Acordou
e chamou a atenção de diversos ministérios brasileiros, em uma sabatina
realizada em Genebra, na Revisão Periódica Universal. O Peru foi um dos países
que mais representou nossos índios, levando aos conselhos da ONU sua
preocupação genuína de que seja paralisada a construção de Belo Monte até que
as comunidades indígenas sejam ouvidas segundo as recomendações da Organização.
Neste
artigo publicado originalmente no site da Carta Maior, Bia Barbosa traz a
notícia que é uma Luz àqueles que buscam o respeito aos homens e à Natureza.
Você pode ler aqui e visitar o site com o
artigo original:
Conselho da ONU alerta Brasil sobre violações causadas por grandes obras
e megaeventos esportivos
Em sabatina realizada em Genebra, delegação brasileira recebeu
recomendações de várias nações sobre a proteção dos direitos dos indígenas na
realização de grandes obras de infra-estrutura. País também foi alertado sobre
remoções forçadas geradas por obras da Copa e Olimpíadas. Governo tem até
setembro para justificar com quais recomendações se compromete ou não.
Bia
Barbosa_Data: 30/05/2012
Nesta
quarta-feira (30), o Conselho de Direitos Humanos da ONU publicará um relatório
preliminar com todas as recomendações feitas ao Brasil por 78 países que
integram o sistema das Nações Unidas. Na última semana, em Genebra, eles
participaram da sessão de revisão dos registros de direitos humanos do Brasil,
que ocorre a cada quatro anos e meio, num processo intitulado Revisão Periódica
Universal (RPU). Todos os 193 países que integram a ONU passam periodicamente
por este mecanismo. Depois de questionado, o país tem o direito de apresentar
as ações realizadas para melhorar a situação dos direitos humanos em seu
território.
A
delegação brasileira que participou da sabatina na Suíça foi composta de vários
ministérios, além de representantes do Poder Legislativo e Judiciário. Foi a
segunda vez que o país passou pela Revisão Universal. Os temas debatidos
resultaram do monitoramento da ONU sobre o país neste período, de um relatório
preparado pelo próprio governo federal e também por contribuições da sociedade
civil brasileira. Ao todo, mais de 50 entidades encaminharam informações ao
Conselho de Direitos Humanos da ONU para contribuir com a avaliação.
Um
dos temas foco de questionamentos dos países foi o impacto das grandes obras
sobre os direitos das comunidades tradicionais no Brasil. O Peru, por exemplo,
cuja população indígena é significativa, apresentou grande preocupação com os
projetos de infra-estrutura desenvolvidos no âmbito do governo federal. A
delegação peruana recomendou que o Brasil realize consultas públicas reais e de
forma apropriada com as comunidades afetadas, sobretudo os povos indígenas,
pela construção de estradas, ferrovias e hidrelétricas.
No
ano passado, o governo federal não reagiu bem ao pedido da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos)
de paralisar a construção da Usina de Belo Monte enquanto não fossem realizadas,
de acordo com os padrões internacionais, consultas prévias às comunidades
afetadas. Belo Monte pode impactar significativamente a realidade de 24 povos
indígenas que vivem na região de construção da hidrelétrica. Para Lucia Nader,
diretora executiva da Conectas Direitos Humanos, “o governo brasileiro reagiu
de forma virulenta, pondo em xeque sua política histórica de cooperação com
organismos multilaterais e com o sistema internacional de direitos humanos”.
Em
Genebra, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos
Humanos, afirmou que o modelo de desenvolvimento do Brasil combina crescimento
econômico com justiça social. “Mas a realidade tem mostrado que essa combinação
não é uma equação perfeita, como temos visto também nas usinas de Santo Antônio
e Jirau”, disse Camila Asano, coordenadora do Programa de Política Externa e
Direitos Humanos da Conectas. A organização contribuiu com a Revisão Periódica
do Brasil enviando documentos à ONU e participando da sessão na semana passada.
