Fonte: Asia Comentada
Para o sociólogo José Pastore, professor de relações do trabalho
da Universidade de São Paulo, Brasil, temos motivo para comemorar e
lamentar o Dia do Trabalho no Brasil: houve queda visível do desemprego,
a renda aumentou, a formalização do emprego avançou muito. Mas continua
a haver muita desigualdade, instituições e legislações trabalhistas
poucos evoluíram, 45% dos brasileiros ainda vivem na informalidade (Folha de S.Paulo, Empregos, 29/04/2012).
Dados divulgados pela rede americana CNN-Report em 28 de abril
último alertam sobre a epidemia de morte de trabalhadores na Ásia,
devido a doenças ocupacionais. Já em 2008, a ILO-International Labor Organisation
estimava que mais de um milhão de trabalhadores asiáticos morriam a
cada ano por doenças ocasionadas por ambientes insalubres,
envenenamentos e falta de assistência apropriada. Ao mesmo tempo, a CBS-News
informa que, pelos recentes estudos, 40 milhões de trabalhadores
americanos (30% da força trabalhadora civil do país) dormem menos de
seis horas por noite. Ao lado da segurança ocupacional, uma boa noite de
sono e descanso ajuda a impulsionar a saúde do trabalhador. Pesquisas
mostram que falta de bem dormir aumenta riscos de diabetes e obesidade.
Canja de frango, sopas, brodos, minestrone, okayu e chicken zohsui: pratos mágicos
É sabido que estresse laboral traz sequelas nocivas para o
trabalhador, em forma de moléstias físicas e emocionais como alterações
cárdio-respiratório-digetivas, transtornos do sono, desmotivação e
alheamento – que podem levar à morte. No Japão, a palavra karoh-shi define isso: karoh=excesso de trabalho, e shi=morte. Karoh-shi é
um acontecimento fatal por sobre-esforço, considerado uma doença
relacionada ao trabalho e ao estresse ocupacional, frequentemente
associado a longos períodos de horas trabalhadas. Antes de atingir tal
extremo, é provável que a pessoa já esteja sofrendo o que lá chamam kakure hiroh –
fadiga físico-mental oculta. Tal fadiga pode ser exacerbada por
problema comum em muitas ocupações: trabalhadores se sentem
subvalorizados ou totalmente desprezados pelo que fazem. É o caso de
donas de casa atribuladas com afazeres e filhos pequenos: sem poder
contar com ajuda extra nem incentivos, desenvolvem cansaço e
desmotivação inexplicáveis que levam a alheamento e tristeza profunda.
O programa Asaichi/Morning Market da TV japonesa NHK debateu, no dia 25 de abril, as causas do hiroh e
como é possível se recuperar dessa fadiga, para além de exercícios
físicos de aptidão, relaxamento ou alongamentos. Pesquisadores em Tóquio
estudaram os efeitos de uma enzima proteica que combate o fator fadiga
(FF) que provoca cansaço, desmotivação e embotamento entre donas de casa
japonesas. É o FFR (sigla em inglês para fator de recuperação da fadiga) imidazol dipeptide – fortemente presente, entre outros, na carne do peito de frango, mais concentrado no sasami, o
filé mignon, parte interna do peito de frango. Na verdade, aves que
voam apresentam maior concentração dessa enzima, pois o fato de
movimentar as asas e os músculos peitorais incentivaria a produção do imidazol. Para tornar o peito de frango mais úmido e saboroso, chefs apresentaram
diversas receitas. O segredo é passar o filé, já temperado, em farinha
de trigo ou polvilho de maisena antes de fritar, grelhar ou cozer. O imidazol dipeptide é realçado se o filé do peito for cozido em ensopados, molhos, picadinhos, curry rice, strogonoff etc..
Para tirar o cheiro de frango, a dica é marinar os filés em caldo de
limão e jogar em água fervente por uns dois minutos, antes do preparo.
Seguindo a dieta do peito de frango, pessoas com esgotamento
físico-mental recuperaram a alegria de viver em uma semana!
Bem faziam nossas avós no interior paulista: quando alguém caía de
gripe ou convalescia de doença, elas caprichavam num bom caldinho de
galinha e legumes, acrescido de arroz cozido ou udon,
macarrãozinho, cappelletti – para levantar até defunto, diziam. As casas
tinham seu poleiro no fundo de amplos quintais, galinhas ciscavam
alegremente na área com seu séquito de galo e pintainhos. Estes logo
viravam graciosos frangos e frangas, até recebiam nomes, adotados que
eram como aves de estimação pelas crianças da família. Canja, sopa, brodo, minestra, okayu, zohsui – cada
família tinha a sua receita de caldo de galinha, com sotaque caipira e
tempero português, espanhol, italiano, ou japonês, para os dias de frio
ou para convalescença de seus doentes. “Gallina vecchia fa buon brodo”, diziam sábias mammas de vizinhas famílias de imigrantes italianos. Mães japonesas muito aprenderam com elas.
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