Osmarino Amâncio, em entrevista ao Comitê Xingu
Vivo (CXV), fala sobre destruição e os danos que Belo Monte vai causar, caso
seja construída, a vida das populações tradicionais na Amazônia. Thiago
Cassiano, militante da ANEL, entidade componente do Comitê Xingu Vivo.
Osmarino Amâncio Rodrigues |
Xingu Vivo para Sempre
Nascido em Brasiléia - AC, fronteira entre Bolívia e o Brasil, Osmarino Amâncio Rodrigues, iniciou sua vida política na década de 70, época em que ocorreram as grandes migrações da região sul e centro-oeste para a região amazônica, com intuito de estabelecer o desenvolvimento e o progresso na região, que diziam que a Amazônia era um vazio demográfico que deveria ser ocupado pela pecuária, agricultura, mineradora, madeiras e etc. Entretanto essas migrações não levaram em consideração a presença dos povos da floresta (seringueiros, índios, quebradores de coco de babaçu, castanheiros, ribeirinhos, pequenos agricultores) que habitavam a região, e já praticavam em suas atividades como meio de subsistência. Nesta mesma época surge um movimento iniciado pela igreja que defendia a teoria da libertação, nesse momento Osmarino passou a ser uma das lideranças no movimento. Cinco anos depois, junto com Chico Mendes, Wilson Pinheiro, Jesus Matias e outras lideranças do movimento seringalista fundaram o primeiro sindicato dos trabalhadores rurais da Amazônia em Brasiléia – AC.
Nascido em Brasiléia - AC, fronteira entre Bolívia e o Brasil, Osmarino Amâncio Rodrigues, iniciou sua vida política na década de 70, época em que ocorreram as grandes migrações da região sul e centro-oeste para a região amazônica, com intuito de estabelecer o desenvolvimento e o progresso na região, que diziam que a Amazônia era um vazio demográfico que deveria ser ocupado pela pecuária, agricultura, mineradora, madeiras e etc. Entretanto essas migrações não levaram em consideração a presença dos povos da floresta (seringueiros, índios, quebradores de coco de babaçu, castanheiros, ribeirinhos, pequenos agricultores) que habitavam a região, e já praticavam em suas atividades como meio de subsistência. Nesta mesma época surge um movimento iniciado pela igreja que defendia a teoria da libertação, nesse momento Osmarino passou a ser uma das lideranças no movimento. Cinco anos depois, junto com Chico Mendes, Wilson Pinheiro, Jesus Matias e outras lideranças do movimento seringalista fundaram o primeiro sindicato dos trabalhadores rurais da Amazônia em Brasiléia – AC.
CXV: Osmarino, durante
séculos os recursos naturais da Pan-Amazônia tem sido explorado por poderosas
empresas nacionais e transnacionais. São grandes projetos de monocultivo,
exploração mineral e hídrica, no Equador, no Peru, na Bolívia e no Brasil,
entre outros. Qual a sua avaliação sobre esta situação?
Osmarino: Eu acho que essa é uma
das consequências que tem levado ao genocídio de populações tradicionais e de
um pessoal que tem uma verdadeira proposta de desenvolvimento, que é os
indígenas, seringueiros, quebradores de coco de babaçu, ribeirinhos e etc. Nós
já estamos lá há muitos anos, há séculos, e a gente sempre viveu bem no meio da
floresta, sem ter energia elétrica, sem ter água encanada. A gente sempre
manteve esta floresta em pé. Estes projetos a consequência deles é o extermínio
de grandes biomas, no Andes, no Peru, que ta sendo detonado pelas madeireiras e
hidroelétricas. Vão ser destruídos com finalização da BR do pacífico. Os
projetos dos aeroportos, dos portos que vão garantir a exportação da madeira,
da soja, do etanol. É um projeto articulado pelo capitalismo internacional para
a acumulação de riqueza nas mãos de poucas pessoas. Essas barragens, por
exemplo, nós não vamos em hipótese alguma ser beneficiados com a energia que é
feita pela barragem de Santo Antônio, do Jirau, Belo Monte, pelas barragens que
estão sendo feitas no Peru, na Bolívia e etc. São barragens que estão sendo
feitas para garantir que essas grandes empresas continuarão poluindo os rios,
distroçando o potencial natural através do plantio de monocultivo, da extração
de madeira, extração do minério, assim como a Vale do Rio Doce faz, abrindo
crateras e mais crateras, envenenando rios com mercúrio, exportando nossas
matérias primas. Então, pra nós isso não é sustentável. Esses grandes projetos
de expansões acabaram com milhares de espécies de plantas e animais, destruíram
com sítios arqueológicos milenares, jogaram milhares de pessoas na rua da
amargura. Belo Monte é mais um exemplo disso, foram 30 bilhões de reais tirados
da educação, saúde, saneamento, moradia, habitação, são recursos que estão
sendo jogados para enriquecer ainda mais o grande empresariado. São projetos
destruidores de toda a nossa cultura, o extermínio de um povo que deu exemplo
de como viver sem dinheiro de banco, sem necessitar de muitos recursos, que se
eles tivessem o mínimo de atenção não tem lugar melhor de se viver se não no
meio da floresta.
CXV: O governo Brasileiro
tem investido na construção de grandes projetos de infra-estrutura, são
estradas, aeroportos, hidrovias, e hidroelétricas, entre outros, tudo isso para
atender indústrias e mineradoras que por décadas vem degradando o meio
ambiente. O PAC é o carro chefe dessa política brasileira. Como você vê essa
situação?
