Ellza Souza (*)
Estive num evento no Parque do Idoso e o que vi me deixou em
dúvida quanto à velhice, aquela velhice que conhecemos de uma pessoa encurvada,
triste, solitária, sentada numa cadeira de balanço. De cara passei a paquerar
um velho magrinho, de calça jeans, camiseta branca, sandália havaiana azul,
óculos e boina, que rodopiava harmoniosamente no salão. A festa que acontece
todas as quintas teve início às dez horas de uma clara manhã de muito
calor. No salão dançavam alguns casais e
a mulherada que animada não precisa de par para dançar e se espalhavam soltas
pelo lugar. Houve apresentação de muitos cantores, todos, homens e mulheres
frequentadores do Parque.
No projeto “Seresta, Prosa e Poesia” tem música, dança, poesia, canto e nessa
quinta, dia 18, aconteceu no local o lançamento do livro de Elisa Bessa chamado
Histórias para Minha Tia Dormir. A animação daquelas pessoas já maiores de
idade não tem limites e me lembrou os tempos das manhãs de sol do São Raimundo
Esporte Clube no bairro do mesmo nome, quando eu ficava no janelão do lado de
fora do clube só apreciando os afoitos casais que rodopiavam no salão. Nunca
aprendi a dançar mas adoro festa nem que seja só pra olhar e escutar um bolerão
ou samba que era o que mais rolava na serenata do parque.
Peguei o velhinho na passagem e perguntei sua idade. Ele vacilou
um pouco e respondeu: meia cinco. Duvidei um pouco mas falei pra ele que havia
gostado de sua performance. Quando parou a banda de música e ficou somente o dj
tocando, o “velhinho” sentou ao meu lado na mesa em que eu estava e comecei a
fazer perguntas. Ele confirmou ter apenas 65. Pedreiro aposentado, viúvo, mora
nas proximidades, 6 filhos e segundo me informaram é mais conhecido por
“Gasparzinho”. Ele me contou que ao se aposentar com um salário mínimo e depois
que sua esposa faleceu achou que nada mais lhe restava a fazer e vivia em casa
triste e calado. Um dia resolveu visitar o Parque e nunca mais parou de dançar
com aquela mulherada animada e incansável. O Gasparzinho tem um jogo de cintura
e um molejo que chamou a minha atenção logo de cara. Ele reviveu com a dança, a
amizade, a alegria daquelas pessoas que estão longe de serem consideradas
idosas. Vi pessoas maduras, alegres, saudáveis, felizes. Vi a vida que segue.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPM/UFAM.
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