Por
Jornalismo Carlos Costa
“Comecemos por atacar as políticas sociais focalizadas na pobreza
e a ideologia neoliberal que as sustenta voltando, também, os olhos
inquiridores para os verdadeiros beneficiários da generosa assistência do
Estado em meio à atual crise estrutural do capital: empresários e banqueiros
que, ao menor sinal de prejuízo financeiro nos seus negócios, são prontamente
socorridos com transferências de vultosas somas de dinheiro do povo, do qual a
maioria é trabalhadora e certamente inclui os beneficiários do Bolsa Família”.
Essa frase consta em um documento dirigido a Assistentes Sociais,
pela professora Potyara Pereira, mas merece uma profunda reflexão e discussão
no seio da categoria.
Também, embasado em muitos teóricos, eu, como assistente social,
jornalista e presidente por duas vezes da Comissão Estadual de Emprego, também
entendo que “...os beneficiários do PBF preferem se acomodar como clientes
passivos do benefício em dinheiro recebido (que, diga-se de passagem, não chega
a um salário mínimo) do que se inserirem no mercado de trabalho formal”. Mas o valor é superior a acordar de
madrugada, enfrentar um dia todo de trabalho, depois de mais de uma ou duas
horas andando em ônibus superlotado, enfrentar o risco do desemprego temporal.
Por quê? É melhor receber os benefícios do Programa Bolsa Família. Ele é certo,
não possui riscos e é ofertado de “mão beijada” pelo Governo Federal!
Contra esse documento dirigido a Assistentes Sociais, pela
professora Potyara Pereira, graduada em Serviço Social na turma de 1965, mestre
e doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília – 1976/87 e PHD em
Política Social pela Universidade de Manchester/UK (91/92) e, ainda, graduada
em Direito na turma de 1974, criticando a Rede Globo de Televisão, por exigir
formalmente um direito que é de todos, o de acesso à informação, em documento
divulgado aos profissionais Assistentes Sociais, tenho algumas ponderações, com
todo o respeito à mestra, mas escrevo sobre a prática que vivi no dia-a-dia:
Discordo de parte do documento da emérita professora Potyara
Pereira, comete um equívoco, sério e que merece mais atenção dos gestores das
políticas públicas de inclusão social:
1. No Programa de
Transferência de Renda do Brasil – o Bolsa Família (PBF) - realmente falta
alguma coisa que determine ou oriente o direcionamento ao mercado de trabalho
para que a qualificação das pessoas que recebem o Bolsa Família, pois sem
qualquer critério nesse sentido, elas estão se beneficiando do Bolsa Família e
de todos os outros que objetivam a transferência de renda, praticados pelo
Governo, meritório e necessário, por certo, mas sem essa exigência que
considero necessária.
A função da imprensa é divulgar a verdade.
Faltam mesmo profissionais qualificados no mercado de trabalho.
Também, discordo da professora Potyara Pereira, quando afirma “que
não devamos ficar discutindo sobre a ponta do iceberg” mas “dar um mergulho mais fundo na problemática
que contempla os programas de transferências de renda condicionadas da
atualidade, para descobrirmos o que não é aparente, isto é, está submerso“.
E, nesse “mergulho mais fundo” que a professora Potyara Pereira
propôs a todos os profissionais, me fez ver que existe excesso de emprego e
falta de mão-de-obra qualificada para ocupá-las, tudo porque o problema não
está nesse ângulo de visão e, sim, no fim de todas as Escolas
Profissionalizantes que existiram há pouco e os jovens conseguiam emprego
rápido, fácil e o mercado absorvia bem os técnicos formados em análise
laboratorial, química, magistério, por exemplo.
Temos que discutir sim, professora Potyara, também, a ponta do
iceberg, porque é nessa ponta que encontraremos a verdadeira raiz do problema
principal, ou seja, é na parte submersa do “iceberg”professora - atualmente
pesquisadora colaboradora da Universidade de Brasília, liderando o Grupo de
Estudos Político-Sociais - POLITIZA, registrado no Diretório de Pesquisa do
CNPq - que encontraremos a origem, a raiz de todo o problema da falta de
mão-de-obra: o fim das Escolas Profissionalizantes!
Com meu mais profundo respeito e por ter lido vários livros seus,
discordo da doutora quanto à acusação à Rede Globo, que está somente constatando
uma realidade: excesso de ofertas de trabalho e falta de mão-de-obra
qualificada em várias áreas, até em serviços domésticos. Ainda bem que a
professora Potyara Pereira deixa claro que o programa de transferência de renda
precisa de alguns ajustes e que ele não está imune às críticas, como de resto
nada está.
Arrematando o documento dirigido aos profissionais da Assistência
Social, a professa confirma que “nos
últimos cinco anos, o governo brasileiro tem se esforçado para inserir os
beneficiários do Bolsa Família no trabalho formal, especialmente nas obras da
construção civil do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas, a
realidade tem mostrado que tais beneficiários carecem de preparo básico (físico
e profissional) até para o exercício de trabalhos aparentemente de baixa
qualificação.”
Para mim, isso basta!
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