“O questionamento dos outros países mostrou preocupação da comunidade
internacional sobre este novo momento do Brasil”, acrescentou.
Para
além das grandes obras, os países também fizeram recomendações enfáticas sobre
a realização da Copa e das Olimpíadas no país. O Canadá, por exemplo,
manifestou preocupação com remoções forçadas. Disse que os megaeventos
esportivos não podem implicar numa violação de direitos das comunidades,
sobretudo as mais pobres. Outras delegações reafirmaram a importância de eventuais
remoções serem feitas de acordo com a lei e garantindo as devidas compensações
à população deslocada, incluindo o acesso à educação, saúde e transporte
público no novo local de moradia.
Organizações
da sociedade civil denunciaram que as obras para a Copa nas 12 cidades
brasileiras em vez de servir para enfrentar velhas necessidades de políticas
públicas estão sendo um catalisador de negócios imobiliários em detrimento dos
mais pobres.
Violações
no sistema prisional e violência policial
Outro tema abordado pelos países foi a política de encarceramento massivo no
Brasil. Hoje, mais de 500 mil pessoas estão detidas no país, muitas delas em
condições desumanas, em locais onde a prática da tortura e os maus tratos são
sistemáticos. Mais de 36% da população carcerária é de presos provisórios, que
ainda aguardam julgamento e podem ficar por mais de 6 meses sem ver um defensor
ou o juiz pela primeira vez.
A
comunidade internacional considera a situação grave e fez algumas
recomendações: que o Brasil coloque pelo menos um defensor público em cada
presídio do país; que garanta saúde às mulheres presas, especialmente as
grávidas; e que coloque em prática o mecanismo nacional de prevenção à tortura,
que permite o monitoramento independente do sistema prisional brasileiro.
“O mecanismo está pendente desde 2008, quando o país ratificou o Protocolo Facultativo da Convenção contra a Tortura da ONU. O governo Dilma também vem se negando, desde fevereiro, a dar publicidade ao mais recente relatório da ONU sobre tortura no Brasil, resultado de uma visita da ONU ao país em setembro passado”, criticou Juana Kweitel, diretora de Programas da Conectas.
O uso excessivo da força e violações cometidas pela polícia militar de São Paulo em episódios como o da chamada Cracolândia e o do Pinheirinho, em São José dos Campos, também foram citados na sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Plano
de trabalho
Depois
de divulgada a lista final de recomendações dos países, o Brasil terá que se
posicionar se aceita ou rejeita cada uma delas. No caso de rejeição, é preciso
justificar os motivos. O processo só deve se concluir em setembro, quando
ocorre a 21a sessão do Conselho de Direitos Humanos. Mas a expectativa das
organizações brasileiras de defesa dos direitos humanos é que o governo brasileiro
aponte seus compromissos antes disso. Parte importante das recomendações vai ao
encontro do que diz o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3).
Será
então o momento de o país definir como concretizará as recomendações
internacionais – via revisão ou aprovação de novas leis e políticas públicas –
considerando que parte das recomendações requer o envolvimento das esferas
estaduais e municipais de governo.
“Todo
o processo da RPU deve ser visto como um meio a mais de aperfeiçoar as
políticas de direitos humanos”, explica Camila Asano. “Agora vem o mais
difícil, que é implementar o que se disse ali”, lembrou. Para Lucia Nader, se o
Brasil pretende ser uma potência e uma democracia digna desse nome, precisa
enfrentar velhas e novas violações aos direitos humanos: “Vivemos um momento de
escolhas. É hora de decidir por um modelo de desenvolvimento em que direitos
humanos não fiquem a reboque de crescimento econômico; de decidir se queremos
continuar a conviver com práticas medievais ou passar a outro patamar.”
Até
a próxima sabatina, no final de 2016, o Brasil pode ser chamado a prestar
contas no meio do caminho sobre o estágio de implementação das recomendações.
Mas esta é também uma recomendação com a qual o país precisará dizer se se
compromete ou não.
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