Osmarino: O PAC é outro projeto
que foi implementado para garantir que o grande empresário, as grandes
multinacionais, obtivessem grandes lucros. E essa política na Amazônia não está
solta, faz parte de uma grande engrenagem que o governo dirige, e isso é uma
forma de dar continuidade, ou melhor jogar o capitalismo com todas as suas
garras numa região em que, por si só, o capitalismo ainda não tinha chegado com
todas suas forças, que é a região da Amazônia. E isso só era possível ter uma
logística se apresentasse um governo que garantisse esses investimentos. Isso
começou com FHC e o Lula teve muito mais capacidade de se vender, com muito
mais facilidade de trair uma proposta de reforma agrária, que a gente tanto
colocou esperança, em um operário que quando chegasse ao poder iria trabalhar
para o camponês, para o estudante, para a classe trabalhadora. Por que ele
passava essa impressão pra nós. O que o Lula fez quando saiu, deixando a
mensagem de que os usineiros que são os que mais detonam, são os grandes
heróis. Foi no governo dele onde a terra ficou mais concentrada nesse país.
Então quer dizer o PAC vem com esse objetivo de fortalecer o capitalismo nesse
bioma da Amazônia, no bioma do Cerrado, e no bioma dos Andes, por que são
biomas muito complexos. E com isso o objetivo de PAC é destruir todo nosso
potencial natural em nome do crescimento, em nome de aumentar o bolo pra depois
dividir, e divide-se apenas pra meia dúzia de grandes multinacionais.
CXV: No rio Xingu está
sendo construída a terceira maior hidroelétrica do mundo, Belo Monte. Essa
hidroelétrica vai expulsar mais de 40 mil pessoas de suas casas e terras,
impactar diretamente quatro áreas indígenas, secar 100 km do rio, custar mais
de 30 bilhões de reais aos cofres do governo, tudo isso para gerar energia para
as grandes indústrias do centro-sul e mineradoras da região. Qual a sua opinião
sobre a construção de Belo Monte?
Osmarino: primeiro que Belo
Monte é uma agressão a uma forma de vida, então eu gostaria de mandar mensagem
para todos que estão se opondo a construção de Belo Monte, porque na minha
região nós já vimos esse filme na construção de uma BR chamada Transamazônica -
317 e agora a BR do Pacifico. A BR 317 expulsou 50 mil famílias só do Acre, dos
seringais, jogou na rua da amargura. Esse pessoal foi para a Bolívia cortar
seringa e quebrar castanha. Além disso, expulsou mais 80 mil famílias para as
periferias das cidades. Então, são projetos que vem sendo elaborados pelo
sistema capitalista e a gente tem que entender que sistema como esse tem que
ser levado em consideração em todas as nossas discussões e que ele precisa ter
um combate, não dá pra nós combatermos a barragem do Belo Monte sem combater os
grandes empresários, sem combater o Jader Barbalho, sem combater o PSDB, sem
combater o PT. Esse pessoal dá logística para o grande capital, são os grandes
mentores desses projetos de expansão. E o que eu acho dessa barragem é um
recado pra nós se mobilizar, se organizar e saber que com a direita não se tem
um projeto de vida, com o capitalismo se fortalecendo com esses projetos, nós
vamos ter barbárie, vai ser o desemprego, a violência, a miséria a
prostituição, o narcotráfico disputando a juventude. Então, eu acho que a gente
tem que adquirir a consciência de que esse sistema é um sistema defasado. E o
que é bom para o governo, é bom para as indústrias, para o agronegócio, para as
empreiteiras, mas não é bom para o professor, para o aluno, para a dona de
casa, para o trabalhador da construção civil. Por que hoje nos estamos vivendo
de bolsa família, de esmola do governo, para poderem fazer o que bem entendem e
a população baixar a cabeça e aceitar numa boa. E isso não é sustentável você
viver de bolsa. Além da aprovação de Belo Monte, vem acompanhado de outros
projetos, como é o caso do mercado de carbono, do REDD*, do fogo zero e em
contra partida você não vê investimentos em educação. E o país tem tecnologia e
dinheiro para evitar o aquecimento global, que não é culpa dos índios, não é
culpa dos seringueiros, não é culpa dos quebradores de babaçu. É culpa única e
exclusivamente desse sistema que impõe os grandes projetos sem levar em
consideração as consequências graves que vai acontecer e irreparáveis com a
construção de Belo Monte. Você não respeita a natureza e a natureza vai se
vingar disso futuramente, e nós vamos ter que pagar um dia por isso. Agora, nós
não deveríamos pagar por isso, como os companheiros que estão contra Belo
Monte, vão pagar por algo que não foi eles que fizeram e hoje nós temos que
levar a julgamento a todos os responsáveis pela barragem de Belo Monte. Nós
temos que levar esse povo, a um júri para que eles possam pagar pelas
consequências irreparáveis. E isso só tem uma forma, se organizar, organizar as
oposições sindicais, organizar os movimentos revolucionários nesse país,
organizar a luta pela reforma agrária, lutar pela educação de qualidade, pela
saúde de qualidade, e isso só vai ser possível quando você não tiver
preocupação com aumento do PIB, equilíbrio das bolsas de valores e etc. Se
investir em educação o povo não vai aceitar isso. E os nossos governantes não
querem isso, por que um povo com educação não aceita essas falcatruas. E por
falar em educação, acho que os nossos governantes também não receberam educação
por que não respeitam que a harmonia entre humanos e a natureza tem que ser
trabalhada e respeitada e eles não estão levando isso em consideração.
*REDD:
(Reduce
Emissions for Deforestation and Degradation), ou Redução de Emissões para o
Desmatamento e Degradação.
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