Estátua do Pequeno Jornaleiro, no Rio de Janeiro, inaugurada em
1933 pelo prefeito Pedro Ernesto
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- Faz só morno, mãe! – dizia eu para mãe Josefa, que acordava
sempre comigo!
Um copo de Nescau morno, um sanduiche de pão com ovo, ingerido
sempre apressado, alguns minutos antes da caminhada até a parada e o
deslocamento em um ônibus de madeira da empresa Ana Cássia, era tudo o que eu
precisava para deixar minha casa e
vender jornais nas ruas de Manaus no final da década de 70 e início da
de 80.
Do bairro da Betânia, eu tinha que sair cedo para “apanhar” exempllares nas sedes das redações os jornais
A CRÍTICA, na Rua Lobo D’Almada, JORNAL DO COMÉRCIO, na Avenida Eduardo Ribeiro
e A NOTÍCIA, na Praça Tenreira Aranha, para vendê-los. Colocava-os embaixo do
braço e seguia para a Rua Marechal Deodoro, onde os espalhava no chão, em
frente à sede dos Correios e atendia aos fregueses.
Acordava sempre às 4 horas da manhã para pegar o primeiro ônibus.
Caminhava pelas ruas de um bairro que estava surgindo fruto de um loteamento,
em meio aos pés de cajus e areia, muita areia branca! Não tinha nada: água,
luz, asfalto. O ônibus que pegava fazia sua estação em frente ao Batuque da
“Mãe Zulmira”, no Bairro Morro da Liberdade. Era um pouco distante e fazia o
percurso a pé.
De madrugada, ouvia minha mãe sempre dizendo: “Vá com Deus” e
“Deus te abençoe, meu filho”. Eu respondia: “Fique com Deus a senhora também,
mãe”, mas não sei se ouvia. E ela me
deixava à porta de casa até que eu seguisse caminhando pela Avenida Adalberto Valle, onde morava no número 68,
subisse a ladeira que se iniciava no chamado “Buraco da Vovó”, que terminava
quase em frente ao Batuque da “Mãe Zulmira”, já no Bairro Morro da Liberdade.
Conduzido por um motorista sonolento e eu também, tirava cochilos
vez ou outra, tombando de um lado para o outro em cada curva e tomando sustos a
cada freada. Costumava sentar nas últimas cadeiras de madeira do ônibus, até
que conheci uma moça que trabalhava no Supermercado Agromar e passei a
sentar-me ao lado dela só para conversar e
“espantar meu sono”. Ela sentava
sempre um pouco mais à frente.
Tinha a sorte de sempre pegar o coletivo de um motorista que tinha
o nome João não sei do quê. Ele sentava sempre meio de lado no banco do
motorista, era forte e diziam que tinha sido policial, mas estava aposentado e,
para sobreviver, dirigia coletivos. Mas nunca soube se isso era verdade.
O certo é que depois dos solavancos que levava no desconfortável
ônibus de madeira, descia em uma parada na Rua Luiz Antony todo serelepe, de
bermuda apenas, rumava até a Rua Lobo D’Almada para “pegar” o Jornal A CRÍTICA,
por uma pequena janela que existia, aberta só para esse fim, das mãos de uma
pessoa que atendia pelo sugestivo nome de “Buraco”, talvez porque ele
entregasse os jornais por uma espécie de buraco mesmo, na parede de cimento e
tijolo do jornal, aberto só para esse fim!
Também nunca tive coragem de perguntar como era o nome do “Buraco”
porque todos os jornaleiros mais antigos do que eu, o chamavam assim e eu
passei a chamá-lo também pelo mesmo apelido.
O “Buraco” ainda está vivo e é motorista na Prefeitura Municipal de
Manaus!
Depois, caminhava à Avenida Eduardo Ribeiro e pegava poucos
exemplares do JORNAL DO COMÉRCIO que, embora fosse muito bom na época, vendia
pouco, mas vendia bem aos domingos, mas não sei explicar a razão ou por quais
motivos isso ocorria.
Depois descia até a Praça Tenreiro Aranha e apanhava exemplares do
Jornal A NOTÍCIA, sobre o qual, diziam que “se espremesse saía sangue”. Tudo se
devia às manchetes alarmantes que o genial jornalista Bianor Garcia, conseguia
escrever na sua primeira página.
Tanto os jornais A CRÍTICA e A NOTÍCIA, disputavam a preferência
dos leitores daquela pacata Manaus do final dos anos 70 e início dos 80. Os
jornais A CRÍTICA e A NOTÍCIA se rivalizaram por longos anos na preferência dos
leitores de Manaus, mas, como jornaleiro
sempre vendia bem igualmente aos dois!
Era essa a vida do jornaleiro Carlos Costa, hoje jornalista,
assistente social e professor universitário aposentado por invalidez aos 49
anos de idade!
muito bom companheiro Elson...Carlão Costa é um verdadeiro herói da nossa epoca....assim como todos nós que vivemos naquela Manaus morena dos ano 70 e 80...leitura boa, mande mAIS OU RECOMENDE O TITULO DESSE RELATO.
ResponderExcluirDÁRIO ALVES