste caminhar, começa a sobressair o desalento para com os políticos e seus partidos políticos, com as exceções de sempre, e que tem afastado milhões de cidadãos de bem do amplo debate rumo aos verdadeiros interesses nacionais.

É possível ainda crer nesta Democracia representativa onde a obrigatoriedade do voto torna este um rito apenas um cumprimento de um certo “dever cívico” ? Qual alternativa dispõe a população frente a este modelo? Como caminhar para uma democracia, de fato, participativa onde todos opinam, tem vez e votos? Como enfrentar a insuportável idéia de que somos nós que colocamos, com nossos votos, os políticos que “nos representam” e que passamos a odiar? Por que isto ocorre?

Talvez uma mudança radical seja o grande desafio da sociedade brasileira para os próximos anos e, quiçá, para as próximas décadas.

Como paliativos e contraponto a ideia da democracia participativa surgem propostas de um Controle Social e da Transparência na gestão pública. Ledo engano! Embora iniciativas como a da lei de projetos de iniciativas popular e a Lei de Acesso a Informação sejam um inicio, apenas representam migalhas frente ao desejo verdadeiro de se deter o controle das ações dos governos em todas as esferas de poder; onde aplicar o dinheiro que é de todos, quais as prioridades da população neste momento em que a educação encontra-se deplorável, que as filas na saúde são quilométricas, as estradas são uma lastima, a distribuição de renda é horrível, apesar do engodo da Bolsa Família, entre tantos outros problemas que assolam a maioria da população em todos os estados e municípios do país.

Frente a todas estas situações coloco-me uma indagação que insiste em me consumir quase que cotidianamente: A sociedade brasileira, cada homem e mulher, de fato, querem mudança? Me recordo de uma frase de Milton Santos que disse certa vez: “a classe média brasileira não quer direitos, quer sim privilégios”.

Não serão pela manutenção destes privilégios que tornam a concepção de democracia participativa algo que soa distante e quase impossível? Por onde andam os intelectuais que outrora detinham papel de fundamental importância para pensar o país? Por onde andam os sindicatos que sempre estiveram a frente de inúmeras lutas? Por onde andam os mais diversos movimentos sociais, antigas vanguardas de mudanças verdadeiras? Foram cooptados por este sistema que a todos e a tudo engole?

Creio que somente uma verdadeira e ampla democracia participativa possibilite não deixar “Ninguém de Fora” na construção desta sociedade que alvejamos e pela qual sonhamos um dia.

Como diria Darcy Ribeiro: “já passo sentir na pontinha dos dedos esta utopia se concretizando”. Basta querermos. Mas, de fato, queremos todos?

São Gabriel da Cachoeira- AM, Julho de 2012

Carlos Augusto Santos
UBE 3782

Peço apenas que leiam, reflitam e divulguem!

Um comentário:

  1. Fantástica análise política você fez, Carlos Augusto Santos. Na verdade, o excesso de partidos políticos causou, também, o excesso de escândalos políticos. Não estou defendendo o tempo em que meu sogro, o advogado Francisco Guedes de Queiroz, exerceu por 26 anos o mandato parlamentar consecutivamente e morreu pobre embora fosse advogado, ter exercido interinamente a vice-governança, assumido a presidência da assembléia, depois nomeado para o Tribunal de Contas dos Municípios, enfim. O que ele deixou? Nada! A casa que ele admitiu pelo SFH foi quitada com sua morte. Hoje, faz-se conchavos mesmo antes de se chegar ao poder, infelizmente. Está podre a nossa política e não vejo qualquer remédio para curá-la porque o voto continua sendo obrigatório e não do livre convencimento do eleitor! Uma pena!

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