Foto: O Jornal. Manaus, 31 Março de 1970 cruzamento da Av. Silves com a rua Maués, Fonte: Blog do Coronel Roberto |
Com
a alegria de um menino que não entendia nada, via o rolo compactador colocando
um manto negro igual à noite, em cima de uma terra antes vermelha como o sangue
que corria nas veias de um garoto observador, achando que o progresso estava
chegando, mas desconhecendo que também causaria destruição de locais que amava
e adorava brincar.
A
poeira da rua que receberia depois seu manto negro prejudicava casas de
moradores e criava dificuldades de respiração até para o gado confinado no
frigorífico Bordon, que existiu no local, onde muitas vezes furtei cajus
enganando o vigia.
Eu
assistia e admirava aquele monte de tratores e carros pipas do Departamento
Estadual de Estradas de Rodagens – DERAM – para cima e para baixo, molhando a
rua, derramando piche e amassando um manto negro em cima de uma brita que
antecedia a todas essas etapas que viriam depois. Para onde foram todas esses
equipamentos, inclusive o DERAM?
A
Avenida Costa e Silva, de onde observava as máquinas em movimento, recebeu esse
nome em homenagem a um dos generais que comandou os destinos do Brasil pós-64,
período difícil na história, mas, ao mesmo tempo, retirou o Estado da incômoda
posiçã de atraso com o fim do período do látex e antes implantação do modelo ZFM, aprovado dez anos
antes.
Só
não sabia que a destruição de belíssimos balneários e igarapés, que cortavam a
cidade, viria junto com o progresso, transformando tudo em lucro e em
especulação imobiliária necessárias, contudo destruindo meus sonhos infantis!
Era
os anos 70 em Manaus e o progresso chegava rápido, com pressa, fazendo com que
a cidade se transformasse em um verdadeiro canteiro de obras, com a abertura de
ruas para todos os lados. Com tristeza, recebi o progresso, mas desconhecia
seus resultados, destruindo meus recantos de beleza, com banhos nos igarapés
serpenteavam em cada curva como se fosse uma cobra.
Depois
de a rua ter sido coberta por uma negra cor de noite, os sonhos infantis de
continuar me divertindo nas ruas de minha adolescência se foram; carros fuscas
apareceram e tudo ficou mais perigoso. Pararam os jogos de bola com o nosso
tradicional “gol das seis”, quando valia tudo na disputa pela bola. Ah,
progresso malvado, destruidor de sonhos e ilusões!
Hoje,
o que vejo são obras que destruíram os sonhos que ainda desejava revivê-los,
mas os igarapés estão poluídos,o lixo emerge com a enchente, balneários
belíssimos, por onde corriam plácidas e brancas águas com areia branca ao
fundo desapareceram, com muitos
sendo aterrados ou transformados em
monstrengos inúteis.
Ah,
máquinas que trazem o progresso, como as odeio hoje porque também trouxe a
degradação de todo um ambiente urbano transformando sonhos em pesadelos,
matando e destruindo ilusões de que o progresso poderia vir aliado à preservação,
o que não ocorreu, infelizmente porque a ganância e o lucro sempre falaraml
mais alto!
Mas
nada disso aconteceu e hoje teimo em registrar minhas frustrações e odiando
tudo o que transforma um barro vermelho compactado em uma cor escura parecendo
à escuridão de meus olhos que ainda vêem pouco, mas ainda vêem!
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