sexta-feira, 16 de julho de 2010

Inpa traz especialista para debater ética no uso de animais em pesquisas científicas

Manaus - O uso de animais em pesquisa, do ponto de vista ético, será tema de palestra na próxima terça-feira, às 14h30, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O tema, “Importância da ética no uso de animais em pesquisa”, será aborado pelo professor e pesquisador Marcel Frajblat, Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e membro do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Concea).

Organizado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua) do Inpa, o evento traz para o debate um dos temas mais polêmicos na ciência. De um lado, estão os defensores da prática, que alegam falta de alternativas viáveis. De outro, os opositores, que não concordam que animais sejam utilizados como cobaias. A discussão sobre limites éticos desse uso é recorrente na comunidade científica.

O convite ao professor Marcel Frajblat é um reconhecimento à sua experiência na área de ciência em animais de laboratório. Doutor em Fisiologia da Reprodução pela Cornell University (EUA), ele vai ao Inpa para falar sobre procedimentos legais no uso de animais em pesquisas e também para uma espécie de “lançamento” da Ceua na instituição, segundo informou a pesquisadora Vera Silva, presidente da comissão.

“Nós queremos dizer aos colegas e alunos que a Comissão de Ética no Uso de Animais já existe no Inpa, que nós estamos aqui. O professor Frajblat vem para nos orientar sobre como atuar, afinal, somos aprendizes nessa questão. É uma espécie de lançamento para a comunidade do Inpa, ou seja, a nossa ideia é de que a palestra mostre a importância de se ter uma comissão como esta aqui ”, observou Vera Silva.

A Ceua foi criada por portaria em setembro de 2009, mas só foi instituída em março deste ano. Ela vem atender à exigência da Lei Arouca, que disciplina a criação e utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica em todo o território nacional, por meio do Decreto nº 6.899, publicado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) no Diário Oficial da União do dia 15 de julho de 2008.

“Tudo é muito novo aqui. Tivemos que pensar na estrutura da comissão, elaborar regimento, formulários. E é claro que há uma certa resistência de nossa parte, porque sempre trabalhamos sem regulamentação, e, de repente, vem e você tem que mudar hábitos antigos. Mas reconhecemos a importância desse processo evolutivo bastante significativo na ética com uso de animais em instituições”, afirmou a presidente da Ceua.

Segundo Vera Silva, a experiência do Frajblat será fundamental para a consolidação da Comissão do Inpa. “Queremos saber se estamos no caminho certo. Por ser novo, esse trabalho é um desafio e ao mesmo tempo exige muita responsabilidade. Até para publicar em grandes revistas internacionais, o pesquisador terá que ter sua pesquisa aprovada por comissões de ética”, explicou a pesquisadora.

A palestra de Marcel Frajblat no Inpa começa às 14h30. Segundo Vera Silva, alem da comunidade do Inpa, também estão convidados professores, pesquisadores e alunos de outras instituições que trabalham com animais, como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

A presidente da Ceua adiantou que, em breve, o regimento da comissão e os formulários para os projetos de pesquisa na instituição estarão disponíveis no site (www.inpa.gov.br).

Cobaias

Dentre as principais questões que envolvem as pesquisas com animais está o seu como cobaias. A discussão ganhou expressivo debate na mídia em 2007, quando o Nobel de Medicina foi concedido aos cientistas Mario Capecchi, Oliver Smithies e Martin J. Evans. Eles receberam o prêmio pela criação de uma técnica que permite simular algumas doenças em camundongos, de modo a identificar o efeito de certos genes sobre a saúde humana.

No Brasil, não há dados sobre o número de animais utilizados em estudos. Dados do governo norte-americanos estimam que são utilizadas de 17 milhões a 23 milhões de cobaias todos os anos nos Estados Unidos, onde a produção científica é mais intensa. Nos países da UE (União Européia), esse número fica em torno de 10 milhões anuais.

O Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) é uma das instituições que estabelecem as regras e limites para o uso dos animais para pesquisas no país. Entre as normas está a aplicação de analgésicos ou anestesias que aliviem o desconforto das cobaias durante o procedimento. Elas devem crescer e se desenvolver em ambientes seguros, limpos, com temperatura e umidade adequadas.

Além de oferecer dignidade ao animal, essas condutas também servem para garantir a exatidão da pesquisa. É que o resultado do experimento pode ser afetado caso a cobaia seja submetida a dor ou estresse. Quando estava à frente do Cobea, Frajblat, defendia o menor número de bichos possível nas pesquisas. "Tem que colocar na balança e avaliar os benefícios que aquele experimento pode trazer para a ciência e os possíveis danos causados aos animais”.

Sobre o Palestrante

Marcel Frajbat é professor de embriologia nos cursos de Medicina e Ciências Biológicas na Universidade do Vale do Itajaí e responsável pelo Laboratório de Biotecnologia da Reprodução. Atua nas Áreas de produção e criopreservação de embriões e gametas de roedores e caninos e fisiologia da reprodução e também na área de ciência em animais de laboratório nos temas bioterismo e bem-estar de animais e laboratório.

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