O último programa “Profissão Repórter” do dia 10 de julho,
apresentado pelo repórter Caco Barcelos, pela Rede Globo, abordou o tema do
“trabalho infantil”, mostrando os ângulos polêmicos da questão. Segundos dados
apresentados durante o programa, ainda existem quase 2 milhões de crianças
entre 10 e 15 anos que trabalham para ajudar no sustento de suas famílias. Mas,
há casos e casos e, em muitos, o Estado Social não está sendo capaz de resolvê-los
como poderia e deveria fazê-lo!
Mas como sempre, todos os fatos devem ter mais de uma versão e
tenho a minha também. Eis a minha, baseada na vivência prática do dia-a-dia:
Desde que a criança estude e trabalhe, mas não troque o livro e o
caderno só por trabalho, sou favorável. Contudo, se o menor abandonar a Escola
para viver só do trabalho, sou contra; desde que o pai desse menor tenha
qualificação, emprego e renda para sustentar sua família dignamente. Mas como
resolver essa equação se o Governo tem instrumentos nas mãos para qualificar o
pai da criança e não o faz?
A criança deve ter escola para frequentá-la, porque é um direito
da criança e um dever do Estado. Contudo, nesse particular, faltam escolas para
as crianças e a culpa também é do Governo que não se estruturou para fazer
cumprir o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PET. Como retirar
menores que trabalham e estudam com dignidade, se seus pais não estão
qualificados para o trabalho?
Comecei a estudar e a trabalhar vendendo picolés também aos dez
anos de idade. Depois, vendi jornais, cascalho, velas em porta de cemitérios,
sem abandonar a escola e, caminhava 500 metros para chegar ao Grupo Escolar
Adalberto Valle, pela manhã. No horário da tarde, vendia picolés ou outras
coisas necessárias – bolos, cascalho, jornais etc.
Entrei para a Faculdade, sempre trabalhando. Como assistente
social, integrei a Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil da Delegacia
Regional do Trabalho, mas sempre relativizei o trabalho infantil, considerando
e respeitando alguns critérios: o estudo sempre vindo em primeiro lugar.
Durante as reuniões da Comissão, se um membro do Ministério
Público prometesse processar pais de crianças por abandono intelectual, sempre
procurava me aprofundar na investigação da situação e, geralmente, constatava
que a Escola ficava longe, tinha que pegar mais de um ônibus, a família era
pobre e dependia do trabalho do filho para ajudar nas despesas. O aluno
desistia da Escola, passava só a trabalhar porque o Governo que os impede é o
mesmo que não dá qualificação para seus pais.
Depois desse levantamento, sempre me questionava: por que mesmo
existindo no ECA, o direito à criança ter uma Escola, esse direito não era
cumprido? Por que a criança, tendo o
direito de estudar nas proximidades de sua residência, nenhum membro do
Ministério Público ingressa com ação pública contra o Estado para obrigá-lo a
cumprir o ECA, determinando que a Escola fique o mais próximo possível de onde
a criança estudará?
Por que quase tudo o que está previsto como obrigação do Estado no
Estatuto da Criança e do Adolescente não é cumprido como deveria ser?
Mesmo como assistente social, serei sempre a favor do trabalho
infantil honesto, não degradante, humilhante ou escravo, porque também sou
originário de uma família de pais analfabetos funcionais, estudei, trabalhei
desde meus 10 anos, conclui dois cursos superiores, e nunca deixei que o
trabalho redirecionasse meus objetivos. Assim, enfrentei a pobreza! Com
dignidade.
Respeito, contudo, o trabalho da auditora fiscal da Delegacia do
Trabalho, Marinalva Dantas, que combate o trabalho infantil há cerca de 20
anos! Mas não aceito porque para quase tudo existe outra vertente e exceções!
Afinal, ela é servidora do Governo Federal e tem que cumprir sua obrigação.
Entretanto, não aceito radicalismos exagerados!
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