Ah, que saudades tenho das duas “cidades flutuantes”, que causavam alegrias e que desespero quando avistadas ao longe!
De
tanto meu pai, acordar, na madrugada, para colocar a canoa a salvo das
fortes ondas produzidas pelos dois navios, decidiu puxá-la para a terra
todas as vezes que precisávamos usá-la, por pura necessidade, para
deslocamentos alguém da família à remo pelos rios. Assim, de madrugada,
em torno de 3 horas da manhã, deixamos de acordar para puxar a canoa.
Era apenas para apreciar o suave deslizar dos navios embicando água
para os lados, produzindo fortes, terríveis e desesperadores banzeiros,
que muitos caboclos aproveitavam para “pegar ondas” em pequenas canoas
indo para cima e para baixo, como se fosse um balé sem música!
Ah,
como eram deliciosas e preocupantes a passagem dos dois navios da
Enasa, lindos, grandes, maravilhosos e bastante iluminados. Na mente da
criançada de Varre-Vento, que nunca tinha visto tantas luzes juntas em
um mesmo local, eram apenas duas “cidades flutuantes andantes”,
transportando pessoas com sonhos, alegrias e tristezas.
Como
seriam possíveis tantas lâmpadas, dentro das “cidades flutuantes” de
nossas imaginações, navegando suavemente pelo Rio Solimões? Nunca
tínhamos visto nada daquilo e ficávamos imaginando “como será que
conseguem andar as lâmpadas, acompanhando os navios?” “Ou não
acompanhavam? “Estavam dentro dos navios?”
Eram
perguntas que só comecei a entender as respostas depois que meu pai,
anos depois, colocou luz elétrica em nossa casa, ocasião em que fiquei
gostosos momentos acendendo e apagando uma lâmpada incandescente presa
em um fio branco pendurado na sala, terminando em uma chave redonda
branca com o plug que fazia “tec” quando acendia e “tec” quando
apagava. Fiquei brincando admirado, acendendo para ouvir o “tic-tac” e
observar o filamento da lâmpada transparente acendendo e apagando.
Será
que Thomas Alva Edison, inventor de 2.332 patentes,também chamado de
“O Feiticeiro” ou Menlo Park” sentiu a mesma emoção que tive, quando
acendeu o filamento de sua primeira lâmpada elétrica, pela primeira
vez?
-
Para com isso, meu filho? Você parece um bobo acendendo e apagando essa
lâmpada!! Era meu pai, me chamando à atenção porque eu acendia e
apagava a lâmpada, sempre olhando para o rumo a lâmpada, ouvindo o
gostoso som aos meus ouvidos do “tic-tac”; tudo só para ver o filamento
clareando e depois escurecendo o ambiente.
Não.
Não estava bobo! Só queria mesmo saber como os navios Augusto
Montenegro e Lauro Sodré conseguiam navegar pelo Rio Solimões com tantas
luzes acesas? Será que tinha uma chave única para ligar todas as luzes
ao mesmo tempo?
Mas
nunca saberei a resposta às perguntas, pois minha família não tinha
dinheiro para comprar passagem nas “cidades flutuantes” de minha
imaginação e eles também não paravam em Varre-Vento. Depois de ter
nascido no Morro da Liberdade, retornei para Manaus para estudar, em
1969, em motor regional, todo em madeira! Mas as luzes não me pareciam
iguais aos das “cidades flutuantes” de minha imaginação infantil!
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